VEGETAÇÃO DO ACRE: CERRADOS DOMINAVAM A PAISAGEM
Durante o Pleistoceno, há 1,6 milhões de anos atrás, mamíferos herbívoros gigantes existiam em grande número nos campos acreanos. Na época, a savana dominava a paisagem local
Há 1,6 milhões de anos, existiu no lugar da floresta equatorial sul-americana uma área de savana que se espalhava por toda a Amazônia ocidental, segundo revela a análise de fósseis descobertos na região, que inclui toda a floresta de Peru e Equador, parte dos territórios de Bolívia e Colômbia, o estado do Acre e porção ocidental do estado do Amazonas. Isso é o que o paleontólogo Alceu Ranzi, da Universidade Federal do Acre (UFAC), mostra no livro Paleoecologia da Amazônia - megafauna do pleistoceno.
De acordo com a teoria dos redutos florestais, durante o pleistoceno, que vai de 2 milhões a 12 mil anos atrás, ocorreram diversas glaciações responsáveis pelo resfriamento do planeta. No hemisfério sul, as calotas polares aumentaram, os cumes das montanhas se encheram de gelo e a umidade do ar diminuiu por não haver calor para a evaporação. Na Amazônia, a temperatura média caiu pelo menos 4,5 graus centígrados. Nos períodos secos, a região era dominada por savanas e cerrados e a mata se reduzia a pequenas 'manchas' de vegetação tropical (chamadas redutos) restritas a galerias ao longo dos rios.
A teoria, entretanto, apontava a existência de redutos ao longo dos rios Juruá (Acre), Ucayali (Peru) e Napo (Equador), localização contestada por Ranzi: "Fósseis encontrados nessa região me dizem que, durante o pleistoceno, os animais que lá viveram eram típicos de savanas e não de florestas". Segundo ele, a dentição dos fósseis era própria para comer plantas de casca grossa, como as do cerrado. "Os dentes desses animais cresciam continuamente, por causa do desgaste durante a alimentação."
Dentre os fósseis analisados pelo paleontólogo, destacam-se os de animais de grande porte como mastodontes, semelhantes aos atuais elefantes; toxodontes, próximos dos rinocerontes das savanas africanas; preguiças e tatus gigantes. No entanto, toda essa megafauna desapareceu quando as florestas voltaram a crescer, no fim da última glaciação (que durou de 30 mil a 12 mil anos atrás). Apenas alguns animais de pequeno e médio porte sobreviveram à extinção generalizada por possuírem "adaptações que lhes permitem viver tanto em florestas pluviais ou decíduas, cerrado, chaco e caatinga", segundo Ranzi. A irara, a anta, o tatu e o porco do mato são exemplos de animais que já existiam no pleistoceno e ainda são vistos hoje na Amazônia.
Para escrever seu livro, Ranzi trabalhou por 10 anos à procura de fósseis de mamíferos do pleistoceno na região amazônica. A análise do material levou-o a formular uma hipótese para explicar a grande biodiversidade da fauna e flora da região: segundo ele, ela se deve à mistura de espécies de savana e floresta.
*Orignalmente publicada na revista Ciência Hoje.
Ilustração: Toxodontes e preguiça gigante, exemplos da fauna amazônica no pleistoceno
Há 1,6 milhões de anos, existiu no lugar da floresta equatorial sul-americana uma área de savana que se espalhava por toda a Amazônia ocidental, segundo revela a análise de fósseis descobertos na região, que inclui toda a floresta de Peru e Equador, parte dos territórios de Bolívia e Colômbia, o estado do Acre e porção ocidental do estado do Amazonas. Isso é o que o paleontólogo Alceu Ranzi, da Universidade Federal do Acre (UFAC), mostra no livro Paleoecologia da Amazônia - megafauna do pleistoceno.
De acordo com a teoria dos redutos florestais, durante o pleistoceno, que vai de 2 milhões a 12 mil anos atrás, ocorreram diversas glaciações responsáveis pelo resfriamento do planeta. No hemisfério sul, as calotas polares aumentaram, os cumes das montanhas se encheram de gelo e a umidade do ar diminuiu por não haver calor para a evaporação. Na Amazônia, a temperatura média caiu pelo menos 4,5 graus centígrados. Nos períodos secos, a região era dominada por savanas e cerrados e a mata se reduzia a pequenas 'manchas' de vegetação tropical (chamadas redutos) restritas a galerias ao longo dos rios.
A teoria, entretanto, apontava a existência de redutos ao longo dos rios Juruá (Acre), Ucayali (Peru) e Napo (Equador), localização contestada por Ranzi: "Fósseis encontrados nessa região me dizem que, durante o pleistoceno, os animais que lá viveram eram típicos de savanas e não de florestas". Segundo ele, a dentição dos fósseis era própria para comer plantas de casca grossa, como as do cerrado. "Os dentes desses animais cresciam continuamente, por causa do desgaste durante a alimentação."
Dentre os fósseis analisados pelo paleontólogo, destacam-se os de animais de grande porte como mastodontes, semelhantes aos atuais elefantes; toxodontes, próximos dos rinocerontes das savanas africanas; preguiças e tatus gigantes. No entanto, toda essa megafauna desapareceu quando as florestas voltaram a crescer, no fim da última glaciação (que durou de 30 mil a 12 mil anos atrás). Apenas alguns animais de pequeno e médio porte sobreviveram à extinção generalizada por possuírem "adaptações que lhes permitem viver tanto em florestas pluviais ou decíduas, cerrado, chaco e caatinga", segundo Ranzi. A irara, a anta, o tatu e o porco do mato são exemplos de animais que já existiam no pleistoceno e ainda são vistos hoje na Amazônia.
Para escrever seu livro, Ranzi trabalhou por 10 anos à procura de fósseis de mamíferos do pleistoceno na região amazônica. A análise do material levou-o a formular uma hipótese para explicar a grande biodiversidade da fauna e flora da região: segundo ele, ela se deve à mistura de espécies de savana e floresta.
*Orignalmente publicada na revista Ciência Hoje.
Ilustração: Toxodontes e preguiça gigante, exemplos da fauna amazônica no pleistoceno
1 Comments:
Com certeza professor...uma boa parte dele...piadinha
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