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31 março 2008

O DRAMA DOS PROFISSIONAIS QUE COMETEM ERROS DE MEDICAÇÃO

O que se passa com os profissionais de enfermagem após a ocorrência de erros de medicação? Quais os sentimentos que predominam quando pessoas que foram treinadas para fazer o bem, causam o mal?

Nos últimos anos a imprensa tem mostrado com grande frequência erros atribuídos aos profissionais de saúde. Nos Estados Unidos, um relatório do Committee on Quality of Health Care in America and Institute of Medicine afirma que aproximadamente 7.000 americanos morrem, anualmente, por erros de medicação.

"Fiquei apavorada, e tentando descobrir o que tinha ocorrido, estava eu e o paciente passando mal, ai fui ver qual a medicação que tinha feito e realmente fiquei assustada ..."

Este fato traz à tona um grave problema vivenciado nos hospitais, pois os erros colocam em risco a integridade física dos clientes/usuários e a qualidade dos serviços oferecidos pelas instituições. Para os clientes, os erros podem gerar prolongamento da internação, aumento nos custos da hospitalização, necessidade de tratamentos adicionais, exames e procedimentos extras, assim como dor, sofrimento, seqüelas, podendo até levá-los à morte. Para as instituições, os reflexos destes comprometem a qualidade do atendimento, a imagem institucional, geram desconfiança e elevam os custos aumentando gastos.

"Eu fui para casa e ligava toda hora pra saber notícias, passei a noite com a consciência pesada, ruim, perturbada. Na hora, fiquei gelada. Pensei até o outro dia, era uma pessoa idosa, não dormi direito à noite, fiquei preocupada."

Os profissionais de saúde envolvidos em erros também sofrem conseqüências que podem ser de ordem administrativa, punições verbais, escritas, demissões, processos civis, legais e éticos. Estes podem impedí-los do exercício legal da profissão e causar danos emocionais, pois diante do erro é comum o surgimento de sentimentos indesejáveis. Esses profissionais sentem-se culpados, manifestam reações emocionais que podem levá-los a demissão voluntária por terem sua imagem profissional denegrida.

"Vergonha, fiquei com vergonha... Da equipe, de mim mesmo, de não ter prestado atenção..."

Um agravante nesse processo é que, mediante a ocorrência de erros de medicação, freqüentemente não é dada ênfase na educação, mas à punição, levando a subnotificação, prejuízo do conhecimento dos fatores de risco e facilitando a repetição do erro.

"Eu nunca esqueci. Na verdade sempre que eu estou na injeção eu lembro deste erro, sabe. Pra você ter idéia do tanto que marca a gente, né?"

Diante dessa problemática, é fundamental a compreensão dos sentimentos vivenciados pelos profissionais frente a situação de erro, para que seja possível agir preventivamente e, principalmente, oferecer a ajuda adequada ao profissional, de forma a tornar o ocorrido o menos danoso para ambas as partes (profissional e cliente).

"Eu aprendi a lição que com isso a gente não brinca, que não se brinca com medicamento, que não se brinca com vida."

Leia a íntegra do artigo 'Sentimentos de profissionais de enfermagem após a ocorrência de erros de medicação' no Blog Biodiversidade Acreana. O artigo foi publicado originalmente na Acta Paulista de Enfermagem, V 20 No. 4 São Paulo out./dez. 2007, e tem a autoria de Jânia Oliveira Santos (Enfermeira do Hospital de Urgências de Goiânia), Ana Elisa Bauer de Camargo Silva (Professora Assistente da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás), Denize Bouttelet Munari (Professora Titular da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás) e Adriana Inocenti Miasso (Professora do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - USP)