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04 junho 2007

CÂNCER DE COLO NO ACRE

OCORRÊNCIA PODE SER NOVE VEZES SUPERIOR AOS DADOS OFICIAIS

Estudo realizado na cidade de Cruzeiro do Sul (AC) por pesquisadores do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) indica que a ocorrência de câncer do colo do útero naquela cidade é nove vezes maior do que os dados disponíveis no Ministério da Saúde, que se baseia em informações fornecidos pela Secretaria de Saúde do Estado. A pesquisa apontou ainda uma freqüência 40% superior de resultados anormais em exames ginecológicos.

O estudo foi realizada entre abril de 2003 e julho de 2004 e consistiu no exame de 2.226 mulheres, recrutadas através de anúncio pelo rádio e por comunicação oral desempenhada pelos próprios pesquisadores. Antes do exame elas assinaram o Termo de Consentimento Informado e responderam a um questionário estruturado.

A pesquisa consistiu em exame pélvico, e incluiu coleta e colpocitologia oncológica (CO) e inspeção da cérvice após aplicação de ácido acético diluído. Mulheres com CO positiva ou exame ginecológico anormal foram encaminhadas para colposcopia e eventual biópsia, excisão diatérmica da zona de transformação ou conização.

Os resultados obtidos foram comparados a dados históricos oficiais referentes à cidade de Cruzeiro do Sul, recuperados do banco de dados do Ministério da Saúde. Em comparação aos dados históricos, a intervenção resultou em um aumento de 40% na freqüência de CO positiva, e a detecção de câncer foi nove vezes superior àquela dos dados oficiais.

A detecção de lesões cervicais pré-invasoras e invasoras no grupo que sofreu intervenção foi marcadamente superior à das mulheres atendidas pelo programa oficial de rastreamento.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), do Ministério da Saúde, o câncer de colo do útero foi o terceiro tipo de câncer mais comum entre as mulheres brasileira no ano de 2006, sendo superado apenas pelo câncer de pele (não-melanoma) e pelo câncer de mama. O Instituto estima que ele seja a quarta causa de morte por câncer em mulheres e em 2006 foram notificados mais de 19.000 novos casos no país.

Se detectado corretamente, cura chega perto de 100%

O câncer do colo do útero é, entre todos os tipos de câncer, o que apresenta um dos mais altos potenciais de prevenção e cura, podendo chegar perto de 100% quando diagnosticado precocemente. Seu pico de incidência situa-se em mulheres com idade entre 40 e 60 anos e apenas uma pequena porcentagem ocorre abaixo dos 30 anos.

A pesquisa da Unicamp indica uma falha gravíssima no programa estadual de detecção de câncer do colo nas mulheres acreanas. Levando em conta o alto índice de cura da doença quando detectada precocemente, se estima que muitas mortes poderiam ser evitadas se o programa estadual não apresentasse as falhas mostradas pela pesquisa. Pode-se inferir que a maior parte das mortes devem estar acontecendo em mulheres das localidades mais isoladas do Estado, onde as ações básicas de saúde não conseguem chegar com regularidade.

NOTA DO BLOG: Com a palavra os representantes da saúde acreana e do Ministério Público Estadual, que deveria se interessar em investigar a fundo as causas das falhas no referido programa.

Clique aqui para ler a íntegra do artigo (em inglês)

Dados do artigo científico:

The impact of a community intervention to improve cervical cancer screening uptake in the Amazon region of Brazil. Marcus Vinicius Von Zuben, Sophie Françoise Derchain, Luis Otávio Sarian, Maria Cristina Westin, Luiz Claudio Santos Thuler, Luiz Carlos Zeferino (Department of Obstetrics and Gynecology, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Campinas, São Paulo, Brazil). Sao Paulo Med J. 2007;125(1):42-5.