ESTRADAS AUMENTARAM DESMATAMENTO EM RONDÔNIA
Por
Antonio Carlos Quinto - acquinto@usp.br
Agência
USP de Notícias
Pesquisa
realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em
Piracicaba, constata que no estado de Rondônia as proximidade das estradas é o
principal fator que estimula o desmatamento. O estudo também analisou como a
fragmentação da floresta influenciou a extinção local de espécies de mamíferos
de médio e grande porte, e alterações na qualidade da água dos riachos locais.
[Imagens de satélite da família
Landsat revelam a expansão do desmatamento entre os anos de 1975 e 2011]
As
análises e levantamentos compõem a tese de doutorado do ecólogo Rodrigo Anzolin
Begotti. “Ao todo foram cerca de quatro anos e meio de estudos e análises de
uma área de aproximadamente 55 mil quilômetros quadrados, por meio de imagens
de satélite da família Landsat referentes ao período de 1975 a 2011”, conta. A
área estudada, segundo o cientista, representa cerca de 23% de todo o estado de
Rondônia. Ali existem mais de 12 mil quilômetros de estradas de terra e
pavimentadas. “Vale lembrar que o desmatamento de florestas tropicais é uma das
principais fontes de emissão de gases do efeito estufa”, ressalta.
Begotti
também avaliou como o que restou da floresta influenciou na qualidade da água
dos riachos. “Neste caso, analisamos 21 parâmetros físico-químicos da água
relacionando-os com a dinâmica do desmatamento, o arranjo espacial e a
quantidade de floresta remanescente, além de características físicas das áreas
drenadas por esses corpos d’água”, descreve. As análises laboratoriais foram
realizadas no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), em Piracicaba.
Com esses dados, o pesquisador conseguiu constatar, por exemplo, que a
proporção de floresta até a distância de 100 metros dos riachos contribuiu para
reduzir as concentrações de alumínio, fosfato, nitrogênio e sedimentos em
suspensão, principalmente na estação chuvosa. Esse resultado tem implicações
importantes com relação às modificações realizadas recentemente no Código
Florestal no que diz respeito à manutenção de vegetação na beira de rios, lagos
e nascentes.
Desmatamento
histórico
A
colonização do estado de Rondônia, como explica o pesquisador, foi marcada o
pelos incentivos do governo federal, sobretudo nas década de 1970 e 1980, por
meio da concessão de lotes para pequenos agricultores. “Isso levou ao
desmatamento de grandes áreas, por parte de milhares de assentados, a maioria
vindos das regiões sul e sudeste”, conta. Além disso, ele lembra que àquela
época, a derrubada da floresta era condição para que os assentados garantissem
a posse de seus lotes, sendo que a caça era a única fonte de alimentação. A
coordenação e execução dos projetos de assentamento foi realizada pelo
Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA), utilizando inclusive
financiamento do Banco Mundial.
Anos
mais tarde, já nas décadas de 1990 e 2000, os agentes do desmatamento mudaram,
com a abertura de estradas e de grandes áreas para criação de gado. “Os lucros
da produção da carne motivam a abertura de novas áreas e novos desmatamentos”,
enfatiza o pesquisador. Begotti conta que o estado de Rondônia possui o sétimo
maior rebanho do País com cerca de 12 milhões de cabeças de gado, segundo dados
do IBGE. Com a situação incerta no que diz respeito à questão fundiária em
algumas localidades, existem até hoje focos de conflito com posseiros e
invasores de terras públicas que desmataram uma quantidade de floresta
considerável dentro e nas imediações da Floresta Nacional do Bom Futuro, por
exemplo.
Ele
descreve que, ao longo de 36 anos de monitoramento houve uma perda de floresta
da ordem de 24.826 quilômetros quadrados (km²) relacionada, dentre outros
fatores, à expansão da malha viária de 3.158 km para 12.863 km de extensão.
“Embora a extensão da malha viária não tenha variado de modo significativo
quando comparamos as áreas desmatadas recentemente com aquelas do início da
colonização de Rondônia, o processo de fragmentação da floresta desmatada nos
últimos anos tem sido mais intenso”, lembra o ecólogo.
Entrevistas
As
informações sobre as espécies de mamíferos foram coletadas em entrevistas junto
a proprietários da região, tendo como referência os fragmentos de florestas
dentro de suas propriedades. “Além disso, também visitamos Unidades de
Conservação como e Reservas Eextrativistas (RESEX)”, conta o pesquisador. Ao
todo, foram examinados cerca de 110 fragmentos de florestas sendo que, em cada
um deles foi realizada uma ou duas entrevistas. O estudo compreendeu a região
centro norte de Rondônia, englobando cerca de 10 municípios.
[Ainda há as
espécies que persistem e resistem, mesmo em áreas cujo habitat florestal foi
reduzido]
De
acordo com o levantamento, as espécies que estão em maior risco de extinção
local nos fragmentos são o tatu-canastra, a onça-pintada, a anta e o
tamanduá-bandeira, entre outros, corroborando resultados de outros estudos na
Mata Atlântica e na própria Amazônia. “Mas há as espécies de hábitos
generalistas que persistem e resistem mesmo em áreas cujo habitat florestal foi
extremamente reduzido, como o macaco prego, a paca, a irara e o tatu-galinha”,
lembra o pesquisador, ressaltando que “algumas dessas espécies como a paca e o
tatu-galinha ainda são caçadas, mesmo nos fragmentos”.
A
pesquisa de doutorado O papel dos remanescentes florestais na retenção da
biodiversidade e conservação da água em uma paisagem fragmentada na região
central de Rondônia foi financiada pela FAPESP por meio de auxílio-pesquisa e
bolsa regular. O estudo teve início em 2009 e foi concluído em 2014, no
Departamento de Ciências Florestais da Esalq, sob orientação do professor
Sílvio Frosini de Barros Ferraz.
Fotos:
Rodrigo Anzolin Begotti
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