SUSTENTABILIDADE DA MÍDIA NA WEB
Internet: Jornais atrás da fórmula mágica
Por Carlos Castilho, para o Observatório da Imprensa, 01/09/2008
Os executivos da grande imprensa têm, pelo menos, uma coisa em comum com os blogueiros independentes: ambos estão a procura da fórmula para conseguir a sustentabilidade financeira na Web.
Trata-se de uma busca que até agora não conduziu a uma estratégia financeira capaz de tornar menos arriscada e incerta a transição do modelo convencional de publicação de informações para o formato digital, na internet.
As empresas jornalísticas assistem impotentes a migração de seu público e de seus anunciantes em direção à Web, sem poderem compensar as perdas com novos usuários e novas receitas publicitárias. O mesmo acontece com os blogueiros autônomos, que salvo raríssimas exceções ainda sobrevivem com o salário de empregos convencionais.
O pior de tudo é que crescem os indícios de que a procura da fórmula salvadora ainda vai demorar muito, ou de que provavelmente ela nunca será encontrada.
O grande problema das empresas é que a notícia, a sua principal mercadoria de troca com o leitor, perdeu quase todo o seu valor pelo fato de poder ser encontrada grátis em milhares de paginas da Web, no fenômeno que se convencionou chamar da avalancha informativa.
As versões online dos jornais continuam sendo a principal referência informativa dos internautas, mas a receita publicitária é ínfima (menos de 10% da receita da versão impressa) e insuficiente para manter a operação na Web. O ideal seria a versão impressa financiar provisoriamente a online, só que os jornais estão perdendo fontes tradicionais de receita como os anúncios classificados, bem como a publicidade de automóveis e construção civil, com exceção do Brasil.
Aqui, a nossa imprensa vive em plena bolha financeira provocada pelo boom imobiliário e pelo crédito fácil para a compra de automóveis. Os donos de jornais estão eufóricos e com isto a transição para o modelo digital foi desacelerada e a busca da fórmula mágica deixou de ser uma obsessão como nos Estados Unidos e Europa.
O processo em marcha na imprensa mundial mostra uma irreversível diminuição da rentabilidade da mídia convencional, especialmente a impressa, num fenômeno que torna compulsória a mudança de modelo de negócios.
Por outro lado, cresce a convicção de especialistas na mídia contemporânea de que a imprensa digital jamais alcançará a mesma rentabilidade da versão convencional, por conta de uma — também irreversível — segmentação do mercado, com a formação de nichos informativos.
O conglomerado europeu de mídia Mecon resolveu apostar na diversificação. Está criando em média uma página web por semana, tanto no segmento de redes sociais para públicos específicos como nos cassinos online.
David Montgomery, o executivo chefe da Mecon, anunciou que a estratégia agora é aumentar o número de compradores de jornais oferecendo também desde livros e DVDs grátis até entradas de cinema e sorteios quase diários.
Ainda na Europa, o tablóide sensacionalista Sun, do império Murdoch, vai rifar entre seus leitores 2.200 ingressos para a abertura da temporada lírica em Londres a preços quase 10 vezes menores do que o normal. É uma manobra para atrair leitores classe A para um jornal famoso por suas manchetes escabrosas e pelas fotos de mulheres nuas.
Jeff Jarvis, blogueiro e professor da Escola de Jornalismo da Universidade de Nova York, defende a tese de que a imprensa está passando de uma “economia do conteúdo para uma economia do link”, ou seja: o valor da notícia não está mais no seu conteúdo, mas sim na quantidade de vezes que ela é linkada por outras páginas.
Também a equação econômica na imprensa sofreu uma inversão de componentes, pois agora a regra é crescer primeiro e depois buscar a rentabilidade. Antes, o crescimento só acontecia depois de investimentos iniciais. Na Web atual, a aposta inicial é na criatividade para conquistar usuários e só depois de tornar-se um sucesso de público é que o empreendimento obtém recursos financeiros.
Outro grande dilema dos executivos da mídia convencional é que todos eles foram criados na cultura do "planeje, junte recursos e faça". Agora, além de esta regra ter sido quebrada, os empreendimentos que deram certo na Web não foram planejados e só foram buscar recursos depois de terem crescido. Exemplo disto é o mecanismo de buscas Google. O site You Tube até hoje não tem um modelo de negócios.
Na busca da fórmula mágica, uma coisa parece estar ganhando corpo: na mídia tradicional, os empreendedores desenvolvem um produto e depois o oferecem ao público. Na Web, a norma parece ser outra: o empreendedor chama o público e o usa para desenvolver o produto. Com isto ele baixa os custos de desenvolvimento, mas em compensação corre o risco de perder o controle total do projeto porque os usuários começam a criar novas utilidades.
Os críticos da fórmula mágica, entre os quais está Steve Outing, do Poynter Institute, de Saint Petersburg, Florida, justificam sua posição afirmando que cada jornal terá que procurar no seu público leitor a receita para a sobrevivência. Isto significa que haverá uma solução diferente para cada caso, pois nenhum leitor é igual ao outro.
(Envolverde/Observatório da Imprensa)
© Copyleft - É livre a reprodução exclusivamente para fins não comerciais, desde que o autor e a fonte sejam citados e esta nota seja incluída
Por Carlos Castilho, para o Observatório da Imprensa, 01/09/2008
Os executivos da grande imprensa têm, pelo menos, uma coisa em comum com os blogueiros independentes: ambos estão a procura da fórmula para conseguir a sustentabilidade financeira na Web.
Trata-se de uma busca que até agora não conduziu a uma estratégia financeira capaz de tornar menos arriscada e incerta a transição do modelo convencional de publicação de informações para o formato digital, na internet.
As empresas jornalísticas assistem impotentes a migração de seu público e de seus anunciantes em direção à Web, sem poderem compensar as perdas com novos usuários e novas receitas publicitárias. O mesmo acontece com os blogueiros autônomos, que salvo raríssimas exceções ainda sobrevivem com o salário de empregos convencionais.
O pior de tudo é que crescem os indícios de que a procura da fórmula salvadora ainda vai demorar muito, ou de que provavelmente ela nunca será encontrada.
O grande problema das empresas é que a notícia, a sua principal mercadoria de troca com o leitor, perdeu quase todo o seu valor pelo fato de poder ser encontrada grátis em milhares de paginas da Web, no fenômeno que se convencionou chamar da avalancha informativa.
As versões online dos jornais continuam sendo a principal referência informativa dos internautas, mas a receita publicitária é ínfima (menos de 10% da receita da versão impressa) e insuficiente para manter a operação na Web. O ideal seria a versão impressa financiar provisoriamente a online, só que os jornais estão perdendo fontes tradicionais de receita como os anúncios classificados, bem como a publicidade de automóveis e construção civil, com exceção do Brasil.
Aqui, a nossa imprensa vive em plena bolha financeira provocada pelo boom imobiliário e pelo crédito fácil para a compra de automóveis. Os donos de jornais estão eufóricos e com isto a transição para o modelo digital foi desacelerada e a busca da fórmula mágica deixou de ser uma obsessão como nos Estados Unidos e Europa.
O processo em marcha na imprensa mundial mostra uma irreversível diminuição da rentabilidade da mídia convencional, especialmente a impressa, num fenômeno que torna compulsória a mudança de modelo de negócios.
Por outro lado, cresce a convicção de especialistas na mídia contemporânea de que a imprensa digital jamais alcançará a mesma rentabilidade da versão convencional, por conta de uma — também irreversível — segmentação do mercado, com a formação de nichos informativos.
O conglomerado europeu de mídia Mecon resolveu apostar na diversificação. Está criando em média uma página web por semana, tanto no segmento de redes sociais para públicos específicos como nos cassinos online.
David Montgomery, o executivo chefe da Mecon, anunciou que a estratégia agora é aumentar o número de compradores de jornais oferecendo também desde livros e DVDs grátis até entradas de cinema e sorteios quase diários.
Ainda na Europa, o tablóide sensacionalista Sun, do império Murdoch, vai rifar entre seus leitores 2.200 ingressos para a abertura da temporada lírica em Londres a preços quase 10 vezes menores do que o normal. É uma manobra para atrair leitores classe A para um jornal famoso por suas manchetes escabrosas e pelas fotos de mulheres nuas.
Jeff Jarvis, blogueiro e professor da Escola de Jornalismo da Universidade de Nova York, defende a tese de que a imprensa está passando de uma “economia do conteúdo para uma economia do link”, ou seja: o valor da notícia não está mais no seu conteúdo, mas sim na quantidade de vezes que ela é linkada por outras páginas.
Também a equação econômica na imprensa sofreu uma inversão de componentes, pois agora a regra é crescer primeiro e depois buscar a rentabilidade. Antes, o crescimento só acontecia depois de investimentos iniciais. Na Web atual, a aposta inicial é na criatividade para conquistar usuários e só depois de tornar-se um sucesso de público é que o empreendimento obtém recursos financeiros.
Outro grande dilema dos executivos da mídia convencional é que todos eles foram criados na cultura do "planeje, junte recursos e faça". Agora, além de esta regra ter sido quebrada, os empreendimentos que deram certo na Web não foram planejados e só foram buscar recursos depois de terem crescido. Exemplo disto é o mecanismo de buscas Google. O site You Tube até hoje não tem um modelo de negócios.
Na busca da fórmula mágica, uma coisa parece estar ganhando corpo: na mídia tradicional, os empreendedores desenvolvem um produto e depois o oferecem ao público. Na Web, a norma parece ser outra: o empreendedor chama o público e o usa para desenvolver o produto. Com isto ele baixa os custos de desenvolvimento, mas em compensação corre o risco de perder o controle total do projeto porque os usuários começam a criar novas utilidades.
Os críticos da fórmula mágica, entre os quais está Steve Outing, do Poynter Institute, de Saint Petersburg, Florida, justificam sua posição afirmando que cada jornal terá que procurar no seu público leitor a receita para a sobrevivência. Isto significa que haverá uma solução diferente para cada caso, pois nenhum leitor é igual ao outro.
(Envolverde/Observatório da Imprensa)
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