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19 maio 2008

SAÚDE: PACIENTES DA ERA 'INTERNET', MÉDICOS SOB PRESSÃO

Inovações tecnológicas e internet ampliam o acesso à informação e a possibilidade de interatividade. Na área de saúde esse fenômeno gerou o surgimento do chamado "paciente informado", aquele que busca informações sobre o diagnóstico, o sintoma, o medicamento e o custo de internação e tratamento de doenças, e acredita que seu saber deve ser levado em consideração pelo médico durante a consulta

Paciente informado pela 'web': fenômeno que altera a relação médico-paciente

Informe Ensp/Agência Fiocruz de Notícias

As inovações tecnológicas e a internet ampliaram infinitamente as fontes de informação e a possibilidade de interatividade. Nesse contexto, a saúde aparece como uma das áreas onde há cada vez mais informação disponível para um número cada vez maior de interessados.

Entre outras coisas, esse fenômeno gera o surgimento do chamado "paciente informado", aquele que busca na rede informações sobre o diagnóstico, o sintoma, o medicamento e o custo de internação e tratamento de doenças, e acredita que seu saber deve ser levado em consideração pelo médico durante a consulta.

Até que ponto isso interfere na autoridade e no prestígio social do médico e altera a relação médico-paciente, baseada tradicionalmente na assimetria de informações? Responder essa pergunta é o objetivo da pesquisa O impacto da internet na saúde: a percepção da população de baixa renda do Estado do Rio de Janeiro, contemplada pela Faperj no programa Pensa Rio – Apoio ao Estudo de Temas Relevantes e Estratégicos para o Estado do Rio de Janeiro.

O perfil desses consumidores de informação em saúde na internet tem se mostrado bastante variado. Por outro lado, os sites que tratam de temas e questões relativas à saúde-doença também já são incontáveis: alguns mantidos por empresas ligadas ao setor, outros organizados por pacientes ou profissionais da área, grupos de auto-ajuda de pacientes portadores de uma determinada doença, associações profissionais, organizações governamentais e não-governamentais, instituições de ensino e pesquisa etc. Há também fóruns interativos que oferecem informações e permitem, cada vez mais, a troca de experiências entre consumidores de serviços de saúde.

Esse cenário sempre gera discussões importantes sobre as dificuldades encontradas por pacientes leigos com a linguagem médica e com a incerteza advinda da multiplicidade de informações. “Muitas vezes a informação sobre saúde disponível na internet é incompleta, contraditória, incorreta ou até fraudulenta.

O cidadão comum, por sua vez, tem dificuldade de distinguir, por exemplo, o certo do enganoso ou o inédito do tradicional”, afirma o pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz e coordenador do estudo, Luis David Castiel. E ele enfatiza: “Independentemente do perfil e das razões que levam as pessoas a buscar informações sobre saúde e da qualidade da informação disponível, o impacto da internet na prevenção e promoção da saúde de milhares de cidadãos em todo o mundo é inquestionável e vem sendo alvo crescente de investigação acadêmica, principalmente nos EUA e na Europa. No Brasil, no entanto, essa produção ainda é pouco expressiva.”.

O foco do projeto, no entanto, é a influência que um dos fenômenos decorrentes desse quadro exerce sobre a relação médico-paciente. “O "paciente informado", que tem sido considerado por um grande número de autores um fruto da melhoria do nível educacional da população e da ampliação do acesso às informações técnico-científicas, não é apenas um paciente que tem informações questões relativas ao seu estado de saúde. Ele se sente, de alguma forma, um especialista cuja opinião deve ser levada em consideração pelo médico durante a consulta”, explica Castiel.

O projeto será desenvolvido por uma equipe formada pelos pesquisadores Maria Cristina Rodrigues Guilam, do Centro de Estudos de Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh); André de Faria Pereira Neto, do Departamento de Pesquisa da Casa de Oswaldo Cruz (COC); e Valéria Ferreira Romano, do mestrado em saúde da família da Faculdade de Medicina da Universidade Estácio de Sá.

O que muda quando os pacientes têm mais informações?

Para tentar definir em que medida a relação médico-paciente é afetada quando os cidadãos passam a ter acesso a informações sobre determinada doença, a equipe selecionou dois ambientes diferentes de observação: o Programa da Saúde da Família da Lapa (PSF/Lapa) e uma das Escolas de Informática e Cidadania (EICs), vinculada ao Comitê para Democratização da Informática (CDI), organização não-governamental sem fins lucrativos que, desde 1995, promove a inclusão digital e, conseqüentemente, social de populações menos favorecidas, utilizando as tecnologias da informação e comunicação como um instrumento para a construção e o exercício da cidadania.. “A idéia, ao selecionarmos dois ambientes distintos, foi de que, embora ambos sejam freqüentados por uma população de baixa renda, nas EICs os usuários têm acesso livre e gratuito à Internet e, conseqüentemente, mais acesso a informações sobre saúde do que os pacientes do PSF”, justificou.

As ECIs são escolas não-formais localizadas geralmente em instituições instaladas em comunidades de baixa renda ou em seu entorno. A comunidade que abriga uma EIC é orientada a buscar o apoio de instituições parceiras que colaborem para sua viabilidade financeira e operacional. “Trata-se de um processo vivo, que acontece numa relação de parceria dos atores envolvidos (equipe da EIC, CDI e comunidade) e que se tornam co-responsáveis pela gestão do projeto e pela busca de resultados eficazes de transformação social”, ressalta o pesquisador. Hoje em dia existem cerca de 840 EICs espalhadas em 19 estados, sobretudo no Rio de Janeiro, onde nasceu o CDI.

Segundo Castiel, a proposta é analisar o perfil dos usuários da EIC selecionada, identificando seus interesses e motivações para procurar informações sobre saúde. Num segundo momento, comparar esses dados com o de pacientes do PSF/Lapa (não usuários da internet). A partir daí, verificar a importância que as informações sobre a saúde têm para a promoção da saúde e a prevenção de doenças das pessoas e, de que forma a relação médico-paciente em que estes cidadãos estão envolvidos foi alterada pelo acesso ou falta de acesso às informações.

Internet e saúde: um laboratório na Fiocruz

Um segundo objetivo do projeto envolve a construção, com apoio da Faperj, do espaço físico destinado a uma Escola de Informação e Cidadania (EIC), no campus da Fiocruz. O Centro de Saúde da Ensp é freqüentado por grande parte da população de Manguinhos – cerca de 50 mil habitantes, distribuídos em 12 mil domicílios, com renda per capita menor que R$ 150 e excluída socialmente.

“Estamos propondo uma parceria entre a equipe da EIC, do CDI, da Fiocruz e da comunidade do Complexo de Manguinhos, de forma que todos se tornam co-responsáveis pela gestão e pela busca de resultados eficazes de transformação social, pois a instalação de uma EIC não se esgota com a aquisição de computadores e adequação do espaço físico”, afirma Castiel, garantindo: “É uma proposta pedagógica de inclusão digital voltada para a construção da cidadania”.

De acordo com a equipe do projeto, a Fiocruz é uma instituição ideal para acolher um projeto pioneiro. Além de sua notoriedade científica e acadêmica, ela se destaca por seu compromisso social e pela busca de soluções para os problemas que afetam o pleno desenvolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS). “Nesse sentido”, complementa o pesquisador, "a idéia é que a EIC/Fiocruz possa funcionar também como um laboratório de internet e saúde, no qual possam ser desenvolvidas futuras pesquisas sobre o impacto da rede na saúde das pessoas”.

1 Comments:

Blogger Acreucho said...

Esta é a mais pura verdade, eu mesmo estive doente em 2005, fiz até uma cirurgia e pesquisei profundamente na Net sobre a doença, minha esposa também esteve doente e fez cirurgia e pesquisamos sobre o problema dela também, para podermos conversar "de igual pra igual", com o médico.
Acabou-se o tempo dos AAS e da Sulfa...

19/05/2008, 22:49  

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