INDICADOR DE POLUIÇÃO: A OUTRA UTILIDADE DA CEBOLA
Análise da raiz permite identificar alterações causadas pela poluição não detectadas por outros testes. No teste da cebola, os bulbos são mergulhados nas amostras de água do rio Paraíba do Sul. O teste é capaz de identificar alterações celulares causadas pela poluição
Cebola contra poluição
A utilidade da cebola pode ir muito além da culinária. É o que mostra uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que utilizou bulbos de cebola para medir a qualidade das águas do rio Paraíba do Sul. O teste da cebola identificou uma série de alterações causadas pela poluição não detectadas pelo monitoramento da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) em dois trechos críticos do rio em São Paulo.
A bióloga Agnes Barbério, professora da Universidade de Taubaté, que realizou a pesquisa durante seu doutorado na Unicamp, utilizou o teste da cebola (Allium cepa) para avaliar a qualidade das águas do Paraíba do Sul nas cidades de Tremembé e Aparecida.
No teste da cebola, os bulbos são mergulhados nas amostras de água do rio Paraíba do Sul. O teste é capaz de identificar alterações celulares causadas pela poluição (foto: Agnes Barbério).
Amostras de água coletadas durante os anos de 2005, 2006 e 2007 foram submetidas ao teste Allium, que consiste em mergulhar os bulbos de cebola nas amostras de água e esperar que eles criem raízes. Depois, as raízes devem ser cortadas para análise do meristema radicular, tecido que contém células indiferenciadas com capacidade de divisão contínua.
A análise do meristema permite identificar alterações que comprometem o funcionamento das células, como a inibição da divisão celular e anomalias cromossômicas, causadas pela poluição da água. Outro aspecto que pode ser observado é a ocorrência de problemas no material genético, como a formação de micronúcleos.
Enquanto os testes feitos pela Cetesb com bactérias e microcrustáceos deram negativo para toxidade crônica e para a presença de compostos mutagênicos, os testes feitos por Barbério apresentaram resultado positivo para outras amostras de água colhidas na mesma época. “As células da cebola, por serem mais complexas, apresentam resultados mais próximos dos animais e seres humanos, quando se trata de consequências da poluição, do que as bactérias”, explica a bióloga.
Efeito conjunto
Ela ressalta que uma das vantagens do teste da cebola é a possibilidade de avaliar o efeito conjunto dos poluentes no organismo. “Uma análise química pode concluir que metais como alumínio e chumbo, por exemplo, estão em níveis seguros”, afirma. “Mas essa análise é isolada para cada elemento, enquanto a integração deles poderia estar causando alterações citotóxicas e genotóxicas, como as encontradas pelo teste da cebola.”
Outras vantagens do teste, que já é aplicado em vários países e pode ser utilizado também para detectar a poluição do solo, são o custo baixo, a abundância da cebola, encontrada durante todo o ano no Brasil, a rapidez e a facilidade.
Barbério chegou à conclusão de que com apenas três bulbos de cebola é possível avaliar um trecho como o de Tremembé ou Aparecida. Ela acredita que esse conjunto de vantagens justifica a inclusão do teste da cebola no monitoramento bimestral feito pela Cetesb, que utiliza outras 50 variáveis.
Tatiane Leal
Ciência Hoje/RJ
Foto: Agnes Barbério
Cebola contra poluição
A utilidade da cebola pode ir muito além da culinária. É o que mostra uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que utilizou bulbos de cebola para medir a qualidade das águas do rio Paraíba do Sul. O teste da cebola identificou uma série de alterações causadas pela poluição não detectadas pelo monitoramento da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) em dois trechos críticos do rio em São Paulo.
A bióloga Agnes Barbério, professora da Universidade de Taubaté, que realizou a pesquisa durante seu doutorado na Unicamp, utilizou o teste da cebola (Allium cepa) para avaliar a qualidade das águas do Paraíba do Sul nas cidades de Tremembé e Aparecida.
No teste da cebola, os bulbos são mergulhados nas amostras de água do rio Paraíba do Sul. O teste é capaz de identificar alterações celulares causadas pela poluição (foto: Agnes Barbério).
Amostras de água coletadas durante os anos de 2005, 2006 e 2007 foram submetidas ao teste Allium, que consiste em mergulhar os bulbos de cebola nas amostras de água e esperar que eles criem raízes. Depois, as raízes devem ser cortadas para análise do meristema radicular, tecido que contém células indiferenciadas com capacidade de divisão contínua.
A análise do meristema permite identificar alterações que comprometem o funcionamento das células, como a inibição da divisão celular e anomalias cromossômicas, causadas pela poluição da água. Outro aspecto que pode ser observado é a ocorrência de problemas no material genético, como a formação de micronúcleos.
Enquanto os testes feitos pela Cetesb com bactérias e microcrustáceos deram negativo para toxidade crônica e para a presença de compostos mutagênicos, os testes feitos por Barbério apresentaram resultado positivo para outras amostras de água colhidas na mesma época. “As células da cebola, por serem mais complexas, apresentam resultados mais próximos dos animais e seres humanos, quando se trata de consequências da poluição, do que as bactérias”, explica a bióloga.
Efeito conjunto
Ela ressalta que uma das vantagens do teste da cebola é a possibilidade de avaliar o efeito conjunto dos poluentes no organismo. “Uma análise química pode concluir que metais como alumínio e chumbo, por exemplo, estão em níveis seguros”, afirma. “Mas essa análise é isolada para cada elemento, enquanto a integração deles poderia estar causando alterações citotóxicas e genotóxicas, como as encontradas pelo teste da cebola.”
Outras vantagens do teste, que já é aplicado em vários países e pode ser utilizado também para detectar a poluição do solo, são o custo baixo, a abundância da cebola, encontrada durante todo o ano no Brasil, a rapidez e a facilidade.
Barbério chegou à conclusão de que com apenas três bulbos de cebola é possível avaliar um trecho como o de Tremembé ou Aparecida. Ela acredita que esse conjunto de vantagens justifica a inclusão do teste da cebola no monitoramento bimestral feito pela Cetesb, que utiliza outras 50 variáveis.
Tatiane Leal
Ciência Hoje/RJ
Foto: Agnes Barbério
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home