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23 junho 2009

AGRICULTURA FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO

Agricultura familiar sul-mineira contribui para desenvolvimento territorial

Agência USP de Notícias

Uma pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da USP de Piracicaba, identificou as contribuições da agricultura familiar sul-mineira para o desenvolvimento territorial, sob o prisma da noção de multifuncionalidade da agricultura. O estudo foi feito a partir da análise de dinâmicas territoriais e projetos coletivos selecionados nas cidades de Poço Fundo, Machado e Campestre, sul de Minas Gerais. Nesses municípios concentra-se uma das maiores produções de café com qualidade superior do País, fincada em bases familiares e cultivada em áreas montanhosas. O sul de Minas é responsável por 53% da produção estadual de café, o que corresponde a 70% da renda dos estabelecimentos rurais.

“A agricultura tem outros papéis além dos produtivos, que são a preservação do ambiente, fornecimento de alimentos de qualidade, a valorização das tradições alimentares ligadas à ocupação dos territórios, a promoção de dinâmicas territoriais a partir de diferentes vocações sociais, culturais e ecológicas, enfim, essas e outras idéias são discutidas no âmbito da multifuncionalidade da agricultura. Foi assim que concluímos o estudo Pesquisas e ações de divulgação sobre o tema da multifuncionalidade da agricultura familiar e o desenvolvimento territorial no Brasil”, declara o professor Paulo Eduardo Moruzzi Marques, do departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES).

Realizada por meio de entrevistas com dirigentes de projetos, gestores públicos, agricultores familiares, presidentes de cooperativas, agentes de extensão rural, compradores de café e professores universitários, a pesquisa considera que o café é, efetivamente, responsável pela emergência da identidade territorial do sul de Minas e que o potencial socioeconômico da produção familiar local pode se traduzir em importante vantagem, pois ela favorece o reconhecimento das múltiplas funções da agricultura, naquilo que se refere a suas relações particulares com a natureza. “A pesquisa coloca em relevo uma análise das dinâmicas territoriais à luz de diferentes dimensões, tais como o equilíbrio da ocupação territorial, a criação de empregos, a garantia de geração de renda para a reprodução social da agricultura familiar e o desenvolvimento de um saber ambiental específico, centrado, nesse caso, no sistema orgânico de produção”, observa o professor.

Lugar privilegiado
O relevante potencial turístico do território, caracterizado pela forte variação de paisagem, por seu patrimônio alimentar e pela localização geográfica, próxima ao eixo Belo Horizonte-São Paulo-Rio de Janeiro, torna a região em questão um lugar privilegiado para o descanso e para a recreação daqueles que habitam em grandes regiões metropolitanas. Marques afirma que esse fenômeno favorece o relacionamento dos agricultores com aqueles que vivem em lugares de grande concentração populacional. “O diálogo entre esses dois mundos pode levar a um reconhecimento de qualidades no modo e ritmo de vida rural, uma vez que a agricultura familiar do território é vigorosa e numerosa. Ela apresenta diversidade de técnicas de produção e a multiplicação dos processos inovadores de comercialização, como o comércio de produtos sem uso de agrotóxicos e, também, o comércio justo, ou seja, prática comercial assentada em um conjunto de normas e princípios transparentes, participativos e democráticos, que objetiva proporcionar condições financeiras mais vantajosas para a produção familiar de países do chamado Terceiro Mundo”.

Em relação às contribuições do segmento ao desenvolvimento territorial, a metodologia aplicada pela pesquisa considerou a articulação das unidades familiares entre si, as complexas relações estabelecidas entre elas e o território, e as implicações relacionadas às estratégias e políticas públicas de desenvolvimento territorial. Esses aspectos foram analisados por meio de componentes demográfico-social, econômico, ambiental e espacial.

“Nós focalizamos iniciativas inovadoras dos cafeicultores familiares mineiros que conseguem melhor inserção no mercado, contratos de exportação graças à consideração de aspectos além produtivos, o fato de eles possuírem um selo de produção orgânica, um selo de comércio justo e solidário que atrai consumidores que procuram um produto certificado com qualidade superior em termos de degustação e que reconhecem a importância de uma produção cuidadosa com o meio ambiente, o que acaba favorecendo o desenvolvimento de uma agricultura familiar”, conclui o pesquisador.

Enfim, as indicações geográficas de qualidade são vistas como um potencial para agregar valor à produção regional e são estimuladas, principalmente, pelo poder público estadual. Esses processos sociais favorecem a agricultura familiar e a valorização de recursos territoriais específicos, contribuindo com o reconhecimento dos múltiplos papéis da agricultura. Ganha terreno, assim, a idéia de que o espaço território carrega vida e cultura, fermento potencial do desenvolvimento.

Com informações da Assessoria de Comunicação da Esalq