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24 maio 2009

PARCEIROS DE MÃO ÚNICA OU DE MÃO DUPLA?

"Recebo diariamente propostas do que chamo de parceiros de mão única, gente e organizações que acreditam que um mundo sustentável, ambientalmente correto e socialmente justo seja possível, mas não percebem – ou tentam usar de esperteza - que apenas pedem ajuda, mas não se preocupam em oferecer contrapartidas, como verdadeiros parceiros de mão dupla fariam..."

Por Vilmar S. D. Berna (*)‏

Recebo diariamente propostas do que chamo de parceiros de mão única, gente e organizações que acreditam que um mundo sustentável, ambientalmente correto e socialmente justo seja possível, mas não percebem – ou tentam usar de esperteza - que apenas pedem ajuda, mas não se preocupam em oferecer contrapartidas, como verdadeiros parceiros de mão dupla fariam.

As mudanças em direção a este mundo melhor, que todos queremos, é uma responsabilidade comum, apesar de diferenciada!

Agem como parceiros de mão única aqueles que se limitam a enviar releases com informações ambientais sobre seus resultados de ações e projetos ambientais institucionais ou sobre o lançamento de novos produtos comerciais na área ambiental, mas negam a estes mesmos veículos de comunicação a inclusão em seus planos de mídia!

Ao agirem assim, esperam receber ‘carona’ gratuita para suas informações institucionais ao mesmo tempo que demonstram incompetência, para dizer o mínimo, em sua estratégia de comunicação. Ao escolherem os veículos da mídia ambiental é por que reconhecem a importância de sua penetração nos segmentos da opinião pública e consumidores interessados em meio ambiente, entretanto, ao negar o financiamento a estes mesmos veículos, contribuem para o enfraquecimento de suas capacidades em dar divulgação às informações já que não terão como ampliar suas tiragens ou garantir a periodicidade!

Ás vezes, parceiros assim investiram muito dinheiro em projetos de responsabilidade socioambiental ou no desenvolvimento de produtos comerciais para o setor ambiental, entretanto, falham no momento mais estratégico de seus negócios quando deveriam designar também uma parcela de recursos para investir adequadamente na divulgação, mas preferem acreditar e esperar que veículos de comunicação sem recursos acreditem neles a ponto de investir por eles na divulgação de seus negócios!

Como parceiros de mão dupla, as empresas, governos e organizações que incluíssem os veículos da mídia ambiental em seus planos de mídia teriam, aí sim, autoridade moral para exigirem verificação de circulação e qualidade de conteúdo, por que estariam colaborando efetivamente para a manutenção do veículo. Em contrapartida, os veículos poderiam pagar adequadamente seus colaboradores, por artigos e matérias, escolhendo temas específicos de interesse da pauta e não apenas os textos que os colaboradores estão dispostos a ceder de graça em troca de divulgação.

Também agem como parceiros de mão única aqueles que investem em seminários e eventos na área ambiental e aceitam como natural que tenham de pagar pela energia, pelas tendas ou montagem de stands, pelo aluguel do espaço, pelo som, pelos profissionais da tradução, portaria, segurança, etc., mas se negam a pagar aos palestrantes, em última análise, a principal atração do evento. Alguns ainda entendem que devem pagar as despesas de deslocamento e hospedagem e, outros, nem isso! São eventos e seminários organizados por parceiros de mão única, que esperam que os palestrantes sejam financiadores do seminário ao abrirem mão de seus pró-labores.

Esta estratégia contribui para levar ao evento apenas aquelas pessoas e organizações, elas próprias também parceiras de mão única, que irão aproveitar a oportunidade de ter um público ouvinte privilegiado, não para colocar em questão o tema do seminário, mas para divulgarem seus negócios ou produtos para uma platéia privilegiada. Uma forma de conseguir publicidade e divulgação gratuita. Melhor seria se fossem parceiros de mão dupla ao se tornarem patrocinadores do evento, e aí sim, seria justo que o público ouvisse do patrocinador que permitiu a realização do evento a devida propaganda institucional.

Como público interessado, costumo ficar muito chateado e entediado quando em vez de ouvir um bom debate ambiental o que vejo é uma apresentação de egos inflados ou de propaganda de novos produtos ou de organizações. Geralmente me retiro na hora. Creio que se todos agissem da mesma forma, os organizadores parceiros de mão única passariam a mudar de estratégia. Quem quisesse usar o seminário para fazer propaganda institucional teria de ser um parceiro de mão dupla, assumindo uma cota de patrocínio. Já os palestrantes, seriam contratados pelo preço justo e suas palestras tratariam exatamente do tema proposto pelo seminário, por que estariam sendo pagos
para isso e poderiam ser cobrados pela organização.

Todos somos igualmente responsáveis pelas mudanças em direção a este mundo melhor, mas claro que esta responsabilidade não é igual para todos. Quem tem uma ‘pegada ecológica” maior deve ter também uma responsabilidade maior!

Mas daí a achar que a mudança deve começar com tem essa maior responsabilidade, é uma forma de procurar por uma desculpa para também não fazer nada, ou transferir a sua responsabilidade para o outro.

(*) Vilmar é escritor e Fundador da REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental (www.rebia.org.br) do Portal (www.portaldomeioambiente.org.br) e da Revista do Meio Ambiente.