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06 dezembro 2007

MECANIZAÇÃO E DESEMPREGO NO CAMPO

De 1971 a 2004, cerca de 670 mil postos de trabalho foram eliminados nas áreas rurais do Estado de São Paulo devido, principalmente, à progressiva mecanização da agricultura paulista. O número de trabalhadores no período caiu de 1,723 milhão para 1,050 milhão

Por Thiago Romero, Agência FAPESP, 06/12/2007 – Os dados estão na tese de doutorado de José Marangoni Camargo, professor de economia na Faculdade de Filosofia e Ciências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Marília (SP).

O trabalho, apresentado no Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), teve como base indicadores do Instituto de Economia Agrícola, vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento.

Intitulado Relações de trabalho na agricultura paulista no período recente, o estudo destaca que o nível de emprego direto gerado pela agricultura depende de quatro fatores: área cultivada, composição das culturas, desempenho da safra e estágio tecnológico dos empreendimentos. Segundo Camargo, a área plantada ficou praticamente estagnada no estado entre 1971 e 2004, em torno de 6 milhões de hectares.

“O desaparecimento de 670 mil postos de trabalho nesse período pode ser explicado pelas mudanças nos processos técnico-produtivos e pelo avanço das inovações tecnológicas”, disse o professor à Agência FAPESP. “Modificações na composição da agricultura para culturas como a cana-de-açúcar, que demandam tecnologias mais avançadas, também foram determinantes para o desemprego.”

A categoria mais afetada pela mecanização são os trabalhadores temporários, também conhecidos como volantes ou bóias-frias. A tese indica que, devido à modernização dos métodos de produção, foram nos anos 1990 que ocorreram as mudanças mais significativas na ocupação agrícola paulista.

Segundo Camargo, em 2004 a cana-de-açúcar ocupava 48% de toda a área com culturas no estado, enquanto em 1990 esse índice era de 33%. “Uma colheitadeira chega a substituir o trabalho manual de até cem indivíduos e, como a mecanização da colheita da cana também acompanhou a evolução da área plantada, qualquer modificação nesse setor tem impacto direto na força de trabalho”, disse.

De acordo com o economista, de 2000 a 2004, a cana impulsionou o aumento de 6 milhões para cerca de 7 milhões de hectares plantados com culturas agrícolas em São Paulo. Atualmente, o setor sucroalcooleiro, o que mais sofreu transformações no emprego, ocupa mais de 50% da área cultivada por ter se expandido para outras regiões, como pastagens, além de substituir culturas tradicionais como a laranja.

“Hoje, a cana-de-açúcar emprega em torno de 230 mil trabalhadores, o que representa cerca de 20% do total ocupado na agricultura paulista. Em 2007 tivemos quase 4 milhões de hectares plantados com cana, sendo que 45% da sua colheita já é mecanizada. Nos anos 1990 esse índice de mecanização não chegava a 30%”, comparou.

Por outro lado, segundo o pesquisador, é possível dizer que hoje o número de trabalhadores empregados com a colheita da cana permanece estável porque, ao mesmo tempo em que a mecanização da colheita cresce, o plantio da cultura também avança em áreas com baixa ocupação de mão-de-obra, em especial na região oeste do estado.

Camargo aponta ainda que, mesmo que praticamente todas as regiões do estado tenham registrado redução do nível de emprego no campo de 1971 a 2004, as baixas nos empregos agrícolas não foram iguais.

“Nas cidades onde predominam a pecuária e a monocultura, como por exemplo em Presidente Prudente e Araçatuba, o desemprego foi mais acentuado do que nas regiões onde as culturas são diversificadas”, afirmou.