Google
Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

14 fevereiro 2011

VACINA CONTRA A AIDS

Segundo os pesquisadores, uma vacina 70% efetiva aplicada na população em geral resultaria em um impacto mais significativo, interferindo drasticamente na epidemia brasileira pela redução de 92% do número de novas infecções, de 2020 a 2050

Artigo estima efeitos de criação de uma vacina contra o HIV até 2050

Renata Moehlecke
Agência Fiocruz de Notícias

Quais seriam os efeitos do desenvolvimento e implementação de uma vacina contra o HIV, mesmo de eficácia moderada, para a prevenção da Aids no Brasil nos próximos 40 anos? Um estudo epidemiológico realizado por uma equipe do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (Ipec/Fiocruz), em conjunto com o Futures Institute e a International Aids Vaccine Initiative (Iavi), estimou o potencial impacto que a medida teria, no país, na redução do número de novas infecções, mortes e pessoas que recebem tratamento antirretroviral, tendo como base diferentes cenários e grupos de risco. Publicada na revista científica internacional PLoS One, a pesquisa apontou, considerando a introdução de uma vacina no Brasil em 2015, reduções de até 73% no número de novas infecções e de 30% no número de mortes no período que iria até 2050 – quando 80% da população adulta entre 15 e 49 anos estariam imunizados por uma vacina de 40% de eficácia.

Segundo os pesquisadores, uma vacina 70% efetiva aplicada na população em geral resultaria em um impacto mais significativo, interferindo drasticamente na epidemia brasileira pela redução de 92% do número de novas infecções, de 2020 a 2050

“Apesar de o desenvolvimento de uma vacina efetiva contra o HIV ainda estar distante, estudos de modelagem são relevantes e cruciais na preparação de governos para a adoção de políticas quando um imunizante estiver disponível ou candidatos à vacina estejam em estágios posteriores a ensaios clínicos”, afirmam os pesquisadores. “Estratégias de vacinação, mesmo com uma vacina imperfeita, podem ser altamente efetivas e de custo-benefício considerável”.

Segundo os autores, a epidemia de Aids no Brasil continua concentrada em populações de alta vulnerabilidade à infecção por HIV. Embora esta ocorra em pessoas acima de 50 anos de idade, o percentual é menor do que 10%, o que fez os pesquisadores considerarem como grupo de médio risco pessoas de 15 a 49 anos. Nesse sentido, usuários de drogas, homens que fazem sexo com homens, profissionais do sexo e seus clientes, e pessoas que têm mais de um parceiro sexual em um ano são classificados como grupos de alto risco, podendo ser os principais alvos para a suposta vacina.

Com a finalidade de averiguar o impacto do imunizante no curso futuro da epidemia, os pesquisadores, inicialmente, modelaram a epidemia de Aids no Brasil até 2007 e simularam como esta caminharia até 2050, caso permanecessem estáveis as medidas de prevenção e a cobertura de pacientes em tratamento, mantendo, assim, a prevalência do HIV estável ao longo do período. Sem qualquer nova intervenção, a projeção indicou mais de 1 milhão de novas infecções e quase 500 mil mortes, de 2010 a 2050. Porém, em um cenário em que as populações de médio e alto risco fossem vacinadas com um imunizante 40% eficaz, a medida resultaria na redução de 52% do número de novas infecções e de 21% da quantidade de mortes devido ao HIV. “Certamente, uma vacina 70% efetiva aplicada na população em geral resultaria em um impacto mais significativo, interferindo drasticamente na epidemia brasileira pela redução de 92% do número de novas infecções, de 2020 a 2050”, estimam os autores.

“Mesmo uma estratégia orientada para a vacinação de populações de médio e alto risco com uma vacina 70% efetiva, ainda assim, iria produzir uma redução de 74% de novas infecções”.
Outras situações foram avaliadas a fim de verificar a relevância de fatores que podem diminuir ou interferir no impacto da vacina, como comportamentos de desinibição, ou seja, a redução do uso de preservativos, por exemplo, e falhas no alcance e na vacinação de populações de maior vulnerabilidade à infecção pelo HIV. Dois cenários foram considerados para a observação da importância do comportamento de desinibição. No primeiro, o número de novas infecções foi reduzido em 42% (em vez de 73%) quando a população foi vacinada com uma vacina de baixa eficácia e gradualmente diminuiu o uso de preservativos. No segundo, o estudo apresentou até um aumento de 8,5% no número de novas infecções, em uma projeção em que 50% da população de médio e alto risco vacinados imediatamente pararam de usar camisinha.

“O impacto potencial de uma vacina de eficácia moderada, como indicado neste estudo, pode oferecer um poderoso argumento para a relevância de continuar investindo na pesquisa e no desenvolvimento de uma vacina, já que foram mostradas evidências de que esse esforço seria significativamente benéfico para o controle do HIV, mesmo em um contexto de epidemia concentrada”, explicam os pesquisadores. “Além disso, as conclusões do estudo relacionadas ao impacto de estratégias de vacinação podem demonstrar a importância de informar e acelerar discussões a respeito da produção de uma vacina e encorajar a adoção do produto no futuro, além de estimular a discussão sobre as melhores estratégias para atingir as populações mais vulneráveis à infecção pelo HIV.” Os pesquisadores ressaltam que, na vigência de uma vacina imperfeita, as medidas de prevenção deverão ser mais reforçadas, sob o risco de aumentarem ainda mais as novas infecções, até porque o uso sistemático de preservativos também reduz a incidência das outras doenças sexualmente transmissíveis.