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02 fevereiro 2008

ERROS DE MEDICAÇÃO EM HOSPITAIS AINDA SÃO MUITO ELEVADOS NO BRASIL

Pacientes internados em hospitais brasileiros são vítima frequentes de erros de prescrição de medicamentos em razão da péssima caligrafia dos médicos, falta de comunicação das equipes de atendentes e erros no preparo e administração dos medicamentos

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

Pesquisa realizada na unidade de clínica médica e na farmácia de um hospital universitário, integrante do projeto de Hospitais Sentinela da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), usado ainda como campo de estágio de centros formadores de profissionais de saúde, indicou graves problemas relacionados com a prescrição de medicamentos para os pacientes internados na referida unidade.

Foi observado que no processo de prescrição de medicamentos, 34,7% das prescrições estavam ilegíveis, ou parcialmente legíveis. Dentre as prescrições legíveis, pôde-se verificar que 94,9% estavam incompletas para um ou mais itens: 77,6% sem a apresentação do medicamento; 37,8% sem a forma de diluição; 21,4% sem a dose; 7,1% sem a via de administração e 5,4% não especificavam a freqüência com que o medicamento deveria ser administrado. Outro fator negativo identificado foi a utilização de abreviaturas, presentes em 95,9% prescrições.

Nos EUA, os erros durante a assistência prestada à saúde da população ocorrem em cerca de 14% dos pacientes hospitalizados, sendo que os erros de medicação foram responsáveis pela morte de, aproximadamente, 7.000 americanos e por cerca de 30% dos danos ocorridos durante a hospitalização, no ano de 1997.

O estudo teve duração de 21 dias, durante o qual foram analisados 294 prontuários dos pacientes internados na clínica médica e entrevistados 12 médicos, 20 profissionais de enfermagem (4 enfermeiros, 14 técnicos de enfermagem e 2 auxiliares de enfermagem) 8 profissionais da farmácia (3 farmacêuticos e 5 técnicos de farmácia).

Caligrafia dos médicos leva a erros de prescrição

Segundo o depoimento dos responsáveis pela prescrição dos medicamentos, os erros ocorrem devido à dificuldade de leitura e à incompreensão da letra do médico. O depoimento de alguns deles reflete bem a situação caótica vivida nas clínicas médicas dos hospitais:

... alguns médicos fazem uma caligrafia que não dá pra você ler. Você tem que olhar nas prescrições anteriores... Alguém que tem mais experiência tem que vir olhar, porque já conhece a letra.

... em outra situação, os médicos não prescrevem de forma completa e não descrevem se a medicação é via oral ou intra venosa, comprimido ou ampola, então a pessoa responsável pela distribuição do medicamento olha, não entende e envia o que vem na cabeça; é errado, mas acontece.

...várias vezes que eu estava de plantão a funcionária de enfermagem trazia a prescrição para perguntar para gente, e nem a gente entendia, e daí você tem que ligar para quem prescreveu para entender o que ela quer.

Falta comunicação durante a dispensação e distribuição dos medicamentos

No processo de dispensação e distribuição de medicamentos pôde-se observar a
existência de problemas de comunicação entre as equipes de farmácia, de enfermagem e de médicos quanto à existência ou não de medicamentos no hospital ou na unidade de internação. Nos relatos abaixo, vê-se que a dificuldade na comunicação resulta em prejuízo para o paciente.

...às vezes, a medicação fica sem ser feita porque não tem no hospital. A gente prescreve os antibióticos porque acredita que tenha e tem época em que o hospital tem deficiência desses medicamentos.

...a medicação acabou no hospital e não foi comunicado ao médico plantonista para mudança na prescrição.

...A funcionária de enfermagem é obrigada a olhar, ver se tem o medicamento, mas ela não avisou que não tinha e o paciente ficou sem a medicação.

Farmácia não fornece medicamento por falhas nas requisições

Identificou-se, também, que a farmácia deixa de fornecer à unidade medicamentos como psicotrópicos e antibióticos, devido a falhas no preenchimento das requisições padronizadas ou à falta das mesmas, ficando o paciente sem receber a terapêutica medicamentosa prescrita, sofrendo, portanto, um erro de omissão do medicamento ou um erro de horário.

...não administração de medicamentos por falta de controle de antibiótico ou psicotrópico, ou medicamento que acabou no hospital e não foi comunicado ao médico.

...Muitas medicações aqui funcionam através de controles, e o residente vem e prescreve, mas não faz o controle. A farmácia não manda o medicamento de jeito nenhum, então o paciente fica sem o antibiótico.

Preparo e administração do medicamento: falta o nome do paciente

Quanto ao processo de preparo e de administração de medicamentos, também se constataram problemas como: o preparo de medicamentos baseado em transcrições das prescrições em etiquetas nas quais não constavam os nomes dos pacientes, apenas o número do seu leito, dado insuficiente, pois com freqüência trocam-se os pacientes de leito e de enfermaria. Ressalta-se, aqui, o fato observado de que, na clínica referida, um transcreve, outro prepara e o outro administra o medicamento, fazendo com que o processo de medicar sofra múltiplas transferências de informações, o que pode gerar erros de medicação.

Outro problema observado foi o fato de a enfermagem administrar o medicamento sem falar com o paciente, chamando-o, no máximo, pelo nome. O hábito de chamar o paciente pelo nome não substitui a necessidade de assegurar a identificação do mesmo através da pulseira. O uso do código de barras nas pulseiras e do "scanner" (para leitura do mesmo), antes da administração do medicamento, constitui outra forma apropriada de assegurar que o medicamento prescrito está sendo administrado ao paciente correto. Estima-se a redução de cerca de 70% nas taxas de erros em uma instituição que utiliza um sistema de código de barras.

Em relação às anotações de enfermagem, a análise das prescrições indicaram que apenas 45,4% dos medicamentos não administrados apresentavam justificativas, sendo estas reduzidas a anotações simples como "não tem" e "falta na farmácia", além do círculo em torno do horário aprazado.

Os autores concluem o estudo indicando que os pontos frágeis na comunicação em cada um dos processos do sistema de medicação podem levar os profissionais a desenvolver atos inseguros como: prescrições de medicamentos incompletas e com abreviaturas não padronizadas que levam à incompreensão das mensagens enviadas; falhas no preenchimento de requisições e formulários que levam ao não fornecimento de medicamentos ao paciente; falhas no fornecimento de informações entre as equipes dos diferentes processos; uso de etiquetas de identificação dos medicamentos incompletas, assim como falta de comunicação entre as equipes e os pacientes, fazendo com que informações relevantes deixem de ser transmitidas.

Os problemas de comunicação acarretam transtornos nas atividades da equipe multidisciplinar, a ponto de os profissionais culparem-se uns aos outros pelas falhas, fatos que ocasionam desgastes emocionais, atrasos e/ou omissão na administração dos medicamentos e ainda geram gastos desnecessários às instituições hospitalares. O indicado é que os processos de medicação sejam revistos, ações pró-ativas e estratégias sejam implementadas, visando à melhoria da comunicação e garantia de uma terapêutica medicamentosa eficiente e segura aos pacientes.

Estratégias para minimizar os problemas

Entre as estratégias sugeridas para minimizar os problemas encontrados pela pesquisa, os autores citam as seguintes:

- Confecção, padronização e divulgação de processos, procedimentos e de protocolos;

- Implantação da prescrição eletrônica como forma de modernizar e tornar o sistema de medicação mais seguro ao garantir comunicação rápida e efetiva de informações entre elementos da equipe de saúde;

- Identificação do paciente com pulseiras ou braceletes. Enquanto os equipamentos para a utilização do código de barras podem ter um custo elevado, o emprego das pulseiras de identificação e a apropriada identificação no leito geram menor custo e, se utilizadas efetivamente, contribuem para minimizar a ocorrência de administração de medicamentos a pacientes errados;

- Incentivo do uso de pulseiras coloridas como uma forma de comunicar sobre alergias medicamentosas já conhecidas;

- Estabelecimento de efetiva comunicação com o paciente, estimulando-o a questionar os vários aspectos da terapêutica medicamentosa, atuando como parceiro no tratamento, devendo ser conscientizado de que tem direito à informação sobre seu transtorno e sobre os medicamentos prescritos. O uso de apostilas, livretos e/ou folhetos com explicações simples, que possam ser consultados sempre que necessário, pode constituir estratégia viável para o alcance desse objetivo;

O estudo foi publicado na edição de julho passado da Acta Paulista de Enfermagem (Volume 20, Nº 3) e tem entre seus autores a Professora Doutora da Universidade Federal do Acre, Simone Perufo Opitz. Clique aqui para ler o mesmo na íntegra.

2 Comments:

Anonymous Dr Paulo Freire said...

Um dos problemas que os médicos sempre têm é em relação aos medicamentos. Atualmente temos mais de 11 mil apresentações de produtos, que torna a tarefa de prescrever um tormento para médicos e pacientes. Para os médicos é difícil lembrar dos nomes de produtos, suas apresentações e complicações, para os pacientes é difícil entender a letra do médico e entender a prescrição. Em estudo recente, 10% das receitas contém erros, e mais de 40% dos pacientes não entendeu o que foi prescrito e orientado.

Para este problema, médicos formados na UNIFESP e USP desenvolveram um Portal de Serviços Médicos chamado PORTAL SAÚDE DIRETA (www.saudedireta.com.br). Este portal tem um Prontuário Eletrônico de Pacientes, de uso livre e gratuito para os médicos. Nele o médico encontrará poderosas ferramentas prescricionais, como um completo banco de dados de medicamentos, uma ferramenta de análise automática de interações de medicamentos on line, em português, que funciona ato da prescrição, e ainda a possibilidade de imprimir as receitas. O Portal é totalmente web, gratuito, rápido e seguro.

Os médicos agora têm a disposição este serviço web, que pode ser acessado de qualquer lugar do planeta, por qualquer dispositivo fixo ou móvel com conexão à internet. Se o médico prescrever um medicamento para um paciente idoso, e este estiver usando vários medicamentos anteriormente, agora é possível detectar imediatamente qualquer interação medicamentosas entre as 155 mil possíveis que estão no Banco de Dados. É uma imensa segurança para os médicos e pacientes. Reações Adversas a Medicamentosas matam mais de 100 mil pacientes por ano nos USA, pacientes internados em hospitais, e que são monitorados por sistemas semelhantes. São mais de 700 mil casos nos USA, tornando-se a quarta maior causa de morte! No Brasil os dados estatísticos são desconhecidos ou incompletos, e para piorar o brasileiro adora auto-medicação.

Esta é minha modesta contribuição para diminuir este problema na sociedade brasileira.

25/07/2010, 10:26  
Anonymous Anônimo said...

A saúde no Brasil está um caus...Mas, Em Uberlândia/MG. é um exemplo de melhor qualidade de atendimento. São Várias UAIS postos em quase todos os bairros. Só tenho a reclamar é da demora para liberação de exames para quem fica na fila de espera para exames para saber se é ou não preciso fazer cirurgias. Tem muito tempo que fiz exames para fazer cirurgia de varizes e ainda não tive nem respostas. Exame de vista tive que fazer particular. Precisa melhorar muita coisa. Principalmente os políticos deste país. Vão uns e vêem outros e fica tudo do mesmo jeito. O Brasil precisa ir prá frente. Não sabemos realmente quem são os políticos de confiança. Só Deus para mudar este país. Agora temos um lindo Hospital e Maternidade Municipal, onde tive o prazer de passar no concurso de processo seletivo e estou lá trabalhando. Equipamentos modernos, gestores capacitados, enfermeiras capazes e responsáveis que tratam todos com respeito e carinho. A política de organização é muito boa. São 1.200 funcionários. Quero fazer tudo para ficar lá até me aposentar. Tratar os pacientes com dignidade e responsabilidade, com amor e respeito e com muita dedicação e atenção para não cometer erros. Pois na minha função de técnico em enfermagem é preciso muita atenção para não cometer erros. Deus é fiel. Em nome de Jesus Cristo permanecerei lá com fé e otimismo, dedicação e honestidade sempre fazendo o bem. Obrigada a vcs por esta oportunidade. Gostei desta matéria que nos ajuda muito a ter mais atenção. Agradeço a todos vocês que estão sempre nos ajudando a crescer. Eu quero é mais... Abraços a todos. Felicidades. Bom dia. Eloisa Maria de Freitas Silva. elomm9@hotmail.com Cel. 34-88462158.

13/06/2012, 09:45  

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