TERRA VERDE DESAGRADÁVEL
Quando ele visitou o mais remoto canto da Amazônia, Alex Bellos esperava encontrar um paraíso verde luxuriante. Em vez disso, ele encontrou Rio Branco, uma cidade marcada pelo sexo, drogas e expansão industrial desordenada.
Green unpleasant land
Alex Bellos, 28/11/2001
The Guardian Unlimited
Na minha primeira noite em Rio Branco eu pedi a um motorista de táxi que me levasse ao melhor bar da cidade. Sem hesitar, ele dirigiu direto para a floresta. Logo a gente estava envolto na escuridão, os faróis do carro mal iluminando o verde ao longo da margem da estrada. Depois de 16 km, nós viramos à esquerda em uma trilha. No seu final existia uma casa simples com piscina e uma dúzia de prostitutas.
Eu subi uma escada de madeira e descobri que nos fundos existiam quartos que poderiam ser alugados por hora. O que me deixou mais impressionado não foi nem a naturalidade e facilidade de se chegar ao bordel, nem o enfado na face das garotas, mas o orgulho do motorista de táxi em me mostrar este lugar exclusivo e sua capacidade de concluir que qualquer visitante que queira sair para beber um drinque, deve, inevitavelmente, estar em busca de prostitutas.
“Este lugar é somente para as figuras locais mais importantes”, disse o motorista de táxi com um misto de admiração e respeito. “Os militares, os juízes, os chefes de polícia, os homens de negócios, todos eles vêm aqui”.
Rio Branco é a mais inacessível das cidades da selva amazônica brasileira. É a capital do Acre, o Estado mais ocidental do Brasil, espremido na forma de uma bunda pelas fronteiras do Peru e da Bolívia.
A imagem internacional da Amazônia é de uma região de um verde selvagem e romântico sendo destruída nas bordas pelos madeireiros que estão cortando as suas árvores. Isto é apenas a meia verdade. Nas duas últimas décadas a floresta Amazônica brasileira testemunhou um boom na imigração que fez com que sua população mais do que triplicasse para 19 milhões de pessoas.
Em 1970 Rio Branco tinha 36.000 habitantes. Agora ela é uma cidade feia, sonolenta e barrenta que abriga mais de um quarto de milhão de habitantes. Seu crescimento tem sido mais rápido do que ela poderia suportar e a cidade da selva sofre de sérios problemas urbanos.
O sonho de ficar rico na fronteira ocidental do Brasil, que fez com que tantas pessoas se dirigissem à cidade, se torna realidade para muito poucos. A criminalidade é elevada e tão epidêmica que um importante oficial militar local foi para a prisão recentemente porque cortou os braços de um homem usando uma motosserra. A corrupção e prostituição prevalecem. Os indicadores sociais tais como o analfabetismo e acesso a água tratada estão entre os piores do país.
Para completar, o clima equatorial favorece a proliferação de doenças tropicais: 10% da população tem o vírus da hepatite e o número de casos de leprosos é mais ou menos igual aos da Índia.
Na minha segunda noite em Rio Branco eu fui para uma igreja chamada “barquinha”.
Eu tomei um táxi para uma área periférica da cidade onde as casas são feitas de tábuas e construídas sobre pilares altos em razão das enchentes. Antes que eu adentrasse no local, eu bebi, como todo mundo, um líquido cor de barro em um copo do tamanho de um café expresso que estava a disposição na porta da frente. A substância é chamada de “daime” e contém alucinógenos naturais que os índios tem usado por gerações. Depois de beber, eu me sentei dentro da igreja onde todo mundo estava vestido de branco e em uma espécie de estado de transe, esperando que a droga fizesse efeito.
No altar tinha uma cruz cristã e figuras de porcelanas de um homem negro e velho, de sereias e de um homem cabeludo vestido em uniforme de capitão de navio. A religião aqui é uma mistura de crenças indígenas e cristianismo, e é tão difundida em Rio Branco, que não é estranho que os pais de recém-nascidos coloquem uma pequena quantidade de daime na língua deles como uma forma de iniciação espiritual.
Meu daime não estava funcionando. Então eu fui lá fora e tomei outro copo. Segundos depois eu emborquei. Eu tropeçava como um bêbado e comecei minha viagem alucinógena. Eu fiquei com medo da igreja e tentei sair do lugar, mas os membros da congregação me disseram que eu deveria ficar porque meu espírito iria me proteger.
Coisas estranhas começaram a acontecer ao meu corpo. Eu bebi várias canecas de água mas minha boca se mantinha seca. Então meu queixo começou a se movimentar de forma incontrolável. Eu duvidei de minha identidade e, por um momento, eu esqueci se eu era homem ou mulher.
A experiência durou cerca de 5 horas, e se prolongou mesmo após eu ter retornado ao meu quarto no hotel. Lá, eu tive que manter todas as luzes acesas porque, de outra maneiras, minha cama parecia uma balsa flutuando na escuridão rio abaixo.
Eu vim para o mais remoto canto da floresta amazônica esperando encontrar um ambiente verdejante e tribos de índios pintados a caráter. No lugar disso, encontrei uma cidade onde se pode ter sexo barato e drogas perigosas.
Nota do blog: Apesar da "má" impressão inicial e da aventura sem controle com o Daime, Alex Bellos quer voltar ao Acre. Recentemente escreveu ao meu amigo Altino Machado revelando isso. O que ele vai encontrar dessa vez? Muita coisa mudada. O "Beréu" já era, é história. Agora alguem tem que levar ele no "Momentu´s", que fica na via Chico Mendes, com asfalto e iluminação pública de primeira. Quanto ao daime, creio que além da barquinha, ele deveria ter direito a um tour completo por todas as igrejas da cidade. Assim, no lugar de voltar para o hotel e pensar que o colchão se parece com uma balsa descendo o rio, ele poderá pensar que vai estar navegando em um transatlântico mar afora. Quem sabe em sua próxima "viagem" Alex consiga trazer de volta o Titanic. Vai ser novidade para o Acre....
Green unpleasant land
Alex Bellos, 28/11/2001
The Guardian Unlimited
Na minha primeira noite em Rio Branco eu pedi a um motorista de táxi que me levasse ao melhor bar da cidade. Sem hesitar, ele dirigiu direto para a floresta. Logo a gente estava envolto na escuridão, os faróis do carro mal iluminando o verde ao longo da margem da estrada. Depois de 16 km, nós viramos à esquerda em uma trilha. No seu final existia uma casa simples com piscina e uma dúzia de prostitutas.
Eu subi uma escada de madeira e descobri que nos fundos existiam quartos que poderiam ser alugados por hora. O que me deixou mais impressionado não foi nem a naturalidade e facilidade de se chegar ao bordel, nem o enfado na face das garotas, mas o orgulho do motorista de táxi em me mostrar este lugar exclusivo e sua capacidade de concluir que qualquer visitante que queira sair para beber um drinque, deve, inevitavelmente, estar em busca de prostitutas.
“Este lugar é somente para as figuras locais mais importantes”, disse o motorista de táxi com um misto de admiração e respeito. “Os militares, os juízes, os chefes de polícia, os homens de negócios, todos eles vêm aqui”.
Rio Branco é a mais inacessível das cidades da selva amazônica brasileira. É a capital do Acre, o Estado mais ocidental do Brasil, espremido na forma de uma bunda pelas fronteiras do Peru e da Bolívia.
A imagem internacional da Amazônia é de uma região de um verde selvagem e romântico sendo destruída nas bordas pelos madeireiros que estão cortando as suas árvores. Isto é apenas a meia verdade. Nas duas últimas décadas a floresta Amazônica brasileira testemunhou um boom na imigração que fez com que sua população mais do que triplicasse para 19 milhões de pessoas.
Em 1970 Rio Branco tinha 36.000 habitantes. Agora ela é uma cidade feia, sonolenta e barrenta que abriga mais de um quarto de milhão de habitantes. Seu crescimento tem sido mais rápido do que ela poderia suportar e a cidade da selva sofre de sérios problemas urbanos.
O sonho de ficar rico na fronteira ocidental do Brasil, que fez com que tantas pessoas se dirigissem à cidade, se torna realidade para muito poucos. A criminalidade é elevada e tão epidêmica que um importante oficial militar local foi para a prisão recentemente porque cortou os braços de um homem usando uma motosserra. A corrupção e prostituição prevalecem. Os indicadores sociais tais como o analfabetismo e acesso a água tratada estão entre os piores do país.
Para completar, o clima equatorial favorece a proliferação de doenças tropicais: 10% da população tem o vírus da hepatite e o número de casos de leprosos é mais ou menos igual aos da Índia.
Na minha segunda noite em Rio Branco eu fui para uma igreja chamada “barquinha”.
Eu tomei um táxi para uma área periférica da cidade onde as casas são feitas de tábuas e construídas sobre pilares altos em razão das enchentes. Antes que eu adentrasse no local, eu bebi, como todo mundo, um líquido cor de barro em um copo do tamanho de um café expresso que estava a disposição na porta da frente. A substância é chamada de “daime” e contém alucinógenos naturais que os índios tem usado por gerações. Depois de beber, eu me sentei dentro da igreja onde todo mundo estava vestido de branco e em uma espécie de estado de transe, esperando que a droga fizesse efeito.
No altar tinha uma cruz cristã e figuras de porcelanas de um homem negro e velho, de sereias e de um homem cabeludo vestido em uniforme de capitão de navio. A religião aqui é uma mistura de crenças indígenas e cristianismo, e é tão difundida em Rio Branco, que não é estranho que os pais de recém-nascidos coloquem uma pequena quantidade de daime na língua deles como uma forma de iniciação espiritual.
Meu daime não estava funcionando. Então eu fui lá fora e tomei outro copo. Segundos depois eu emborquei. Eu tropeçava como um bêbado e comecei minha viagem alucinógena. Eu fiquei com medo da igreja e tentei sair do lugar, mas os membros da congregação me disseram que eu deveria ficar porque meu espírito iria me proteger.
Coisas estranhas começaram a acontecer ao meu corpo. Eu bebi várias canecas de água mas minha boca se mantinha seca. Então meu queixo começou a se movimentar de forma incontrolável. Eu duvidei de minha identidade e, por um momento, eu esqueci se eu era homem ou mulher.
A experiência durou cerca de 5 horas, e se prolongou mesmo após eu ter retornado ao meu quarto no hotel. Lá, eu tive que manter todas as luzes acesas porque, de outra maneiras, minha cama parecia uma balsa flutuando na escuridão rio abaixo.
Eu vim para o mais remoto canto da floresta amazônica esperando encontrar um ambiente verdejante e tribos de índios pintados a caráter. No lugar disso, encontrei uma cidade onde se pode ter sexo barato e drogas perigosas.
Nota do blog: Apesar da "má" impressão inicial e da aventura sem controle com o Daime, Alex Bellos quer voltar ao Acre. Recentemente escreveu ao meu amigo Altino Machado revelando isso. O que ele vai encontrar dessa vez? Muita coisa mudada. O "Beréu" já era, é história. Agora alguem tem que levar ele no "Momentu´s", que fica na via Chico Mendes, com asfalto e iluminação pública de primeira. Quanto ao daime, creio que além da barquinha, ele deveria ter direito a um tour completo por todas as igrejas da cidade. Assim, no lugar de voltar para o hotel e pensar que o colchão se parece com uma balsa descendo o rio, ele poderá pensar que vai estar navegando em um transatlântico mar afora. Quem sabe em sua próxima "viagem" Alex consiga trazer de volta o Titanic. Vai ser novidade para o Acre....
3 Comments:
vc com certeza não visitou todo o Acre, não q ela seja uma cidade turística, mais vc apelou quando fala dessa forma. Toda cidade do país tem seus melhores e seus piores lugares. Talvez vc tenha deixado entender ao motorista do taxi q queria ir p um lugar despresível, de bebida barata e prostituição, sei lá, vai ver foi isso! vc deixa todos pensarem q o Acre só tem isso, seja mais inteligente antes de dizer q esperava encontrar tribos índigenas como se encontra um pão na esquina. Vc reprovou em conhecimentos gerais, ou será q só ler gibi?,
A amazônia é sim pouco desenvolvida, mais não ao ponto de ter índios passeando na rua de "fio dental", será q era isso q pretendia encontrar?.
E quando se fala de religião do Acre, se fala de religião do Brasil, pois é tudo a mesma coisa, uma mistura desordenada de crenças e custumes. Mais logo se nota q preferiu ir ao daime do q a uma igreja protestante ou católica para orar por sua vida tão abalada com essa visita.Beber o suco do cariri, talvez tenha sido sua escolha, pois toda pessoa "não muito inteligente" sabe q ela é uma bebida Alucinógena, "droga" mesmo. O Acre não é um lugar despresivel como vc deixa entender, mais vc não se preocupou com as famílias decentes e cristãs verdadeiras ao fazer tal comentário.
Criminalidade, prostituição, pobreza, etc, existe em todo lugar do mundo. "Há!, como será q eu sei disso"?pq além de estudar eu viajo.
Prezado Anônimo,
Eu, Evandro Ferreira, compartilho a maior parte de sua opinião no que toca a muitas das impressões que Alex Bellos, o reporter inglês que escreveu a matéria que foi publicada em um jornal de Londres. Entretanto, atente para a data em que o mesmo publicou a mesma. Foi na época em que o Acre vivia sob o dominio do esquadrao da morte e o "estado" não tinha tomado as rédeas da situação. Hoje, com certeza absoluta, nossa situação é bem diferente. Ainda bem!]
Olá!
Sou estudante de biologia e estou buscando desesperadamente o manual de Técnicas de Coleta, preservação e herborização de material botânico. São Paulo, SP: Secretaria do Meio Ambiente. Instituto de Botânica, 1989.
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aguardo contato
o blog é muitooo interessante! Sempre que puder passarei para agregar conhecimentos!
g291307@polvo.ufscar.br
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