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06 dezembro 2005

SIMPSON NO ACRE

A VISITA AO ACRE DE UM DOS 100 MAIORES CIENTISTAS DA HISTÓRIA

Por Alceu Ranzi (alceuranzi@hotmail.com)
Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais/UFAC-Rio Branco-AC/Brasil & Programa de Pós-Graduação em Geografia/UFSC-Florianópolis-SC/Brasil

O nome completo é George Gaylord Simpson. Está lá na página 437 do livro “Os 100 Maiores Cientistas da História” de autoria de John Simmons. Para quem estiver interessado - Editora Difel/2003.

Simpson está arrolado junto com outros 99 gênios entre os quais Isaac Newton, Albert Einstein, Louis Pasteur e Charles Darwin.

Simpson nasceu em 1902 e faleceu em 1984, foi nosso contemporâneo. Era um paleontólogo de vertebrados e evolucionista. Participou de escavações em várias partes do mundo. Foi curador de vertebrados fósseis do Museu Americano de História Natural em N.York, Professor na prestigiosa Harvard University e encerrou sua carreira na Universidade do Arizona.

Simpson, de 1942 a 1944, serviu na Segunda Guerra Mundial, como Capitão do Exército Americano, sob o comando do General Patton. Foi designado para os serviços de “inteligência” pelo seu domínio de vários idiomas – do Árabe ao Português. Ao final da Guerra, foi condecorado com “two Bronze Stars” e promovido a Major.

Em sua maior contribuição para a ciência, Simpson juntamente com Theodosius Dobzhansky e Ernst Mayr, foi um dos arquitetos / formuladores do “Neodarwinismo” ou “síntese moderna” da evolução, que une a paleontologia à genética.

Sim...e o que temos nós os acreanos com G.G. Simpson, um dos 100 maiores cientistas da história? Temos a ver e muito. A estada de Simpson no Acre influenciou a sua carreira.

Na introdução do texto referente a Simpson, no livro de Simmons, consta que ele realizou expedições à Patagônia e viajou pelo Rio Amazonas. Em relação à Patagônia a afirmação é verdadeira. Quanto ao Rio Amazonas, embora Simpson tenha estado na região, ele chegou e saiu do Acre de avião.

No verão acreano de 1956, uma expedição liderada pelo paleontólogo brasileiro Llewellyn Ivor Price (DNPM-Rio), com a participação de Fernando Novaes (Museu Goeldi-Belém) e G.G. Simpson, percorreu o Rio Juruá, desde Cruzeiro do Sul até a Foz do Breu. Ficou conhecida como Expedição Price & Simpson. Por mais de 60 dias a Expedição explorou as barrancas do Juruá, Breu, Amônea e Juruá-mirim. O seringalista Quirino Nobre, patriarca de uma geração de políticos do Juruá, deu apoio ao grupo com pessoal e batelões.

Quase ao final da expedição, um acidente. G.G. Simpson, cientista reconhecido e veterano de guerra, foi atingido por um tronco de árvore e quebrou a perna direita. “A árvore atingiu minha cabeça, provocando uma concussão. Deslocou meu ombro esquerdo. Dilacerou minhas costas. Deslocou meu calcanhar esquerdo. Quebrou minha perna com fratura da tíbia e fíbula. Aquele evento mudou minha vida radicalmente” – escreveu Simpson. “Devido ao local remoto do acidente, demorou uma semana, para que Simpson tivesse um tratamento adequado” – registrou Léo Laporte no livro “G.G.Simpson – Paleontólogo e Evolucionista”.

Passado meio século, o Alto Juruá ainda é um lugar remoto. O Departamento de Estado Americano foi acionado e Simpson foi resgatado em Cruzeiro do Sul por um avião da FAB.

As coletas fósseis da Expedição Price & Simpson, foram separadas em dois lotes. O lote com os grandes jacarés foi para o DNPM-Rio . O lote com os mamíferos, seguiu para NovaYork. Deveriam ter sido estudados por Simpson. O acidente afastou o cientista tanto do Museu Americano de História Natural como dos fósseis do Juruá. O material de pequeno tamanho, das coletas de Simpson, retornou ao Brasil, para estudos. Os fósseis foram descritos pelos cientistas brasileiros Carlos de Paula Couto e Miguel Santanna. Depois a coleção foi devolvida para o Museu em Nova York.

Para comemorar os 50 anos da Expedição Price & Simpson, pelo Juruá, está em organização uma Expedição Científica que contará com o suporte da National Geographic Society. Deverão tomar parte da Expedição cientistas da Universidade Federal do Acre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Duke University-USA.

A primeira viagem de Simpson à Patagônia, além de vários artigos científicos, rendeu o livro “Attending Marvels” de 1934. Até hoje este livro é uma referência para todos os cientistas que se dirigem ao sul do nosso Continente. O acidente privou os brasileiros de páginas de grande valor científico e histórico.

A caderneta de campo, da viagem de Simpson ao Juruá, com anotações em letras miúdas e detalhadas, é um documento precioso para a história da ciência do Brasil e do Acre em particular. Em homenagem ao cinqüentenário da Expedição, traduzir e publicar a caderneta e campo de Simpson, poderia ser o resgate do relato da passagem pelo Acre de um dos grandes cientistas de nosso tempo.

Artigo publicado originalmente no Jornal O Estado, 16 a 22/01/2005.

Nota do blog: ouvi falar sobre Simpson enquanto fazia meu mestrado no Lehman College, em New York. É uma história fascinante. Meu professor de Biologia Sistemática, Joseph Rachlin, nos guiou por toda a história do Neodarwinismo/Síntese Moderna. Meu trabalho durante o curso foi escrever um longo "report" sobre Ernst Mayr. Durante o Doutorado, alguns anos depois, enquanto assitia aulas no Museu Americano de História Natural, tive a oportunidade de visitar o local onde Simpson trabalhou no referido Museu.
Até hoje tenho uma dúvida: foi Simpson quem visitou a Serra do Moa no início do século, quando a petrobrás estava em busca de petróleo por lá? Alguem já ouviu falar desse cientista americano? Quem era ele?