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05 dezembro 2005

PALMEIRA "NAJÁ"

UMA ESPÉCIE NATIVA DO ACRE COM POTENCIAL PARA A PRODUÇÃO DE BIODIESEL









Anelena Carvalho de Lima
Graduanda em Engenharia Florestal, Universidade Federal do Acre, Bolsista CNPq/PIBIC do INPA-ACRE, e-mail: anelenalcarvalho@yahoo.com.br.

Evandro José Linhares Ferreira
Doutor em Botânica, Pesquisador do Núcleo de Pesquisas do Acre, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia-INPA, Campus Universitário da UFAC, BR 364, km 4, Distrito Industrial, CEP 69.915-900, Rio Branco-Acre, e-mail: evandroferreira@yahoo.com.

Introdução

A palmeira “najá” ou “catolé”, cientificamente conhecida como Maximiliana maripa, é uma espécie nativa que está sendo pesquisada para a produção de biodiesel em razão do seu grande potencial para a produção de óleo com características favoráveis para a produção do biodiesel. O biodiesel é um combustível de origem vegetal com características físico-químicas muito similares às do diesel derivado do petróleo e que por isso pode ser usado em veículos com motores do ciclo diesel sem maiores adaptações. Quimicamente, ele é um éster de ácido graxo produzido a partir da transesterificação de óleo vegetal. A transesterificação é uma reação química que ocorre entre os ácidos graxos do óleo e um álcool na presença de um catalisador (Parente, 2003; Tickell, 2000).

Tendo em vista as possibilidades de ser usado como substituto do diesel derivado do petróleo, o biodiesel extraído da palmeira najá poderá ser usado tanto para mover veículos utilitários e barcos que transportam a produção agrícola no interior do Estado, quanto para mover os grupos geradores de eletricidade instalados nas pequenas cidades e comunidades isoladas. São estas as principais razões que tornam o biodiesel uma das mais promissoras fontes de energia alternativa para o estado do Acre.

A importância das fontes alternativas para a geração de energia no Acre

A busca por fontes alternativas para a geração de energia no Acre se justifica pelo fato de 95% de sua matriz energética depender da queima de combustíveis derivados do petróleo. No caso da oferta de eletricidade, esta dependência chega a 100% (Acre, 2003). Atualmente, apenas 80% dos 550 mil habitantes do Estado são atendidos com eletricidade, indicando que mais de 100 mil pessoas ainda estão excluídas do acesso à energia elétrica. A maioria destes excluídos vive isolada na floresta ou em pequenas comunidades do interior, onde é inviável economicamente a simples extensão das redes de distribuição existentes.

Levar energia para estas comunidades do interior vai exigir soluções criativas e o uso de fontes alternativas que privilegiem a vocação energética local e a implantação de sistemas descentralizados de produção. Dentre as alternativas existentes, algumas respondem apenas parcialmente ao problema. A “energia solar”, por seu custo e natureza, tem aplicação limitada à geração de energia para a iluminação doméstica e comunitária. A “biomassa vegetal” (lenha) é igualmente vista com reservas em razão dos possíveis danos ambientais que tende a causar, especialmente se não houver rígido controle sobre a origem da matéria-prima.

Resta como alternativa mais promissora o biodiesel, que tanto pode ser extraído de oleaginosas cultivadas quanto das nativas que existem em grande número nas florestas acreanas. Hoje, pelo menos 3 projetos de pesquisa apoiados pelo CNPq estão sendo desenvolvidos no Acre. O primeiro é o estudo do cultivo da mamona e do dendê, sob a coordenação da EMBRAPA-ACRE. O segundo é o estudo da exploração extrativista de pelo menos 10 espécies de palmeiras nativas, realizado conjuntamente pela UFAC e pelo INPA-ACRE. O terceiro é um levantamento detalhado, em todo o Acre, para identificar as oleaginosas nativas com potencial para a produção de biodiesel, que está sendo conduzido pelo INPA-ACRE e pela UFAC.

Uso de espécies nativas para a produção de biodiesel no Acre

No Acre, a exploração de espécies oleaginosas nativas para a produção de biodiesel é favorecida por várias razões. Existe uma grande diversidade de oleaginosas nativas nas florestas primárias que cobrem cerca de 90% da superfície do Estado (Acre, 2000) e a maioria das pessoas que vivem nestas florestas (seringueiros, índios, ribeirinhos) têm tradição extrativista.

Entretanto, a viabilização dessa alternativa requer investimentos em pesquisas para a resolução de fatores que limitam a sua implantação imediata. É preciso saber quais áreas e espécies são as mais promissoras em função de sua localização, distribuição, densidade, potencial produtivo e viabilidade do uso do óleo para a síntese do biodiesel.










Palmeira Najá: uma das espécies mais promissoras

A palmeira najá, cientificamente conhecida como Maximiliana maripa, foi selecionada para teste de produção de biodiesel por que tem grande potencial para a produção de óleo. Cada um de seus cachos pode pesar mais de 50 kg e apresentar mais de 2.000 frutos. Além disso, o teor de óleo dos frutos é de aproximadamente 23% de óleo (Blaak, 1993) e a viabilidade para a extração em escala do seu óleo já foram realizados na Colômbia (FAO/CATIE, 1983). Outro aspecto que torna esta palmeira interessante é a possibilidade de manejar suas populações naturais em áreas de pastagens visando o seu adensamento, o que pode ser feito sem a necessidade de grandes investimentos financeiros. Em alguns lugares da Amazônia, como Rondônia e Pará, esta espécie forma grandes populações em áreas de pastagens, lembrando muito as extensas áreas dominadas por babaçu no estado do Maranhão.

Características gerais da palmeira

A najá é uma espécie mais amplamente distribuída na Amazônia e regiões adjacentes na Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela, no cerrado brasileiro e nas Guianas. Ela ocorre em áreas de florestas primárias e secundárias, campos naturais e cerrados, e, principalmente, em áreas alteradas pelo homem, especialmente as áreas de pastagens. Embora tolere áreas alagadiças, ela é mais adaptada aos lugares com solos bem drenados (FAO, 1983). No Acre, ela ocorre com mais freqüência na vale do rio Acre, especialmente nos Municípios de Rio Branco, Senador Guiomard, Plácido de Castro e Acrelândia (Ferreira, 2005).

O najá é uma palmeira de porte mediano, com estipe solitário que mede entre 3 e 20 metros de altura. Suas folhas são rígidas, eretas e arranjadas em espiral no ápice do estipe. As bainhas foliares possuem fibras densamente arranjadas, formando uma espécie de “pano”. O pecíolo das folhas é bastante alongado e possui as margens afiadas e cortantes. Bainha e pecíolo juntos podem medir entre 1,5 e 2,3 m de comprimento. As pinas das folhas são arranjadas em várias direções, dando às mesmas um aspecto desarranjado. Os frutos possuem casca fina e polpa amarelada, pastosa e muito oleosa. Eles são relativamente pequenos e geralmente cobertos no seu terço inicial pelo perianto. Seu formato lembra um pouco os frutos da palmeira jaci (Attalea butyraceae) em menor escala (Ferreira, 2005). Cada fruto pode apresentar entre 2 e 3 sementes (Lorenzi et al., 2004). A dispersão das sementes é realizada por mamíferos (Zona & Henderson, 1989). A polinização é feita por abelhas nativas cientificamente conhecidas como Melipona spp. (Absy et al., 1980).

Os principais usos da espécie são os frutos comestíveis, folhas e estipes na construção de habitações rurais, bráctea peduncular do cacho como brinquedo para crianças e utensílio para cozinha, fibras das folhas aproveitadas na confecção de artesanato, palmito comestível, endocarpo dos frutos queimados para extração de sal vegetal e produção de fumaça para a defumação de borracha (Moses, 1962; Braun, 1968).

Passos para a realização da pesquisa no Acre

A pesquisa com esta espécie envolve a realização de estudos para identificar suas maiores e mais produtivas populações naturais, o período exato de duração da safra de frutos e determinar a viabilidade econômica e tecnológica da exploração dos frutos, considerando aspectos como distância, produtividade por planta e facilidade de extração do óleo por prensagem mecânica. Além disso, é preciso determinar a viabilidade do uso do óleo da espécie para a síntese do biodiesel em escala industrial.

Referências bibliográficas

Absy, M. L. ; Bezerra, E. B. ; Kerr, Warwick E. 1980. Plantas nectaríferas utilizadas por duas especies de Melipona da Amazônia. Acta Amazônica, v. 10, n. 2, p. 271-281.

Acre. 2000. Zoneamento ecológico e econômico do Acre, Vol. 2. Vegetação. Instituto Estadual do Meio Ambiente - IMAC. 198p.

Acre. 2003. Secretaria Planejamento e Desenvolvimento - Seplands: Infra-estrutura para o Desenvolvimento. Folheto, 14 páginas.

Blaak, G. 1984. Processamiento de los frutos de la palmera cucurita (Maximiliana maripa). Pág. 113-117 de Palmeras poco utilizadas de America Tropical. FAO/CATIE (1983), Turrialba, Costa Rica.

Braun, A. 1968. Cultivated palms of Venezuela. Principes 12(2,3): 39-103.

FAO/CATIE. 1983. Palmeras poco utilizdas de America Tropical. Catie, Turrialba, Costa Rica, 245p.

Ferreira, E. J. L. F. Manual das palmeiras do Acre, Brasil. Disponível em: http://www.nybg.org/bsci/acre/www1/manual_palmeiras.html.
Acesso em: 10 ago 2005.

Lorenzi, H., Souza, H. M. S., Medeiros-Costa, J. T., Cerqueira, L. S. C. & E. J. L. Ferreira. 2004. Palmerias brasileiras e exóticas cultivadas. Nova Odessa, SP. Instituto Plantarum, 416p.

Moses, T. 1962. Palms of Brazil. Principes 6(1):26-37.

Parente, E. J. S. 2003. Biodiesel: uma aventura tecnológica num país engraçado. Fortaleza: Tecbio, 68p.

Tickell, J. 2000. From the fryer to the fuel tank. 3ed. Ashland: Bookmasters, 162p.

Zona, S. & A. Henderson. 1989. A review of animal-mediated dispersal in palms. Selbyana 11: 6-21.

*Crédito das fotos: E. Ferreira e J. Tucker