CARL VON MARTIUS NO BRASIL
Von Martius: viajante-naturalista-historiador
Por Maria Guimarães e Mariella Oliveira.
Originalmente publicado na revista ComCiência, SBPC
“Do azul escuro do mar, elevam-se as margens banhadas de sol e no meio do verde vivo destaca-se a brancura das casas, capelas, igrejas e fortalezas. Atrás levantam-se audaciosos rochedos de formas imponentes, cujas encostas ostentam em toda a plenitude a uberdade da floresta tropical. Odor ambrosiano derrama-se dessa soberba selva, e, maravilhado, passa o navegante estrangeiro por entre as muitas ilhas cobertas de majestosas palmeiras”.
É esta a primeira impressão dos naturalistas Carl Friedrich Philipp von Martius e Johann Baptist von Spix ao aproximar-se da “grandiosa entrada do porto do Rio de Janeiro”. O botânico e o zoólogo chegavam ao Brasil como parte da comitiva da arquiduquesa Leopoldina, que vinha casar-se com o futuro imperador Dom Pedro I.
Em sua viagem, Martius e Spix percorreram cerca de dez mil quilômetros entre 1817 e 1820. Os pesquisadores partiram do Rio de Janeiro, de onde rumaram para o norte pela Mata Atlântica, com a intenção de devassar o interior, pois o litoral já era bastante conhecido, como conta a historiadora Karen Lisboa, do Instituto de Estudos Latino-americanos da Universidade Livre de Berlim. A partir de Belém do Pará eles atravessaram grande parte da bacia amazônica, e de Belém embarcaram de volta à Europa.
“Foi uma viagem longa e minuciosa”, diz Manoel Salgado Guimarães, do Departamento de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). As descrições abarcam selva, gente, arquitetura, marés, história, costumes, doenças e muito mais. O livro traz até cantigas, representadas por partituras e versos. Ele explica que, embora fosse botânico por formação, Martius tinha o espírito das viagens filosóficas vigente na época, na tradição de Humboldt. Por isso, o empreendimento não podia ser voltado para questões específicas. “Era um viajante-filósofo”, conclui o historiador da UFRJ. E o relato dos próprios viajantes justificam suas coletas: “O Brasil, fechado durante séculos consecutivos às investigações dos europeus, oferecia farta oportunidade de enriquecer com fatos aquelas ciências, e, quanto aos meios para atingirmos esse alvo, não tínhamos escolha. Pareceu-nos mais acertado colecionar, durante a viagem, exemplares tanto de formações geológicas, quanto de curiosidades etnográficas, e, em particular, de animais e plantas, dar assento em nosso diário, a descrições e notícias minuciosas tanto quanto possível, e com isso preparar uma exposição científica, uma vez de volta à pátria”.
De acordo com Salgado Guimarães a exposição nunca chegou a acontecer. De todo modo, as contribuições de Martius a partir da viagem e do material coletado foram inúmeras. Destaca-se a Flora Brasiliensis, um inventário das espécies vegetais brasileiras que reúne todo o conhecimento existente na época. São quase 23 mil espécies, com cerca de 4 mil ilustrações de imenso detalhe e rigor. Até hoje é esse o único inventário da flora brasileira, embora muitas espécies tenham sido descritas e muita informação acrescida no século que se seguiu à publicação da obra.
Até março deste ano, consultas à Flora Brasiliensis se restringiam a especialistas, pois os exemplares das bibliotecas universitárias são protegidosem salas de obras raras. Mas a iniciativa conjunta de diversas instituições de pesquisa de criar a Flora Brasiliensis On-line mudou a situação. No portal na internet, desenvolvido pelo Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria), qualquer pessoa pode ver as ilustrações da obra de Martius ampliadas em grande detalhe sem perda de definição, além de informações sobre o conteúdo das imagens, tais como o nome científico da planta, volume em que se encontra, número, página etc.. As estatísticas disponíveis no site mostram que desde o seu lançamento, a Flora Brasiliensis On-Line tem recebido cerca de 10 mil visitantes por mês.
Por Maria Guimarães e Mariella Oliveira.
Originalmente publicado na revista ComCiência, SBPC
“Do azul escuro do mar, elevam-se as margens banhadas de sol e no meio do verde vivo destaca-se a brancura das casas, capelas, igrejas e fortalezas. Atrás levantam-se audaciosos rochedos de formas imponentes, cujas encostas ostentam em toda a plenitude a uberdade da floresta tropical. Odor ambrosiano derrama-se dessa soberba selva, e, maravilhado, passa o navegante estrangeiro por entre as muitas ilhas cobertas de majestosas palmeiras”.
É esta a primeira impressão dos naturalistas Carl Friedrich Philipp von Martius e Johann Baptist von Spix ao aproximar-se da “grandiosa entrada do porto do Rio de Janeiro”. O botânico e o zoólogo chegavam ao Brasil como parte da comitiva da arquiduquesa Leopoldina, que vinha casar-se com o futuro imperador Dom Pedro I.
Em sua viagem, Martius e Spix percorreram cerca de dez mil quilômetros entre 1817 e 1820. Os pesquisadores partiram do Rio de Janeiro, de onde rumaram para o norte pela Mata Atlântica, com a intenção de devassar o interior, pois o litoral já era bastante conhecido, como conta a historiadora Karen Lisboa, do Instituto de Estudos Latino-americanos da Universidade Livre de Berlim. A partir de Belém do Pará eles atravessaram grande parte da bacia amazônica, e de Belém embarcaram de volta à Europa.
“Foi uma viagem longa e minuciosa”, diz Manoel Salgado Guimarães, do Departamento de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). As descrições abarcam selva, gente, arquitetura, marés, história, costumes, doenças e muito mais. O livro traz até cantigas, representadas por partituras e versos. Ele explica que, embora fosse botânico por formação, Martius tinha o espírito das viagens filosóficas vigente na época, na tradição de Humboldt. Por isso, o empreendimento não podia ser voltado para questões específicas. “Era um viajante-filósofo”, conclui o historiador da UFRJ. E o relato dos próprios viajantes justificam suas coletas: “O Brasil, fechado durante séculos consecutivos às investigações dos europeus, oferecia farta oportunidade de enriquecer com fatos aquelas ciências, e, quanto aos meios para atingirmos esse alvo, não tínhamos escolha. Pareceu-nos mais acertado colecionar, durante a viagem, exemplares tanto de formações geológicas, quanto de curiosidades etnográficas, e, em particular, de animais e plantas, dar assento em nosso diário, a descrições e notícias minuciosas tanto quanto possível, e com isso preparar uma exposição científica, uma vez de volta à pátria”.
De acordo com Salgado Guimarães a exposição nunca chegou a acontecer. De todo modo, as contribuições de Martius a partir da viagem e do material coletado foram inúmeras. Destaca-se a Flora Brasiliensis, um inventário das espécies vegetais brasileiras que reúne todo o conhecimento existente na época. São quase 23 mil espécies, com cerca de 4 mil ilustrações de imenso detalhe e rigor. Até hoje é esse o único inventário da flora brasileira, embora muitas espécies tenham sido descritas e muita informação acrescida no século que se seguiu à publicação da obra.
Até março deste ano, consultas à Flora Brasiliensis se restringiam a especialistas, pois os exemplares das bibliotecas universitárias são protegidosem salas de obras raras. Mas a iniciativa conjunta de diversas instituições de pesquisa de criar a Flora Brasiliensis On-line mudou a situação. No portal na internet, desenvolvido pelo Centro de Referência em Informação Ambiental (Cria), qualquer pessoa pode ver as ilustrações da obra de Martius ampliadas em grande detalhe sem perda de definição, além de informações sobre o conteúdo das imagens, tais como o nome científico da planta, volume em que se encontra, número, página etc.. As estatísticas disponíveis no site mostram que desde o seu lançamento, a Flora Brasiliensis On-Line tem recebido cerca de 10 mil visitantes por mês.
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