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31 maio 2007

EXTRAÇÃO DE MADEIRA CERTIFICADA NO ACRE CAUSA ALTERAÇÃO DE 28% DA FLORESTA NATIVA

Evandro Ferreira, Ambiente Acreano
31/05/2007

Uma pesquisa realizada no Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Porto Dias e publicada na edição de abril da revista científica Forest Ecology and Management, indica que o impacto da extração madeireira praticada pelos manejadores comunitários daquele projeto causou alteração de 28% da área florestal de onde a madeira foi retirada.

Segundo o estudo, realizado durante dois anos por pesquisadores da Universidade da Flórida, a maior parte do dano (16,8%) é provocado pela abertura de clareiras causadas pela queda das árvores abatidas. O restante da alteração (12,1%), é resultante do uso de máquinas (Skidder) durante o arrasto das toras para fora da floresta.

Outro aspecto preocupante demonstrado no estudo é que o manejo florestal praticado pela comunidade já danificou cerca de 15% da árvores inventariadas e marcadas para exploração futura. Os danos são causados principalmente durante o abate, quando a queda de uma única árvore pode afetar várias outras da vizinhança.

Projeto foi o primeiro certificado no Acre e o segundo no Brasil

O projeto de extração de madeira do PAE Porto Dias foi o primeiro projeto de manejo comunitário de madeira certificado pelo FSC (Stewardship Council) no Acre, e o segundo do Brasil. Isto aconteceu no início de dezembro de 2002. Segundo os critérios do FSC, a madeira certificada tem que ser extraída causando o menor impacto possível ao meio ambiente e leva em consideração ainda aspectos sócio-econômicos das comunidades envolvidas. A não observação dos critérios do certificador pode levar à perda do selo do FSC, geralmente usado na comercialização da madeira.

O plano de manejo em execução no PAE Porto Dias definiu como área de exploração os 300 hectares de cada colocação das 10 famílias extrativistas envolvidas. A área das colocações foi dividida em 30 talhões de 10 hectares cada. Segundo o plano, a cada ano poderiam ser manejado, no máximo, 100 metros cúbicos de madeira de um talhão (10 metros cúbicos por hectare). O ciclo de exploração programado foi de trinta anos (ver dissertação de Isabel Garcia Drigo, 2005).

Considerando o envolvimento de apenas 10 propriedades e levando em conta os resultados da pesquisa publicada agora, se estima que cerca de 84 hectares de florestas foram alteradas a cada ano de exploração. Se a mesma se manteve nas 300 hectares planejadas desde a certificação (final de 2002), pode-se estimar que a quantidade de floresta nativa alterada em função do manejo já deve ter passado das 330 hectares.

O PAE Porto Dias ocupa uma área de 22,4 mil hectares no município de Acrelândia, a 130 quilômetros de Rio Branco e abriga cerca de 113 famílias.

Clique aqui para acessar a íntegra da Dissertação de Mestrado de Isabel Garcia Drigo, da USP, defendida em 2005.

Clique aqui para acessar a íntegra do artigo sobre os danos causados pelo manejo comunitário em Porto Dias (em inglês, arquivo acessível para usuários do portal CAPES apenas, os demais podem ler apenas um resumo). Veja abaixo o nome dos autores e os dados da publicação.

Future crop tree damage in a certified community forest in southwestern Amazonia.

Cara A. Rockwell (a), Karen A. Kainer (a, b), Christina L. Staudhammer (a) e Christopher Baraloto (c).

Forest Ecology and Management, Volume 242, Issues 2-3, 30 April 2007, Pages 108-118.

(a) School of Forest Resources and Conservation, University of Florida, Gainesville, FL 32611, USA; (b)Center for Latin American Studies, Tropical Conservation and Development Program, University of Florida, Gainesville, FL 32611, USA; (c)Department of Botany, University of Florida, Gainesville, FL 32611, USA

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Caro Evandro,
Um agravante nessa discussão é saber que o preço da madeira certificada pago aos manejadores do Porto Dias foi similar ao da madeira não certificada, de acordo com a Coopfloresta (cooperativa dos produtores florestais comunitários), em torno de R$ 120,00/tora de madeira. Além disso, os manejadores somente se apropriam de metade desse valor, uma vez que a outra metade ficam com as serrarias como pagamento pelos custos do processo, conforme levantamento realizado pelo Projeto Análise Econômica de Sistemas de Produção Familiar Rural no Estado do Acre, denominado ASPF (Departamento de Economia/UFAC), sob minha coordenação.
Ademais, dados preliminares do projeto ASPF, referentes ao ano agrícola entre 2005/2006, indicam que mais da metade da renda bruta gerada no PAE Porto Dias é oriunda da produção de gado bovino, ou seja, vislumbra-se um sombrio futuro para a floresta em torno desse projeto.

05/06/2007, 11:58  
Anonymous Anônimo said...

Olá Evandro, meu nome é Fabiana e estou sou do Amazonas e estou realizando o meu doutorado sobre recursos não medeireiros amazônicos. Gostaria de lhe fazer algumas perguntas, uma delas é onde se localiza a coopfloresta?

omeu blog é Http://www.blogger.com/profile/03823431932732769353

13/09/2010, 21:09  

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