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22 agosto 2009

MARINA CANDIDATA A PRESIDENTE

A senadora Marina Silva (AC) está trocando seis por meia dúzia. O Partido Verde, seu novo destino, desbotou e está tão corroído quanto a antiga estrela vermelha do PT: alianças esquizofrênicas, fisiologismo, problemas de moralidade envolvendo deputados federais e uma crise existencial motivada por contradições que se estendem da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, às regiões em que a luta pela preservação das florestas e pelo desenvolvimento sustentável deveria estar mais radicalizada

Um desafio verde espera Marina

Vasconcelo Quadros , Jornal do Brasil

BRASÍLIA - A senadora Marina Silva (AC) está trocando seis por meia dúzia. O Partido Verde, seu novo destino, desbotou e está tão corroído quanto a antiga estrela vermelha do PT: alianças esquizofrênicas, fisiologismo, problemas de moralidade envolvendo deputados federais e uma crise existencial motivada por contradições que se estendem da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, às regiões em que a luta pela preservação das florestas e pelo desenvolvimento sustentável deveria estar mais radicalizada.

Com 1.237 vereadores, 76 prefeitos, 34 deputados estaduais e uma bancada de 14 parlamentares na Câmara, o PV enfrenta desvios éticos comuns aos outros partidos. Pelo menos metade da bancada federal é alvo de denúncias que vão de suspeitas de corrupção, nepotismo, crimes eleitorais, improbidade administrativa ou desvios da cota de passagens aéreas da Câmara para viagens internacionais ou para parentes. A força do partido está concentrada em São Paulo e Minas Gerais, com nove parlamentares. Sobre os dois únicos originários da região Amazônica, não se pode dizer que tenham incorporado apenas a causa verde: Sarney Filho (MA) é filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e teve problemas com a farra das passagens aéreas; Lindomar Garçon (RO), ex-prefeito de Candeias do Jamari, responde processo por improbidade administrativa.

O exemplo mais dolorido para a causa vem do Mato Grosso, o estado campeão dos desmatamentos e onde o partido ajudou a eleger e reeleger, em 2002 e depois em 2006, o governador Blairo Maggi, o inimigo número um dos ecologistas, homenageado pela ONG Greepeace com o troféu Motosserra de Ouro.

– Fiquei oito anos sem pisar no partido – diz o atual secretário de Meio Ambiente de Cuiabá, Arquimedes Pereira Lima Neto, indicado este ano pelo prefeito reeleito, Wilson Santos, do PSDB, como contrapartida ao apoio recebido na eleição do ano passado.

A contradição matogrossense foi também uma das maiores humilhações que o partido sofreu. Ao perceber que os verdes haviam virado as costas para seu candidato e apoiado seus rivais tucanos na disputa municipal, Maggi avisou pelo Diário Oficial que oito dirigentes que ocupavam cargos em seu governo estavam sendo demitidos. Entre eles estavam os presidentes dos diretórios estadual e municipal, José Roberto Stopa e Antônio Carlos Nogueira. Os dois eram superintendente de Educação e do Arquivo Público, funções estranhas ao programa do PV.

– À época pedi a expulsão de todos eles – diz o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que considera o apoio ao Rei da Soja como o grande equívoco dos 23 anos de existência do partido e uma das razões para o processo de depuração que está em curso na adequação da legenda ao perfil de Marina Silva.

O pragmatismo verde também está estampado na paisagem da Esplanada, em Brasília. Único ministro do partido, Juca Ferreira,firmou-se como sucessor do cantor Gilberto Gil na pasta da Cultura e, assim que Marina anunciou a saída do PT, passou a bombardear seus correligionários. Disse que a cúpula – segundo ele, também movida pelo fisilogismo – está jogando a candidatura da ex-ministra no colo do PSDB. Defensor de uma aliança com o PT, o ministro ainda disse que seu próprio partido não está preparado para receber a ex-ministra.

– Ele criticou o processo mais importante para o partido. Deve estar com medo de perder o cargo – reage Gabeira.

Vice-presidente do PV e outro alvo das críticas, o vereador Alfredo Sirkis (RJ), disse que as declarações foram de “uma grande infelicidade” e que elas destoam da conversa que ambos tiveram na véspera da desfiliação de Marina.

– Entendo que seja uma consequência dos equilibrismos que se sente compelido a fazer para permanecer no Ministério – disparou.