A ABSOLVIÇÃO DE RENAN CALHEIROS
Demitam os políticos
Sérgio Malbergier
O que aconteceu no Senado federal foi retrato exato da classe política brasileira. Desde a comédia pastelão na entrada, com socos e pontapés, à absolvição de Renan Calheiros, com tapinhas nas costas e sorrisos cúmplices, ficou provado, para quem precisava de prova, que nossos políticos são um fardo pesado demais a um país que quer avançar e se modernizar.
O Brasil, aliás, avança e se moderniza apesar das quadrilhas que partilham políticas e verbas públicas em benefício próprio em plena luz do dia. Mas nunca avançará o suficiente com esses dirigentes. O Brasil político atolou no buraco do século 20 enquanto o resto do país tenta correr no 21 com o peso dos políticos acorrentado no seus pés.
A economia deslancha, como mostra o PIB do segundo trimestre, os empresários investem, a renda cresce, o crédito se expande e o agronegócio se prepara para a melhor colheita da história, pulverizando ganhos pelos quatro cantos. Mas a política atravanca o país.
Agora, para aprovar a CPMF, o governo petista já negocia cargos do tal segundo escalão com os partidos da base aliada. São da base aliada para isso, para dominarem as canetas que liberam as verbas sugadas de nosso trabalho. A tolerância com esse fisiologismo indecente, visto nos meios políticos e mesmo fora deles como regra do jogo, deve acabar. Quem aceita essa lógica aceita o veredicto secreto do Senado. Aceita que viadutos ligando o nada a lugar nenhum sejam erguidos no mesmo Nordeste em que pacientes morrem nas filas de hospitais.
E o pior é que é difícil encontrar uma luzinha no fim do túnel. Se alguém se iludiu com a decisão do Supremo Tribunal Federal de aceitar denúncia contra os mensaleiros, como nos iludimos com o impeachment de Fernando Collor (1992), nosso Senado acabou com as ilusões. Parece não haver alternativas.
As alianças e práticas espúrias do governo petista são muito parecidas às alianças e práticas espúrias que vimos em oito anos de governo tucano. A classe política brasileira é inviável. Nossa imaturidade política parece crônica, firmemente ancorada em bolsões enormes de miséria e ignorância de um lado e em empresários que usufruem da promíscua relação privilegiada com os governantes de outro.
É a política o grande problema brasileiro hoje. E é óbvio que não se prega aqui qualquer cerceamento das liberdades políticas, muito pelo contrário. Precisamos aprofundar a democracia, para implodirmos esse sistema político de compadrio apenas, um teatro absurdo com personagens grotescos oscilando entre o policial e a comédia, com pitadas picantes de dramalhão e pornochanchada brasiliense.
O senador Almeida Lima (PMDB-SE), aquele da tropa de choque renanzista, disse, com o cinismo típico da classe, que a absolvição de seu compadre foi um "momento importante para a política brasileira". Que assim seja. Que nós, eleitores, que colocamos aqueles senadores naquelas cadeiras, possamos ser mais felizes nas próximas eleições. Vamos demiti-los no voto e usar a arma potente e cada vez mais acessível da internet para atormentá-los pelo espetáculo deprimente no Senado federal.
Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo.
Crédito da imagem: Andre Dusek/Agência Estado
Sérgio Malbergier
O que aconteceu no Senado federal foi retrato exato da classe política brasileira. Desde a comédia pastelão na entrada, com socos e pontapés, à absolvição de Renan Calheiros, com tapinhas nas costas e sorrisos cúmplices, ficou provado, para quem precisava de prova, que nossos políticos são um fardo pesado demais a um país que quer avançar e se modernizar.
O Brasil, aliás, avança e se moderniza apesar das quadrilhas que partilham políticas e verbas públicas em benefício próprio em plena luz do dia. Mas nunca avançará o suficiente com esses dirigentes. O Brasil político atolou no buraco do século 20 enquanto o resto do país tenta correr no 21 com o peso dos políticos acorrentado no seus pés.
A economia deslancha, como mostra o PIB do segundo trimestre, os empresários investem, a renda cresce, o crédito se expande e o agronegócio se prepara para a melhor colheita da história, pulverizando ganhos pelos quatro cantos. Mas a política atravanca o país.
O Brasil, principalmente o mais pobre, ainda precisa de investimentos públicos e políticas sociais para que milhões tenham acesso a uma vida digna. Empresas precisam de estradas, portos e aeroportos operantes para crescer. E isso quem tem que tocar, infelizmente, é o Estado.
Ele já tira da população, com sua ganância arrecadatória para sustentar uma máquina ineficiente e inchada, 34% de tudo o que o país produz por ano, dinheiro em boa parte distribuído criminosa e porcamente a gangues especializadas em licitações públicas.
Agora, para aprovar a CPMF, o governo petista já negocia cargos do tal segundo escalão com os partidos da base aliada. São da base aliada para isso, para dominarem as canetas que liberam as verbas sugadas de nosso trabalho. A tolerância com esse fisiologismo indecente, visto nos meios políticos e mesmo fora deles como regra do jogo, deve acabar. Quem aceita essa lógica aceita o veredicto secreto do Senado. Aceita que viadutos ligando o nada a lugar nenhum sejam erguidos no mesmo Nordeste em que pacientes morrem nas filas de hospitais.
E o pior é que é difícil encontrar uma luzinha no fim do túnel. Se alguém se iludiu com a decisão do Supremo Tribunal Federal de aceitar denúncia contra os mensaleiros, como nos iludimos com o impeachment de Fernando Collor (1992), nosso Senado acabou com as ilusões. Parece não haver alternativas.
As alianças e práticas espúrias do governo petista são muito parecidas às alianças e práticas espúrias que vimos em oito anos de governo tucano. A classe política brasileira é inviável. Nossa imaturidade política parece crônica, firmemente ancorada em bolsões enormes de miséria e ignorância de um lado e em empresários que usufruem da promíscua relação privilegiada com os governantes de outro.
É a política o grande problema brasileiro hoje. E é óbvio que não se prega aqui qualquer cerceamento das liberdades políticas, muito pelo contrário. Precisamos aprofundar a democracia, para implodirmos esse sistema político de compadrio apenas, um teatro absurdo com personagens grotescos oscilando entre o policial e a comédia, com pitadas picantes de dramalhão e pornochanchada brasiliense.
O senador Almeida Lima (PMDB-SE), aquele da tropa de choque renanzista, disse, com o cinismo típico da classe, que a absolvição de seu compadre foi um "momento importante para a política brasileira". Que assim seja. Que nós, eleitores, que colocamos aqueles senadores naquelas cadeiras, possamos ser mais felizes nas próximas eleições. Vamos demiti-los no voto e usar a arma potente e cada vez mais acessível da internet para atormentá-los pelo espetáculo deprimente no Senado federal.
Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo.
Crédito da imagem: Andre Dusek/Agência Estado
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