FOBÓPOLE: O MEDO QUE RONDA A VIDA NAS CIDADES
A imagem-síntese da fobópole - combinação das palavras gregas phobos, que significa medo, e polis, que significa cidade - engloba muito daquilo que deverá estar no cerne das preocupações em torno da justiça social e da liberdade, que correm o risco de serem sacrificadas em nome da segurança
Informe Ensp
O coordenador do Núcleo de Pesquisas sobre Desenvolvimento Sócio-Espacial da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o geógrafo Marcelo Lopes de Souza, juntou as palavras gregas phobos (que significa medo) e polis (cidade) para criar o neologismo "fobópole". O termo cunhado pelo acadêmico gerou o título do seu mais recente livro (Fobópole, o medo generalizado e a militarização da questão urbana), lançado este ano pela Editora Bertrand Brasil. O autor aborda a questão do medo nas cidades e encara, de forma inteligente e destemida, os temas que se relacionam diretamente com isso.
Marcelo Lopes de Souza doutorou-se em geografia na Universidade de Tübingen, na Alemanha. Paralelamente às suas atividades de pesquisa e docência, tem assessorado movimentos sociais e prefeituras em temas relacionados a estratégias e instrumentos de transformação das cidades. É autor de dezenas de artigos e capítulos de livros, publicados no Brasil e no exterior, além de sete outros livros. Um de seus livros (O desafio metropolitano) ganhou o Prêmio Jabuti em 2001, na categoria Ciências Humanas e Educação. A seguir, Marcelo Lopes de Souza fala de seu livro.
O que significa o termo fobópole?
Marcelo Lopes de Souza: "Fobópole" é um neologismo cunhado por mim há três anos. O termo é o resultado da combinação de dois elementos de composição, derivados das palavras gregas phobos, que significa medo, e polis, que significa cidade. Uma "fobópole" é uma cidade na qual o medo impregna o cotidiano, tornando-se um dos aspectos centrais de nossa vida e de nossas preocupações, condicionando as mais diferentes facetas da nossa existência. A palavra condensa aquilo que se tenta qualificar como cidades nas quais o medo e a percepção do crescente risco, do ângulo da segurança pública, assumem uma posição cada vez mais proeminente nas conversas, nos noticiários da grande imprensa etc, o que se relaciona, complexamente, com vários fenômenos de tipo defensivo, preventivo ou repressor, levados a efeito pelo Estado ou até mesmo pela sociedade civil - o que tem claras implicações em matéria de organização do espaço urbano e relações sociais. A imagem-síntese da "fobópole" engloba muito daquilo que, agora e no futuro, deve estar no cerne das preocupações em torno da justiça social e da liberdade, que correm o risco de serem, cada vez mais, sacrificadas em nome da segurança.
As pessoas não têm razão para ter medo nas grandes cidades?
Souza: Sentir medo é humano. Indignar-se também é humano. O importante é evitar ficar refém do medo. É preciso tentar transformar o medo e a indignação em ações práticas e produtivas ao invés de enfiar a cabeça na areia e aceitar substituir a razão pela emoção. Deve-se resistir aos discursos demagógicos que sugerem que a solução consiste na adoção de medidas cada vez mais autoritárias - as quais, no longo prazo, só tendem a piorar as coisas e até mesmo criar problemas.
O que o motivou a escrever o livro?
Souza: O livro é resultado de estudos acadêmicos, mais especificamente, de diversos projetos de pesquisa que tenho coordenado desde os anos 90 e que resultaram em outros livros antes desse (como O desafio metropolitano: Um estudo sobre a problemática sócio-espacial nas metrópoles brasileiras, de 2000, ganhador do Prêmio Jabuti em 2001; Mudar a cidade, de 2002, atualmente na quinta edição; ABC do desenvolvimento urbano, de 2003; Planejamento urbano e ativismos sociais, de 2004; e A prisão e a ágora, de 2006).
O livro toma como exemplo as grandes metrópoles. Isso mostra que, nas cidades de médio e pequeno portes, esse medo não existe?
Souza: Ainda que metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo sejam exemplos notavelmente didáticos da problemática em pauta, não apenas em muitas outras grandes cidades brasileiras os riscos, direta ou indiretamente, relacionados com a criminalidade violenta ganham importância e visibilidade: mais e mais, também cidades médias vão assumindo destaque nesse cenário. Embora o centro das atenções da obra seja a realidade brasileira, guardar uma perspectiva internacional é imprescindível para se evitar um provincianismo analítico. Por isso, Fobópole contém numerosas comparações entre a realidade brasileira e aquelas de outros países.
Informe Ensp
O coordenador do Núcleo de Pesquisas sobre Desenvolvimento Sócio-Espacial da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o geógrafo Marcelo Lopes de Souza, juntou as palavras gregas phobos (que significa medo) e polis (cidade) para criar o neologismo "fobópole". O termo cunhado pelo acadêmico gerou o título do seu mais recente livro (Fobópole, o medo generalizado e a militarização da questão urbana), lançado este ano pela Editora Bertrand Brasil. O autor aborda a questão do medo nas cidades e encara, de forma inteligente e destemida, os temas que se relacionam diretamente com isso.
Marcelo Lopes de Souza doutorou-se em geografia na Universidade de Tübingen, na Alemanha. Paralelamente às suas atividades de pesquisa e docência, tem assessorado movimentos sociais e prefeituras em temas relacionados a estratégias e instrumentos de transformação das cidades. É autor de dezenas de artigos e capítulos de livros, publicados no Brasil e no exterior, além de sete outros livros. Um de seus livros (O desafio metropolitano) ganhou o Prêmio Jabuti em 2001, na categoria Ciências Humanas e Educação. A seguir, Marcelo Lopes de Souza fala de seu livro.
O que significa o termo fobópole?
Marcelo Lopes de Souza: "Fobópole" é um neologismo cunhado por mim há três anos. O termo é o resultado da combinação de dois elementos de composição, derivados das palavras gregas phobos, que significa medo, e polis, que significa cidade. Uma "fobópole" é uma cidade na qual o medo impregna o cotidiano, tornando-se um dos aspectos centrais de nossa vida e de nossas preocupações, condicionando as mais diferentes facetas da nossa existência. A palavra condensa aquilo que se tenta qualificar como cidades nas quais o medo e a percepção do crescente risco, do ângulo da segurança pública, assumem uma posição cada vez mais proeminente nas conversas, nos noticiários da grande imprensa etc, o que se relaciona, complexamente, com vários fenômenos de tipo defensivo, preventivo ou repressor, levados a efeito pelo Estado ou até mesmo pela sociedade civil - o que tem claras implicações em matéria de organização do espaço urbano e relações sociais. A imagem-síntese da "fobópole" engloba muito daquilo que, agora e no futuro, deve estar no cerne das preocupações em torno da justiça social e da liberdade, que correm o risco de serem, cada vez mais, sacrificadas em nome da segurança.
As pessoas não têm razão para ter medo nas grandes cidades?
Souza: Sentir medo é humano. Indignar-se também é humano. O importante é evitar ficar refém do medo. É preciso tentar transformar o medo e a indignação em ações práticas e produtivas ao invés de enfiar a cabeça na areia e aceitar substituir a razão pela emoção. Deve-se resistir aos discursos demagógicos que sugerem que a solução consiste na adoção de medidas cada vez mais autoritárias - as quais, no longo prazo, só tendem a piorar as coisas e até mesmo criar problemas.
O que o motivou a escrever o livro?
Souza: O livro é resultado de estudos acadêmicos, mais especificamente, de diversos projetos de pesquisa que tenho coordenado desde os anos 90 e que resultaram em outros livros antes desse (como O desafio metropolitano: Um estudo sobre a problemática sócio-espacial nas metrópoles brasileiras, de 2000, ganhador do Prêmio Jabuti em 2001; Mudar a cidade, de 2002, atualmente na quinta edição; ABC do desenvolvimento urbano, de 2003; Planejamento urbano e ativismos sociais, de 2004; e A prisão e a ágora, de 2006).
O livro toma como exemplo as grandes metrópoles. Isso mostra que, nas cidades de médio e pequeno portes, esse medo não existe?
Souza: Ainda que metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo sejam exemplos notavelmente didáticos da problemática em pauta, não apenas em muitas outras grandes cidades brasileiras os riscos, direta ou indiretamente, relacionados com a criminalidade violenta ganham importância e visibilidade: mais e mais, também cidades médias vão assumindo destaque nesse cenário. Embora o centro das atenções da obra seja a realidade brasileira, guardar uma perspectiva internacional é imprescindível para se evitar um provincianismo analítico. Por isso, Fobópole contém numerosas comparações entre a realidade brasileira e aquelas de outros países.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home