DOR DE CABEÇA CRÔNICA É MAIOR EM FILHOS DE MÃES FUMANTES
Agência USP de Notícias
Publicado em 29/setembro/2009
Rosemeire Soares Talamone, Serviço de Comunicação Social da CCRP-USP
A cefaléia crônica em crianças em idade escolar, caracterizada por episódios repetidos e dor de cabeça, pode estar associada ao tabagismo materno durante a gestação. Esta é a conclusão da pesquisa de doutorado do enfermeiro Carlos Eduardo Fabbri, no programa de pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
Os resultados reforçam as evidências científicas já descritas na literatura, que indicam que o tabagismo materno durante a gravidez está envolvido em uma série de consequências negativas para a criança ao longo da vida. A cefaléia crônica seria uma delas. “Nenhuma pesquisa epidemiológica clínica confirmava esta hipótese. Esta é a primeira”, relata o professor Manoel Romeu Gutierrez, co-orientador da pesquisa.
Para Fabbri, além dos resultados oferecerem mais subsídios para conscientizar as mães sobre os perigos do fumo para o feto durante a gravidez, o estudo abre perspectivas para os neuropediatras investirem neste campo de pesquisa. “Pode estar ai a explicação para a grande maioria das cefaléias que aparecem nos ambulatórios e que ninguém sabe exatamente a causa”.
A explicação para a influência do uso do cigarro durante a gravidez no desenvolvimento de cefaléia na idade escolar da criança, segundo os pesquisadores, é que existem evidências de que a nicotina interfere na circulação placentária do lado fetal e isso, consequentemente, poderia desenvolver maior sensibilidade à dor posteriormente. “Isso é um achado morfofisiológico bem estudado, em relação a drogas, entre elas a nicotina”, diz Gutierrez.
Outra hipótese, segundo o professor, é que a própria nicotina e outras drogas contidas no cigarro, poderiam levar a alterações na formação do sistema nervoso durante o período da embriogênese, processo de formação do embrião, alterando a síntese de transmissores neuroquímicos no cérebro do feto, fenômeno chamado de embriotoxidade. “Outro fenômeno que ocorre, segundo dados da literatura, é a neuroplasticidade, a capacidade do cérebro em se adaptar a determinadas situações agressivas no período gestacional. Uma das adaptações possíveis é a alteração na formação dos neurotransmissores. Mas essas são teorias especulativas, não existem evidências concretas para cada uma delas”.
1629 crianças
O estudo foi realizado em duas cidades, Ribeirão Preto, em São Paulo, com crianças de 9 aos 11 anos, e em São Luis, no Maranhão, com crianças de 7 a 8 anos, totalizando 1.629 crianças. Foram excluídas meninas no início do ciclo pré-menstrual, pois, de acordo com o pesquisador, “meninas próximas ao início da fase menstrual têm mais chance de dor de cabeça, em função das mudanças hormonais”.
Em média, 23% das mães fumaram durante a gravidez. Somente oito deixaram de fumar nesse período. Das fumantes, 10,4% fumaram mais que dez cigarros por dia e 8,7% de um a nove cigarros/dia em Ribeirão Preto. Em São Luís, 2,6% para as duas situações. Dos filhos dessas mães, 1.592 nas duas cidades responderam o item sobre existência ou não de cefaléia crônica.
Os resultados indicaram que 28,4% em Ribeirão Preto e, 13,2%, em São Luís, tiveram diagnóstico afirmativo para cefaléia crônica. A diferença de resultados entre as duas cidades, segundo o pesquisador, ocorre em função da diferença de idade.
Tipos de cefaléias
Segundo o professor Gutierrez, os critérios para definição de cefaléia são determinados pela Organização Internacional de Cefaléia. Ainda, segundo o professor, são mais de 160 tipos. “Na pesquisa, trabalhamos basicamente com dois deles, que envolvem 94% dos casos. A tensional e a migranêa (termo médico para enxaqueca) sem áurea, ou seja, sem nenhuma manifestação clínica anterior. Consideramos dois ou mais episódios aleatórios em 15 dias, no intervalo dos últimos 30 dias, conforme a classificação de cefaléia, da Organização Internacional. Foram entrevistadas as crianças e as mães e os resultados, apresentados a partir da associação de respostas das duas entrevistas”, diz Fabbri.
A tensional, de acordo com Gutierrez abrange uma séria de circunstâncias. A criança tem dor sem causa específica. Ele cita como exemplo a dor que aparece às vésperas de uma prova de matemática. A migranêa é uma dor de cabeça real, de causa orgânica, mas sem alteração morfofisiológica que a justificaria.
São vários os tipos da migranêa, mas classicamente são duas que mais aparecem: aquelas com aura, com sintomas que precedem o seu aparecimento, ou sem aura, sem nenhuma manifestação clínica anterior. “Nestes casos o posicionamento da criança e a queixa durante o episódio são característicos. Elas fogem da luz, do barulho, colocam a mão na cabeça, procuram se isolar no quarto escuro. Esses são critérios clínicos que se usa para identificá-la. A repetição de dois ou mais episódios no prazo de 15 dias, já a classifica como cefaléia crônica”, comenta.
O professor diz, ainda, que existem outras cefaleias não classificadas, ou seja, não se encaixam em nenhum dos critérios citados, como aquelas relacionadas a traumas, problemas de visão, episódios de tosses, acompanhadas de gripe, que são as chamadas agudas.
A tese Tabagismo materno durante a gestação e cefaléia crônica na idade escolar, defendida no início do mês de setembro, foi orientada pelo professor Marco Antonio Barbieri, da FMRP e utilizou parte das informações contidas no projeto temático “O impacto do tamanho ao nascer na morbidade e nos desenvolvimentos físicos, cognitivo afetivo e psicológico de crianças brasileiras, da coorte de nascidos vivos em 1994 no município de Ribeirão Preto e em 1996/97 em São Luis (MA)”, coordenado pelos professores Heloisa Bettiol, da FMRP, e Marco Antonio Barbieri.
Publicado em 29/setembro/2009
Rosemeire Soares Talamone, Serviço de Comunicação Social da CCRP-USP
A cefaléia crônica em crianças em idade escolar, caracterizada por episódios repetidos e dor de cabeça, pode estar associada ao tabagismo materno durante a gestação. Esta é a conclusão da pesquisa de doutorado do enfermeiro Carlos Eduardo Fabbri, no programa de pós-graduação em Saúde da Criança e do Adolescente, na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
Os resultados reforçam as evidências científicas já descritas na literatura, que indicam que o tabagismo materno durante a gravidez está envolvido em uma série de consequências negativas para a criança ao longo da vida. A cefaléia crônica seria uma delas. “Nenhuma pesquisa epidemiológica clínica confirmava esta hipótese. Esta é a primeira”, relata o professor Manoel Romeu Gutierrez, co-orientador da pesquisa.
Para Fabbri, além dos resultados oferecerem mais subsídios para conscientizar as mães sobre os perigos do fumo para o feto durante a gravidez, o estudo abre perspectivas para os neuropediatras investirem neste campo de pesquisa. “Pode estar ai a explicação para a grande maioria das cefaléias que aparecem nos ambulatórios e que ninguém sabe exatamente a causa”.
A explicação para a influência do uso do cigarro durante a gravidez no desenvolvimento de cefaléia na idade escolar da criança, segundo os pesquisadores, é que existem evidências de que a nicotina interfere na circulação placentária do lado fetal e isso, consequentemente, poderia desenvolver maior sensibilidade à dor posteriormente. “Isso é um achado morfofisiológico bem estudado, em relação a drogas, entre elas a nicotina”, diz Gutierrez.
Outra hipótese, segundo o professor, é que a própria nicotina e outras drogas contidas no cigarro, poderiam levar a alterações na formação do sistema nervoso durante o período da embriogênese, processo de formação do embrião, alterando a síntese de transmissores neuroquímicos no cérebro do feto, fenômeno chamado de embriotoxidade. “Outro fenômeno que ocorre, segundo dados da literatura, é a neuroplasticidade, a capacidade do cérebro em se adaptar a determinadas situações agressivas no período gestacional. Uma das adaptações possíveis é a alteração na formação dos neurotransmissores. Mas essas são teorias especulativas, não existem evidências concretas para cada uma delas”.
1629 crianças
O estudo foi realizado em duas cidades, Ribeirão Preto, em São Paulo, com crianças de 9 aos 11 anos, e em São Luis, no Maranhão, com crianças de 7 a 8 anos, totalizando 1.629 crianças. Foram excluídas meninas no início do ciclo pré-menstrual, pois, de acordo com o pesquisador, “meninas próximas ao início da fase menstrual têm mais chance de dor de cabeça, em função das mudanças hormonais”.
Em média, 23% das mães fumaram durante a gravidez. Somente oito deixaram de fumar nesse período. Das fumantes, 10,4% fumaram mais que dez cigarros por dia e 8,7% de um a nove cigarros/dia em Ribeirão Preto. Em São Luís, 2,6% para as duas situações. Dos filhos dessas mães, 1.592 nas duas cidades responderam o item sobre existência ou não de cefaléia crônica.
Os resultados indicaram que 28,4% em Ribeirão Preto e, 13,2%, em São Luís, tiveram diagnóstico afirmativo para cefaléia crônica. A diferença de resultados entre as duas cidades, segundo o pesquisador, ocorre em função da diferença de idade.
Tipos de cefaléias
Segundo o professor Gutierrez, os critérios para definição de cefaléia são determinados pela Organização Internacional de Cefaléia. Ainda, segundo o professor, são mais de 160 tipos. “Na pesquisa, trabalhamos basicamente com dois deles, que envolvem 94% dos casos. A tensional e a migranêa (termo médico para enxaqueca) sem áurea, ou seja, sem nenhuma manifestação clínica anterior. Consideramos dois ou mais episódios aleatórios em 15 dias, no intervalo dos últimos 30 dias, conforme a classificação de cefaléia, da Organização Internacional. Foram entrevistadas as crianças e as mães e os resultados, apresentados a partir da associação de respostas das duas entrevistas”, diz Fabbri.
A tensional, de acordo com Gutierrez abrange uma séria de circunstâncias. A criança tem dor sem causa específica. Ele cita como exemplo a dor que aparece às vésperas de uma prova de matemática. A migranêa é uma dor de cabeça real, de causa orgânica, mas sem alteração morfofisiológica que a justificaria.
São vários os tipos da migranêa, mas classicamente são duas que mais aparecem: aquelas com aura, com sintomas que precedem o seu aparecimento, ou sem aura, sem nenhuma manifestação clínica anterior. “Nestes casos o posicionamento da criança e a queixa durante o episódio são característicos. Elas fogem da luz, do barulho, colocam a mão na cabeça, procuram se isolar no quarto escuro. Esses são critérios clínicos que se usa para identificá-la. A repetição de dois ou mais episódios no prazo de 15 dias, já a classifica como cefaléia crônica”, comenta.
O professor diz, ainda, que existem outras cefaleias não classificadas, ou seja, não se encaixam em nenhum dos critérios citados, como aquelas relacionadas a traumas, problemas de visão, episódios de tosses, acompanhadas de gripe, que são as chamadas agudas.
A tese Tabagismo materno durante a gestação e cefaléia crônica na idade escolar, defendida no início do mês de setembro, foi orientada pelo professor Marco Antonio Barbieri, da FMRP e utilizou parte das informações contidas no projeto temático “O impacto do tamanho ao nascer na morbidade e nos desenvolvimentos físicos, cognitivo afetivo e psicológico de crianças brasileiras, da coorte de nascidos vivos em 1994 no município de Ribeirão Preto e em 1996/97 em São Luis (MA)”, coordenado pelos professores Heloisa Bettiol, da FMRP, e Marco Antonio Barbieri.
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