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04 fevereiro 2008

DESONESTIDADE BRASILEIRA: NÃO ESCAPAM NEM DEFUNTOS

Pais de jovens mortos em acidente em Miracatu denunciam sumiço de dinheiro das vítimas

Plantão | Publicada em 04/02/2008 às 10h33m

Gabriel Batista e Fabrício Calado Moreira, Diário de S.Paulo

SÃO PAULO - As famílias de três dos cinco jovens mortos no sábado em um acidente na Rodovia Padre Manoel da Nóbrega, em Miracatu, a 180 quilômetros da capital, denunciam que sumiram parte do dinheiro e pertences que eram carregados pelas vítimas. De acordo com os parentes, os jovens mortos viajavam com cerca de R$ 5 mil. Dizem que a Polícia Civil de Miracatu devolveu apenas um total de R$ 400. A polícia diz que devolveu pouco mais de R$ 1.200. O dinheiro, segundo os parentes, seria para pagar o imóvel alugado pelo grupo em Florianópolis (SC) para passar o carnaval.

Durante o velório dos jovens, os parentes estavam indignados. Eles contaram ainda que também desapareceram objetos como cartões de bancos, relógios, corrente de ouro, celulares e até acessórios do aparelho de som do carro destruído no acidente.

O delegado titular de Miracatu, José Wessler, afirmou ao jornal Diário de S.Paulo que recebeu R$ 1.237 apreendidos pela Polícia Militar Rodoviária, e que, desse valor, entregou R$ 823 ao padrasto e à mãe da vítima Bárbara Vasconcelos dos Santos, de 18 anos, e outros R$ 400 a um representante das outras famílias. Os parentes de Bárbara, no entanto, não foram localizados pela reportagem para confirmar a informação. Ainda segundo o delegado Wessler, o guincho da seguradora do carro levou o veículo com bolsas e pertences dentro.

Os cinco jovens mortos são de Santos e viajavam juntos, em um Corsa. O veículo em que estavam bateu de frente com um caminhão e todos morreram na hora.

O professor universitário Dalson Alves de Lima Graça, de 31 anos, que dirigia um EcoSport e também se envolveu no acidente, contou neste domingo que viu os policiais militares rodoviários que atenderam a ocorrência contando cerca de R$ 1.200 na delegacia de Miracatu.

- Desconheço qualquer roubo no local do acidente - disse Graça. No boletim de ocorrência do acidente, não há menção a valores.

O velório da vítima Camila de Oliveira Martins, de 19 anos, no Hospital Beneficência Portuguesa, em Santos, foi marcado pela indignação dos parentes diante do sumiço do dinheiro e pertences.

- Não queremos esse dinheiro de volta. Mas isso (o sumiço) é uma falta de respeito com a dor da gente - afirmou a avó da menina, Rosicler Andrea Martins.

Segundo o pai de Camila, o trabalhador portuário Ronaldo Martins Júnior, de 39 anos, a filha levava R$ 1 mil, celular e uma corrente de ouro, com o nome dela, no pescoço.

- Só devolveram a identidade - afirmou.

Para Rodrigo Bontempi da Silva, de 27 anos, que perdeu no acidente os irmãos Rackney (conhecido pelos amigos como Tiney), de 14, e Erick, de 20, um escrivão entregou os R$ 400 à família e disse:

- O que tem é isso aí.

Bontempi ressalta que os irmãos levavam o dinheiro em suas carteiras, que, segundo ele, foram devolvidas totalmente reviradas.

- Parece brincadeira. Sumiram o cartão do banco, o dinheiro e até o som do carro do meu irmão Erick. Do amigo dele, o Diego (Luiz Abud Garcia), desapareceu o relógio - disse Bontempi.

A Polícia Civil e a Polícia Militar Rodoviária afirmam que vão investigar o sumiço do dinheiro e dos pertences das vítimas se as famílias fizerem uma queixa formal. Segundo Fabiano Genofre, delegado-assistente do Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter) 6, responsável pela região do acidente, o procedimento normal é a polícia recolher os objetos do local e apresentá-los na delegacia.

- Se isso (sumiço de pertences e dinheiro) de fato ocorreu, obviamente que, se a família fizer uma reclamação formal, nós tomaremos as providências para apurar quem chegou primeiro ao local e se houve um saque - afirmou.

O tenente Marcos Negrinho, da Polícia Rodoviária Estadual, disse que o local do acidente fica distante "uns 13 quilômetros" da base da corporação. Ele também afirmou que, caso a família queira uma investigação formal do caso, basta entrar em contato.

Genofre disse também que a Delegacia Seccional de Registro, subordinada ao Deinter 6, foi contatada e verificará a queixa. Na seccional de Registro, o delegado Sebastião Corrêa informou, por meio de uma funcionária, que "o que está sendo denunciado (o furto) não consta do BO", mas incumbiu o delegado responsável pela ocorrência, José Wessler, de investigar o caso.

Wessler disse que o carro das vítimas foi liberado pelo Instituto de Criminalística, que fez a perícia, sem a Polícia Civil ser comunicada.

- A família do dono do carro (a vítima Erick Bontempi da Silva) mandou o seguro recolher. Há informações de que havia bolsas dentro do veículo.

De acordo com Rodrigo, Erick era o dono do Corsa e namorava havia cinco anos Camila de Oliveira Martins, de 19 anos, também morta no acidente. Erick dirigia o carro no momento da colisão. De acordo com outras pessoas que se envolveram no acidente, ele estava acima do limite de velocidade do trecho, que é de 80 quilômetros por hora, e perdeu o controle do carro. A família quer uma melhor apuração do acidente.

As outras duas vítimas, Bárbara Vasconcelos dos Santos, de 18 anos, e Diego Luiz Abud Garcia, de 21, eram amigos dos namorados Erick e Camila.

Erick era dono de um quiosque em Santos, no bairro de Aparecida (entre os canais 5 e 6), e tinha o irmão mais novo, Rackney, como seu ajudante.

Camila trabalhava em um bufê e estudava inglês, porque queria trabalhar em navios de cruzeiro. Erick também fazia o curso de inglês.