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Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

23 junho 2008

O POVO DA FLORESTA TAMBÉM USA RELÓGIO

"Olhasse melhor a sua volta, veria que a grande maioria dos ribeirinhos manda seus filhos para a escola e que esta funciona apoiada na organização das horas técnicas...Ou seja, essas pessoas descartadas das considerações sobre o fuso horário pelo notável do governo, necessitam do relógio para programar seus tempos e os seus horários. Também existem escolas nos seringais (pelo menos, havia)"

Mário Lima

Enquanto havia algum espaço para uma discussão capaz de gerar resultados ou mudanças de posições no encaminhamento do assunto estive (e ainda estou) ao lado dos que viam na mudança do fuso horário um caminho que provocaria prejuízos para o conjunto das comunidades que formam a realidade regional. Assinada a lei – o que foi realizado de forma não adequada, dado que a revelia da opinião de todos -, conclui deslocar meus esforços para outros temas e assuntos. Entretanto, nos últimos dias, período que antecede a adoção do novo fuso horário, alguns acontecimentos passaram a incomodar. Um desses incômodos decorre dos termos que compõem a ‘propaganda’ patrocinada pelo governo. Hoje, li no jornal A Tribuna, uma nota da qual retirei a passagem abaixo:

"Braga diz que os horários nos Estados e nos países são convenções que há muitos anos foram determinadas para dar um norte para que cada país e, por conseqüência, cada Estado se adequasse a um horário." Essa pérola é atribuída ao homem que cuida da 'propaganda' do governo. Essa ‘mera’ convenção a que ele se refere passou a ordenar o ‘processo de trabalho’ das sociedades, mundo afora. Sem qualquer importância, não é? A classe trabalhadora que o diga.

Sobre o tema do fuso horário ele já demonstrou que entende pouco dos muitos aspectos envolvidos quando divulgou um artigo onde levanta a referência do meio dia na formulação do horário de cada região. Um tema técnico a exigir a consideração de elementos sequer lembrados no texto que ele assinou.

Agora, com essa campanha sobre a mudança, ele demonstra praticar uma linha de propaganda que não pode ser considerada muito adequada, principalmente, quando se trata de propaganda de governo. Parece ser consensual que falsear a verdade, desvirtuar fatos históricos, inventar fundamentos e conteúdos não é um bom caminho para qualquer governo. Um outdoor reproduzido na imprensa é demonstrativo de como a propaganda enveredou nesse caminho. Agora, como porta-voz governamental, usa a imprensa para declarações nas quais confunde o papel de esclarecimento e convencimento que deveria ser a base da propaganda com um exercício de ‘autoritarismo’ e prepotência quando faz referência aos diversos grupos que compõe a comunidade acreana.

Não bastasse minimiza o tema quando fala ou opina sobre a noção de 'convenção', que para ele é algo absolutamente sem valor social. Pensasse um pouco melhor chegaria à conclusão que as 'convenções' são elementos fundamentais na organização do mundo dos homens na medida que emergem da prática quotidianas, formuladas e praticadas coletivamente, ou seja, algo que nasce de amplos consensos construídos ao longo da história das sociedades.

Entendesse isso, teria concluído que é de fundamental importância a consideração dos períodos noturno e diurno para na determinação da ‘convenção’ dos fusos. Olhasse melhor a sua volta, veria que a grande maioria dos ribeirinhos – pode, até mesmo, ser a totalidade - manda seus filhos para a escola e que esta funciona apoiada na organização das horas técnicas com as quais conta. Ou seja, essas pessoas descartadas das considerações sobre o fuso horário pelo notável do governo, necessitam, sim, do relógio para programar seus tempos e os seus horários. Também existem escolas nos seringais (pelo menos, havia).