Google
Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

18 junho 2008

ALTO PREÇO DO CIMENTO NO ACRE

Será que apenas a escassez e o frete explicam o preço exagerado do cimento no Acre?

O jornalista Freud Antunes, do jornal A Tribuna, fez ontem (17/06) uma breve matéria sobre a crise do cimento no Acre. Foi interessante ver que o repórter teve dificuldades para entrevistar os donos das distribuidoras de cimento. Esse receio de falar por parte dos distribuidores não se justifica pois algumas semanas atrás a mesma A Tribuna fez matéria similar e conseguiu depoimentos de alguns empresários. Lembro que tinha até foto de um depósito vazio. Enfim, Freud Antunes concluiu que a desculpa para o aumento foi a escassez e o preço do frete.

Quanto ao primeiro motivo, não dá para duvidar. O produto está em falta no país porque o consumo aumentou muito. Matéria do Diário de Cuiabá informa que "Dados preliminares da indústria e estimativas de mercado apontam que as vendas de cimento para o mercado interno brasileiro acumuladas nos últimos doze meses – junho de 2007 a maio deste ano – atingiram 47,3 milhões de toneladas, apresentando crescimento de 13,7% sobre igual período anterior."

Com relação ao custo do frete, a história é diferente. Vejam o que declarou ao mesmo diário cuiabano o Diretor Comercial da Votorantin, Marcelo Chamma, sobre o plano da empresa de trazer cimento da sua fábrica de Laranjeiras (SE), a 2,3 mil quilômetros de Cuiabá, para garantir o suprimento do mercado mato-grossense, que ainda continua desabastecido:

"A empresa irá trazer de 300 a 500 toneladas por dia de cimento. Com isso, o abastecimento será normalizado no máximo em 90 dias, garante...o custo por bolsa irá encarecer em R$ 1 por saca de 50 Kg, por conta do frete, mas os preços ao consumidor devem cair em torno de R$ 4 por saca em função da oferta, que será aquecida. Estamos atualmente com preços elevados – R$ 23 a R$ 24 – por causa justamente da falta do produto. Quando estivermos recebendo o cimento de Sergipe, o mercado se ajustará naturalmente e os preços voltarão ao patamar de R$ 19 a R$ 20 a saca”, afirma Chama".

É isso mesmo: para viajar 2,3 mil quilômetros, a Votorantim estima que o custo do frete encarecerá o preço da saca de 50 kg em R$ 1! Eu não acredito que uma carreta com cerca de 800 sacas cobre apenas R$ 800 de frete para viajar esta distância! Este valor não paga nem o combustível! Deve ser um pouco mais alto. Ou vai ver, o cimento a granel é transportado de trem e apenas ensacado em Cuiabá.

Mas fico curioso sobre o real valor do frete do cimento entre o Mato Grosso e o Acre, separados por 2 mil quilômetros de estrada asfaltada e em condições relativamente boas. Em Cuiabá, a saca de 50 kg custa entre R$ 23-24 e em Rio Branco entre R$ 30-33. Uma diferença entre R$ 7-9 reais. Considerando que os distribuidores acreanos compram diretamente das fábricas e pagam um pouco menos do que o preço final cobrado do consumidor cuiabano, dá para estimar que a "margem" bruta, incluindo o frete, deve estar acima de R$ 10 reais por cada saca.

Alguém está ganhando muito dinheiro com esta situação. E os consumidores acreanos é que estão pagando. Isso talvez explique o fato dos distribuidores locais terem ficado 'cabreiros' para dar entrevista ao Freud Antunes.

Se eu fosse Editor-Chefe de A Tribuna, pediria para o Freud Antunes insistir na mesma matéria, apresentando os números fornecidos pelo Diretor da Votorantim para que os empresários emitissem algum juízo.

Será que é apenas a escassez e o frete que têm contribuído para a alta exagerada do preço do cimento vendido no Acre?