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06 janeiro 2009

ATLETAS, COMPLEXOS VITAMÍNICOS INJETÁVEIS E HEPATITE C

Apontada associação entre o uso de estimulantes por atletas e hepatite C

Renata Moehlecke

Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) verificaram uma alta prevalência de hepatite C entre atletas com histórico de uso de estimulantes injetáveis, como complexos vitamínicos. O estudo, publicado na edição de dezembro da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz da Fiocruz, contou com a participação de 208 atletas profissionais e a amadores de futebol e de basquete, que praticavam essas atividades entre os anos de 1960 e 1985 na região de Ribeirão Preto.

A presença da infecção foi marcadamente elevada entre aqueles que admitiram o uso de estimulantes quando comparados com os que negaram a prática (Foto: RBS)
A presença da infecção foi marcadamente elevada entre aqueles que admitiram o uso de estimulantes quando comparados com os que negaram a prática (Foto: RBS)

“Constatar essa hipótese é importante para a saúde pública, considerando que isso identifica um novo grupo de risco para a doença e permiti um melhor foco nesse grupo específico”, afirmam os pesquisadores no artigo. “Os resultados também podem levar a uma mudança na prática médica, já que forçam a inclusão de questões como o uso de injetáveis lícitos no que tange prática de esportes, ponto não considerado tão relevante hoje em dia”.

A pesquisa mostrou que o uso de injetáveis era uma prática disseminada entre os participantes (24,5%), chegando a 50,8% entre os que se declararam jogadores profissionais. A prevalência de hepatite C encontrada na totalidade dos participantes foi de 7,2%. A presença da infecção foi marcadamente elevada entre aqueles que admitiram o uso de estimulantes quando comparados com os que negaram a prática: entre os amadores, os valores foram de 36% e 0,8%, respectivamente; entre profissionais, 21,9% e 0%.

“Até o momento, é comum associar a hepatite C com o uso de substâncias injetáveis ilícitas e questões que dizem respeito ao uso de injetáveis lícitos no passado tem sido negligenciadas”, comentam os pesquisadores. “Baseado nas evidências coletadas, é preciso incorporar essas questões à rotina de análise desses indivíduos que praticavam esportes na época analisada”.

NOTA DO BLOG: Esta pesquisa confirma uma situação real vivida por muitos atletas amadores do Acre que atuavam em campeonatos de futebol de campo, de salão e outros na década de 80. Até o advento da AIDS, era lugar comum o compartilhamento de seringas para injeção de vitamínicos intravenosos antes das partidas. O resultado foi a contaminação (provável) de um grande número desses atletas por diversas formas de hepatite. Falo isso sem números concretos e apenas baseado no conhecimento dos casos que tenho de atletas amigos meus. Muitos fizeram parte dessas equipes e lembram bem do nome 'glucoenergan', que se tomava logo antes das partidas. Esse é um tema muito bom para uma pesquisa de conclusão de graduação da UFAC.