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03 junho 2008

TELAS TRATADAS COM INSETICIDAS X MALÁRIA

Telas tratadas com inseticida podem ser uma alternativa para o controle da malária

Renata Moehlecke
Agência Fiocruz de Notícias

Pesquisadores do Centro de Pesquisas de Controle de Vetores da Índia mostraram que a utilização de telas de proteção tratadas com inseticida pode ser uma forma eficaz de substituir o uso de pesticidas no programa de combate ao mosquito transmissor da malária. Em artigo publicado na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz da Fiocruz, os cientistas relatam os resultados da experiência de troca realizada no distrito de Koraput, localizado no estado indiano de Orissa. A região, onde 74% das pessoas vivem em tribos e têm como principal ocupação a agricultura e a coleta de produtos florestais, é considerada uma das maiores áreas endêmicas da doença no país. Mais de 95% do total de casos no distrito são de malária causada pelo Plasmodium falciparum, transmitido principalmente pelo Anopheles fluviatilis.

Para a análise da praticidade e da aceitabilidade da estratégia, os pesquisadores distribuíram gratuitamente 25 mil telas de proteção para os moradores do distrito, que eram instruídos sobre o uso apropriado do material em cima das camas e sobre o programa de controle da doença. Os resultados da ação apontaram que 74% a 76% dos participantes notaram uma redução das picadas de mosquito e que 7% a 32% das pessoas observaram diminuição da incidência de malária. Os pesquisadores explicam que apenas cerca de 10% dos indivíduos já possuíam telas, embora não estivessem tratadas com o inseticida, e que mais de 80% não tinham tido nenhum contato com o objeto. “Entre aqueles que possuíam telas não tratadas, a maioria (95%) afirmou que as adquiriam por proteção contra perturbação por picadas de mosquito e 19,1% dos entrevistados apontaram que o motivo era se prevenir da malária”, comentam os autores.

Além disso, a pesquisa concluiu que as telas foram utilizadas em 80% durante a estação fria, 74% na chuvosa e 55% no verão. “No verão, quando a prevalência do mosquito é menor e a malária é vista como não razoável, seria difícil de conquistar altas taxas de uso das telas”, elucidam os cientistas. “Seria necessário o desenvolvimento de mensagens apropriadas e materiais de comunicação que explicassem como é possível a malária ser uma ameaça mesmo quando aparecimento do inseto é escasso”.

As telas foram entregues aos moradores entre julho e agosto de 2002 e, oito meses depois da distribuição, foi realizado um novo tratamento destas com inseticida por profissionais de saúde do programa. Houve ainda um segundo tratamento em maio de 2004. “Mais de 10 meses após o tratamento, foi notada quase 100% da mortalidade dos vetores em telas não lavadas e lavadas até duas vezes pelos moradores”, esclarecem os pesquisadores.

Os dados também mostraram que, dos participantes da análise, 37% expressaram concordância em passar a comprar as telas se o custo for baixo e se tiverem recursos. De acordo com o artigo, a expansão do método na Índia para outras áreas endêmicas de malária depende dos resultados da experiência deste programa. “O estudo mostrou a aceitação da comunidade ao uso das telas quando ela percebeu o benefício”, afirmam os autores. Mesmo assim, seriam necessários estudos em que os moradores pagassem pelas telas e a comunidade fosse responsável pela própria distribuição e por sistemas de re-impregnação. “As pessoas podem vir a pagar pelas telas tratadas se elas estiverem disponíveis logo após a estação de colheitas, quando elas vendem a produção e tem dinheiro suficiente, fase que coincide também com o período de altas taxas de nascimento dos mosquitos”, sugerem.