Finalmente aconteceu. O Ibama está efetivamente combatendo as ilegalidades cometidas pelas siderúrgicas movidas exclusivamente a carvão vegetal e que estão instaladas na Amazônia Oriental, principalmente na região de Marabá. No total são 13 siderúrgicas que receberam recursos públicos oriundos do Fundo de Investimentos do Nordeste – FINOR – e do Fundo de Investimentos da Amazônia – FINAM (veja figura ao lado. Fonte: M. A. Monteiro, NAEA-UFPA).
Quando tinham seus projetos aprovados, os empresários recebiam até 75% do valor total indicado como necessário à implantação do parque industrial e à aquisição de áreas destinadas ao desenvolvimento de supostos projetos de “manejo florestal” ou de reflorestamento. Obviamente que estes manejos eram apenas uma cortina de fumaça que encobria a real intenção dos empresários: aproveitar a floresta nativa, que é, infinitamente mais barata, como fonte para a produção do carvão vegetal consumido nas siderúrgicas.
A autorização para o funcionamento destas siderúrgicas é uma das maiores aberrações ambientais e sociais já vistas na Amazônia. É que para funcionar elas necessitam de milhares de toneladas de carvão vegetal que, em teoria, deveria ser obtido de plantios a serem feitos nas regiões de influência das usinas. Obviamente que isto nunca aconteceu e passados cerca de 20 anos, o resultado concreto é a destruição de milhares de hectares de florestas virgens nas áreas mais próximas. Plantar árvores para depois fazer o carvão? Jamais! Dá muito trabalho! É mais fácil derrubar a floresta, que já tá pronta. Esta é a mentalidade que predomina.
A produção do carvão envolve, também obviamente, a exploração (algumas vezes com trabalho escravo) de milhares de trabalhadores miseráveis que, mesmo com esse trabalho, continuarão a ser o que são: miseráveis. É uma situação que, sob o ponto de vista social, todos na região saem perdendo. Só quem ganha são os proprietários das siderúrgicas, que exportam o produto final desta aberração para a Ásia, Europa e Estados Unidos. Aliás, é bom que se diga que a queima de milhares de hectares da nossa floresta amazônica resulta em parafusos e outras peças metálicas usadas na fabricação de quinquilharias que depois voltam para o Brasil para ser vendidas nas conhecidas lojas de R$ 0,99.
Isso tudo me lembra o início da colonização do Brasil, quando os portugueses trocavam com os indígenas (que os portugueses consideravam burros), espelhos, tecidos e perfumes por ouro, prata, trabalho escravo...(e os indígenas achavam que estavam levando vantagem). Parece que esta mentalidade ainda está arraigada entre nós.
Se você tem interesse em ler mais sobre este assunto, clique aqui para acessar o excelente documento "Siderurgia na Amazônia oriental brasileira e a pressão sobre a floresta primária", de autoria do pesquisador Maurílio de Abreu Monteiro, pesquisador do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará.
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