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29 março 2008

BAIXA TAXA DE FREQUÊNCIA ESCOLAR NO ACRE

Consequências perniciosas que prioridades salariais equivocadas por parte do Governo do Estado poderão causar na almejada inclusão social das comunidades isoladas do meio rural

Evandro Ferreira
Blog Ambiente Acreano

A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) 2006, realizada pelo IBGE, foi divulgada na sexta-feira, 28, e teve ampla repercussão na imprensa nacional (veja post abaixo).

Uma das partes mais comentadas da pesquisa foi a que trata da taxa de freqüência escolar no país. Segundo a pesquisa, o Rio de Janeiro apresenta a maior taxa de freqüência (80,3%) e o Acre, a menor (65,1%).

No Acre, o assunto merece cobertura melhor por parte da imprensa local e deveria ser objeto de um amplo debate para se entender as razões do Estado ter a mais baixa taxa de freqüência escolar de todo o país. Algo está errado e precisa ser corrigido.

A Secretaria de Educação do Estado (SEC) deveria se manifestar publicamente sobre o fato. Mas a SEC não está sozinha nesse barco problemático pois os maiores responsáveis são as prefeituras municipais.

Embora não tenhamos dados concretos, é possível supor que grande parte do baixo índice de freqüência escolar no Acre se deve às condições de isolamento em que vive grande parte de nossa população, especialmente a ribeirinha e, talvez, a indígena.

Já andamos por todos os rios mais importantes do Acre e sabemos por que as crianças que vivem ao longo dos mesmos ficam poucos anos nas escolas. É uma combinação perniciosa de dificuldade de acesso e falta de professores. Escolas bem estruturadas não faltam. É praticamente coisa do passado pois dinheiro para construir escolas tem até demais.

No rio Chandless, por exemplo, onde existem 14 famílias e dezenas de crianças e adultos com pouca ou nenhuma escolarização, existem escolas mas os professores se recusam a trabalhar naquela região tão isolada. Poucos querem se submeter a tamanho sacrifício em troca de um salário que pouco passa de um salário mínimo.

Faz mais de um ano que não tem professor naquela região. E tudo por uma questão salarial. Do pouco que investiguei, descobri que se fosse oferecido um salário por volta de R$ 1.000 apareceriam vários candidatos.

Nas cidades, os poucos que ganham bem querem mais

Enquanto no meio rural a população sofre porque candidatos a professores não se dispõem (com toda a razão) a trabalhar em condições mais que precárias, em troca de salários miseráveis, no meio urbano quem ganha bem quer sempre mais.

Vamos tomar como exemplo o caso dos Defensores Públicos, que tiveram amplo apoio da imprensa local em sua recente campanha salarial, que deverá resultar, no mínimo, na duplicação dos salários mais que razoáveis que a categoria ganha atualmente. Ou vocês acham que um salário que varia entre R$ 3.000 e R$ 10.000 é pouco?

Vejam que os Defensores possuem apenas o título de bacharel, como muitos professores da rede pública. E mesmo assim o menor salário de um Defensor é quase o triplo de um professor com o mesmo nível de escolaridade. E eles, os Defensores, querem muito mais que isso.

Será que merecem? Será que o Governo precisa mesmo investir tanto em salários de funcionários que passam a vida mediando conflitos derivados, em grande parte, da ignorância e falta de educação da população.

No lugar disso, não seria mais vantajoso para toda a sociedade, incluindo os "sem professores" do Chandelss, investir no salário dos professores que atuam em áreas de difícil acesso, em comunidades isoladas com grande número de pessoas em idade escolar fora da escola?

Pelo menos no caso do rio Chandless, o custo-beneficio é infinitamente maior. Lá um único professor irá formar pessoas e contribuirá efetivamente para mudar nossa sociedade. Pode até mudar trajetória de vidas, dando oportunidades a quem, de outra forma, não teria a menor chance de vencer permanecendo um iliterato.

E tudo isso pode acontecer com meros R$ 1.000,00/mês, ou 1/3 do menor salário atual de um Defensor!

Por isso não abro mão de mandar a seguinte mensagem para o Governador Binho Marques:

"Não baixe a guarda Governador! Não abra mão de seus ideais educaionais!"

O senhor sabe, há muito tempo, que muitas categorias de funcionários públicos urbanos, desses que sempre vivem sonhando em ganhar o teto salarial mais alto possível, vão sempre querer falar mais alto quando seus interesses salariais estão em jogo. Procuram deixar transparecer para a sociedade que são indispensáveis para o funcionamento da máquina pública. O senhor sabe que nem sempre é o caso.

Tenho certeza que o senhor sabe diferenciar e valorizar aqueles que, efetivamente, contribuem para mudar a nossa sociedade daqueles que sempre reivindicam os maiores quinhões, mas atuam, em grande parte, como meros intermediários de problemas sociais que nunca deixarão de existir.

Investir nestes últimos não cria perspectivas de mudanças significativas para a nossa sociedade.

Na qualidade de Governador, o senhor tem a obrigação de atender o anseio da maioria de nossa coletividade e promover mudanças verdadeiras no quadro social atual do Acre.

E o senhor sabe muito bem que a educação é a arma mais importante para promover estas mudanças.

Crédito da imagem: Revista Escola