ABELHAS: ZUMBIDO PROTETOR
Som produzido por abelhas previne destruição das folhas das plantas por lagartas
Zumbido protetor
[Além de polinizar as flores, as abelhas protegem as plantas do ataque de lagartas (foto: Helga R. Heilmann/ BEEgroup)].
Muita gente perde o apetite quando sofre alguma perturbação. Com as lagartas não é diferente. Um estudo alemão mostrou que elas comem menos folhas das plantas que infestam quando são constantemente expostas ao zumbido de abelhas. Os resultados, publicados esta semana na revista Current Biology, revelam que as abelhas têm outra importante função para as plantas além da polinização: protegê-las do ataque de pragas.
Em estudos anteriores, o pesquisador Jürgen Tautz, da Universidade de Würzburg (Alemanha), já havia descoberto que muitas lagartas possuem finos pêlos sensoriais que lhes permitem detectar vibrações no ar, como o som do bater de asas de vespas predadoras. Como estratégia de defesa para tentar garantir sua sobrevivência, as lagartas – que comem quase sem parar – ficam imóveis ou se soltam da planta ao perceber a aproximação das vespas.
Agora, uma equipe liderada por Tautz descobriu que o mesmo acontece quando abelhas inofensivas se aproximam. “O sistema nervoso e o equipamento sensorial das lagartas é muito simples e não consegue diferenciar vespas e abelhas, já que elas têm tamanho e freqüência de batimento de asas iguais”, diz o pesquisador à CH On-line. Se a exposição ao zumbido de abelhas for constante, como acontece em árvores frutíferas muito carregadas de flores, as lagartas se alimentarão bem menos, o que resultará em plantas mais saudáveis.
Pimentão, soja, abelhas e lagartas
[As lagartas têm um sistema de defesa que faz com que fiquem imóveis ou se soltem das plantas ao perceberem a aproximação de um possível predador, o que resulta em um dano menor às folhas (foto: Helga R. Heilmann/ BEEgroup)]
Para testar se as abelhas eram mesmo capazes de reduzir a atividade das lagartas, os cientistas montaram duas tendas de mesmo tamanho próximas uma da outra. Em cada tenda foram plantadas dez árvores de pimentão (Capsicum annuum) com seis a 15 folhas por planta e, em outro experimento, dez plantas de soja (Glycine max) com 11 a 30 folhas cada uma. O pimentão foi testado com e sem frutos.
No início dos experimentos, dez lagartas da espécie Spodoptera exigua foram colocadas em cada planta. Essa espécie foi escolhida porque se alimenta de cerca de 50 plantas diferentes, tem pêlos sensoriais capazes de detectar a vibração do ar e exibe respostas de defesa contra vespas quando estimulada pela vibração de ar gerada pelo bater de asas.
Uma das tendas estava conectada a uma colméia e tinha recipientes com soluções açucaradas semelhantes ao néctar, que atraíam as abelhas. Depois de 13 a 18 dias, quando a maior parte das lagartas havia completado seu ciclo de crescimento e iniciado a fase de pupa, as plantas foram removidas das tendas e as folhas destacadas para avaliação.
Destruição menor de folhas
[Após 18 dias de exposição a lagartas, as folhas de soja da tenda que recebeu a visita de abelhas (à esquerda) sofreram dano muito menor que o das folhas de soja da tenda sem conexão com a colméia (à direita). Fotos: Current Biology.]
Nos experimentos com árvores sem frutos, as lagartas destruíram de 60% a 70% menos folhas na tenda que tinha sido visitada por abelhas em comparação com as plantas da tenda às quais esses insetos não tiveram acesso. Uma diferença menor nos danos às folhas foi observada nos testes com plantas com frutos, porque as lagartas se deslocaram para dentro dos pimentões.
“Nossos resultados indicam pela primeira vez que a visita de abelhas dá às plantas uma vantagem totalmente inesperada: as abelhas que voam ao redor das plantas inibem a intensidade da alimentação de lagartas herbívoras, resultando em uma clara redução do dano às folhas”, dizem os pesquisadores no artigo. A equipe pretende agora testar o sistema em uma área maior.
Tautz acredita que a descoberta pode ser usada no desenvolvimento de um método de controle biológico de pragas totalmente novo e ter aplicações na agricultura sustentável. “A habilidade das abelhas pode permitir a redução do uso de inseticidas em certos locais e por certos períodos, se os cultivos forem combinados com o plantio de flores que atraiam a visita desses insetos”, afirma. “Conseqüentemente, isso pode diminuir um pouco a poluição ambiental.”
Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line
22/12/2008
Zumbido protetor
[Além de polinizar as flores, as abelhas protegem as plantas do ataque de lagartas (foto: Helga R. Heilmann/ BEEgroup)].
Muita gente perde o apetite quando sofre alguma perturbação. Com as lagartas não é diferente. Um estudo alemão mostrou que elas comem menos folhas das plantas que infestam quando são constantemente expostas ao zumbido de abelhas. Os resultados, publicados esta semana na revista Current Biology, revelam que as abelhas têm outra importante função para as plantas além da polinização: protegê-las do ataque de pragas.
Em estudos anteriores, o pesquisador Jürgen Tautz, da Universidade de Würzburg (Alemanha), já havia descoberto que muitas lagartas possuem finos pêlos sensoriais que lhes permitem detectar vibrações no ar, como o som do bater de asas de vespas predadoras. Como estratégia de defesa para tentar garantir sua sobrevivência, as lagartas – que comem quase sem parar – ficam imóveis ou se soltam da planta ao perceber a aproximação das vespas.
Agora, uma equipe liderada por Tautz descobriu que o mesmo acontece quando abelhas inofensivas se aproximam. “O sistema nervoso e o equipamento sensorial das lagartas é muito simples e não consegue diferenciar vespas e abelhas, já que elas têm tamanho e freqüência de batimento de asas iguais”, diz o pesquisador à CH On-line. Se a exposição ao zumbido de abelhas for constante, como acontece em árvores frutíferas muito carregadas de flores, as lagartas se alimentarão bem menos, o que resultará em plantas mais saudáveis.
Pimentão, soja, abelhas e lagartas
[As lagartas têm um sistema de defesa que faz com que fiquem imóveis ou se soltem das plantas ao perceberem a aproximação de um possível predador, o que resulta em um dano menor às folhas (foto: Helga R. Heilmann/ BEEgroup)]
Para testar se as abelhas eram mesmo capazes de reduzir a atividade das lagartas, os cientistas montaram duas tendas de mesmo tamanho próximas uma da outra. Em cada tenda foram plantadas dez árvores de pimentão (Capsicum annuum) com seis a 15 folhas por planta e, em outro experimento, dez plantas de soja (Glycine max) com 11 a 30 folhas cada uma. O pimentão foi testado com e sem frutos.
No início dos experimentos, dez lagartas da espécie Spodoptera exigua foram colocadas em cada planta. Essa espécie foi escolhida porque se alimenta de cerca de 50 plantas diferentes, tem pêlos sensoriais capazes de detectar a vibração do ar e exibe respostas de defesa contra vespas quando estimulada pela vibração de ar gerada pelo bater de asas.
Uma das tendas estava conectada a uma colméia e tinha recipientes com soluções açucaradas semelhantes ao néctar, que atraíam as abelhas. Depois de 13 a 18 dias, quando a maior parte das lagartas havia completado seu ciclo de crescimento e iniciado a fase de pupa, as plantas foram removidas das tendas e as folhas destacadas para avaliação.
Destruição menor de folhas
[Após 18 dias de exposição a lagartas, as folhas de soja da tenda que recebeu a visita de abelhas (à esquerda) sofreram dano muito menor que o das folhas de soja da tenda sem conexão com a colméia (à direita). Fotos: Current Biology.]
Nos experimentos com árvores sem frutos, as lagartas destruíram de 60% a 70% menos folhas na tenda que tinha sido visitada por abelhas em comparação com as plantas da tenda às quais esses insetos não tiveram acesso. Uma diferença menor nos danos às folhas foi observada nos testes com plantas com frutos, porque as lagartas se deslocaram para dentro dos pimentões.
“Nossos resultados indicam pela primeira vez que a visita de abelhas dá às plantas uma vantagem totalmente inesperada: as abelhas que voam ao redor das plantas inibem a intensidade da alimentação de lagartas herbívoras, resultando em uma clara redução do dano às folhas”, dizem os pesquisadores no artigo. A equipe pretende agora testar o sistema em uma área maior.
Tautz acredita que a descoberta pode ser usada no desenvolvimento de um método de controle biológico de pragas totalmente novo e ter aplicações na agricultura sustentável. “A habilidade das abelhas pode permitir a redução do uso de inseticidas em certos locais e por certos períodos, se os cultivos forem combinados com o plantio de flores que atraiam a visita desses insetos”, afirma. “Conseqüentemente, isso pode diminuir um pouco a poluição ambiental.”
Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line
22/12/2008
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home