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10 fevereiro 2011

AGÊNCIAS PRIVADAS DE TRABALHO GERAM ROTATIVIDADE EMPREGATÍCIA

Agências oferecem empregos efêmeros devido à baixa qualificação dos cadastros

Marcelo Pellegrini
Agência USP de Notícias

Estudo desenvolvido na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP traçou as principais características da relação entre as agências privadas de trabalho, cadastradas no Ministério do Trabalho, os demandantes de emprego da região metropolitana de São Paulo, no período de 1998 a 2007. De acordo com o estudo, desenvolvido pelo pesquisador Jonas Tomazi Bicev, neste período, quase 4 em cada 10 pessoas procuravam emprego em agências de emprego.

O estudo – que faz parte da dissertação de mestrado de Bicev e foi orientado pela pesquisadora Nadya Araújo Guimarães, da FFLCH-USP - indicou que cerca de 60% das pessoas que recorrem às agências permanecem no mercado de trabalho formal por dez anos. Porém com uma rotatividade empregatícia muito alta, cerca de 8 vínculos de trabalho em um período de 10 anos.

“Este fato ilustra que as agências de emprego não fornecem empregos duradouros, mas, em contrapartida, garantem a permanência no mercado de trabalho formal”, argumenta o pesquisador Jonas Tomazi Bicev.

Segundo Bicev, a rotatividade verificada no estudo deve-se à característica dos empregos obtidos por meio das agências. “Grande parte das ocupações disponíveis não exige muita qualificação, ou seja, são postos de trabalho fáceis de repor e com uma oferta de mão de obra abundante. Embora atualmente cresça as colocações de nível técnico, a grande maioria das vagas ofertadas ainda se concentram em ocupações auxiliares, como limpeza, portaria ou comércio em grandes lojas”, descreve.

Perfil do trabalhador

O trabalhador que recorre às Agências de Emprego é em geral jovem e de escolaridade intermediária, compreendida entre o ensino fundamental incompleto e médio completo. Porém, ao contrário do que se imagina, apenas 2,8% de seus empregados tinham iniciado sua trajetória de trabalho na agência atual .

Segundo dados da pesquisa, em 2007, cerca de 73,7% dos trabalhadores empregados pelas agências já tinham pelo menos uma experiência anterior no mercado de trabalho e, agora, buscavam uma nova oportunidade. O estudo também revelou que 40,2% dos cadastros são de pessoas entre 18 e 24 anos, saltando para 61,5% caso se considere a faixa etária de 18 a 29 anos.

Em relação à escolaridade, apenas 2,5% da mão de obra oferecida pelas agências possui ensino superior completo. “Os levantamentos do estudo revelaram que as agências ofertam um público, em geral, jovem, com experiência no mercado de trabalho e de escolaridade razoável, já que 60,5% dos seus cadastros são de pessoas com escolaridade entre o ensino fundamental completo e médio completo”, diagnostica Bicev. O estudo também indicou que, em 2007, prevaleceram os empregos de carácter temporário, contabilizando 60,7% dos vínculos.

Trajetória do desemprego

Para Bicev as agências privadas de emprego ganham maior evidência e relevância na operação cotidiana do mercado de trabalho brasileiro, a partir das políticas de abertura comercial e programas de estabilização, levados adiante na primeira metade da década de 1990. Estas iniciativas alteraram profundamente a configuração do mercado de trabalho urbano industrial brasileiro.

“Se por quase três décadas nosso mercado de trabalho tinha sido flexível sem ser necessariamente inseguro a partir dos anos 1990, eleva-se de maneira significativa o tempo de procura de trabalho e a taxa de desemprego total utrapassa os dois dígitos”, relata Bicev.

Nesse cenário, de elevada pressão competitiva, as grandes firmas nacionais encontraram nas agências um instrumento eficaz para ajustar suas contratações às necessidades da demanda e os trabalhadores, por sua vez, buscaram novas oportunidades e uma reorientação de suas trajetórias.

Embora a retomada do crescimento econômico verificado a partir de 2004, durante o Governo Lula, tenha promovido um crescimento dos contratos de trabalho CLT padrão, o emprego temporário e terceirizado também tem crescido num ritmo acelerado. “Isso comprova que atualmente essa estratégia de contratação e uso do trabalho já está enraizada no comportamento do empresariado nacional, sendo imperiosa para a manutenção da competitividade internacional”, relata o pesquisador.