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06 dezembro 2006

Usos da Diversidade Vegetal: do Extrativismo Vegetal a Bioeconomia (*)


Alfredo Kingo Oyama Homma – Embrapa Amazônia Oriental


Durante séculos a coleta de produtos da natureza (fauna e flora) foi a base de sobrevivência dos indígenas, de forma sustentável, que viviam tanto nas várzeas como na terra firme.


Com o início da presença dos colonizadores europeus, a extração dos recursos naturais para sobrevivência e para atender o mercado de forma dirigida, levou a formação de diversos ciclos dependendo da magnitude dos estoques e a sua substituição. Cacau e a seringueira, dentre outros produtos extrativos, foram a base de sustentação econômica, social e política, não só da região, como do país, responsáveis pelo processo de povoamento, expansão das fronteiras e, do atraso secular, baseado na staple economy.


O esgotamento e a limitação dos estoques, o progresso tecnológico e o crescimento do mercado, indutoras e destruidoras dessa economia, levaram a contínua formação de novos ciclos econômicos. Pode-se afirmar que até 1951, a economia amazônica era essencialmente extrativa, quando mais da metade da renda regional era decorrente dessa atividade.


Com a mudança da "civilização das várzeas” em favor da “civilização da terra firme”, que se inicia com a inauguração da rodovia Belém-Brasília, em 1960, começa a acentuar-se a substituição da cobertura florestal, razão da economia extrativa, pela pecuária e agricultura, do crescimento populacional, onde o sentido de luta era utilizar a terra para fins agrícolas e não para coleta extrativa.


A substituição da cobertura florestal deu ênfase ao extrativismo madeireiro, complementar as atividades de expansão agrícola, com início, apogeu e declínio, numa dinâmica espacial e temporal. O crescimento do mercado de produtos extrativos induziu a domesticação do guaranazeiro, cupuaçuzeiro, pupunheira, castanheira, açaizeiro, pimenta longa, jaborandi, etc. como já havia ocorrido com o cacaueiro e a seringueira. O ciclo tradicional que consistia na transformação de recursos naturais em recurso econômico, a fase extrativa, a domesticação e, em alguns caso, na descoberta do similar sintético, com quebra dessa seqüência, está dando lugar ao patenteamento de direitos de propriedade intelectual.


Esta nova bioeconomia, está transformando os “caçadores de plantas” em “caçadores de genes”, em que o conhecimento tradicional, direito de marcas, patenteamento de princípios ativos, mercado de carbono, inclusão social, entre outros, se confundem e misturam, numa complexa teia de interesses, onde sem sempre, os beneficiários são os produtores, consumidores locais e a sociedade regional.


Esta nova bioeconomia é que vai ditar os rumos da Amazônia no futuro?


(*) Resumo de palestra apresentada durante a Mesa-redonda “Diversidade Vegetal dos Ecossistemas Amazônicos: Inventários, Usos e Bioprospecção”, parte do II SIMPÓSIO DA BIOTA AMAZÔNICA: 40 Anos de Avanços Científicos e Transformações Sócio-Ambientais, promovido pelo Museu Paraense Emilio Goeldi, Belém-PA