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08 agosto 2006

CRÔNICAS E CARTAS TARAUACAENSES (1900-1962): Fronteiras Discursivas

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa analisou textos, caracterizando-os quanto aos limites lingüísticos e estruturais entre seus discursos, buscando revelar semelhanças e diferenças na construção discursiva de cada um. Insere-se na linha de pesquisa literatura e memória cultural do projeto "Amazônia: os vários olhares" que tem buscado revelar traços da identidade do acreano. Nesta investigação pretende-se também contribuir para a construção desse saber, haja vista a riqueza de informações sobre hábitos e costumes, elementos inspiradores dos cronistas e missivistas da comunidade local tarauacaense.

A investigação associou a pesquisa bibliográfica à de campo. No primeiro momento, foram feitas outras leituras metodológicas visando a elaboração do subprojeto que direciona esta pesquisa. Logo após, iniciou-se as leituras, fichamentos e discussões que perduraram durante todo o ano sobre textos básicos, teóricos e de apoio histórico pertinentes ao objeto em estudo, dentre os quais: livros e textos sobre discurso, correspondências, crônicas, linguagem, história. Paralelamente às leituras, ocorreu a coleta, no Museu da Borracha, nos 06 jornais existentes (O Município, O Estado, O Departamento, Jornal Official, A Reforma, O Tarauacá) no período de 1913-1937, por meio de foto digital. Em seguida, os textos coletados foram organizados cronologicamente e classificados quanto a (o): tipo, conteúdo, tema, tendência temática, forma e discurso. E, por último, procedeu-se à elaboração de tabelas e gráficos, a análise crítica comparativa, estatística e interpretativa dos resultados.

RESULTADOS

Foram coletados 159 textos, dentre os quais: 89 estavam rasurados ou não eram crônicas, restando 70 (crônicas); e 42 cartas, 3 rasuradas, restando 39. Foram classificados no total 109 textos: (70 crônicas e 39 cartas). Verificou-se um percentual razoável de crônicas com: temas críticos (69%), destacando-se crítica pessoal (34%), crítica de costumes (19%), crítica política (16%); conteúdo: crítico (39%), satírico (33%), irônico (7%), informativo (7%); discurso: polêmico (33%), crítico (26%), autoritário (14%), lúdico (10%); tendência temática: local (37%), universal (33%), nacional (20%). Já nas cartas, constatou-se a recorrência de temas: informação (26%), esclarecimento (15%), elogio (15%), reclamação (13%); conteúdo: informativo (30%), crítico (30%), elogiativo (21%), irônico (8%); discurso: polêmico (28%), autoritário (18%), político (15%), elogio (15%); tendência temática: local (63%), internacional (21%), universal (8%).

CONCLUSÃO

Constatou-se que as fronteiras discursivas desses textos são caracterizadas a partir da linguagem utilizada por eles. Nas crônicas, há uma linguagem mais despojada e solta, distanciando-se dos padrões normativos, são textos escritos em 3ª pessoa que, mesmo não tendo um destinatário específico, possuem um certo grau de alteridade, à medida que nesses textos o cronista almeja interagir com os leitores, seja criando embates, seja influenciando-os. A predominância do discurso polêmico é justificada por essa dinâmica. Já as missivas, escritas em 1ª e 3ª pessoa, utilizam uma linguagem mais culta, configuradas como um texto mais formal, de caráter informativo, haja vista ser um dos únicos veículos de comunicação da época. Nelas, há um destinatário específico, marcando bem a presença da alteridade existente entre o sujeito e o outrem, pois o sujeito utilizava as cartas para informar ou comunicar fatos e acontecimentos internacionais, nacionais e locais, não deixando a população tarauacaense à margem da informação. Em síntese, essas duas modalidades de textos aproximam-se por serem ambas textos às margens da literatura, no sentido de não terem intenção de ser literárias, mas distanciam-se quanto ao seu campo de atuação, já que as cartas pressupõem a efetivação de um diálogo e as crônicas relatam fatos do cotidiano que podem ou não, levar à reflexão dos leitores.

Fonte: Ádila Tatianne da Silva Silvano (Bolsista do PIBIC/UFAC–2005/2006) e Olinda Batista Assmar (Orientadora, Departamento de Letras). CRÔNICAS E CARTAS TARAUACAENSES (1900-1962): Fronteiras Discursivas. Anais do XV Seminário de Iniciação Científica PIBIq-CNPq , Universidade Federal do Acre, Rio Branco-Acre, 2006.
Financiador: CNPq / PIBIC / UFAC.