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29 outubro 2009

FISIOTERAPEUTAS EM EQUIPES DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Os autores do trabalho entendem que o fisioterapeuta deve atuar em interação com outros profissionais, para ampliar e tornar mais rica a relação do indivíduo com o ambiente

Artigo defende inclusão de fisioterapeutas nas equipes de Saúde da Família

Informe Ensp

Com o objetivo de ampliar a eficácia da atenção básica, um artigo publicado na revista Ciência e Saúde Coletiva propõe o debate sobre a necessidade da inserção do profissional de fisioterapia nas equipes de Saúde da Família. O texto, elaborado pelos pesquisadores da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) Marcelo Rasga Moreira, Antenor Amâncio Filho, Maria de Fátima Lobato Tavares e Mônica de Rezende, conclui que o processo de reforma sanitária ajudou na mudança do foco do objeto de trabalho desse profissional, "aproximando o fisioterapeuta de práticas preventivas e da promoção da saúde, típicas do primeiro nível do cuidado".

Segundo os autores, o artigo é resultado de estudo realizado no âmbito da linha de pesquisa que abriga o projeto Avaliação da inserção do fisioterapeuta na estratégia Saúde da Família: um estudo de caso, realizado entre 2005 e 2007 no município de Macaé (RJ), que resultou na dissertação de mestrado em saúde pública de Mônica de Rezende. Atualmente, a autora é doutoranda da Ensp, dando continuidade ao estudo por meio do projeto A relação entre a formação profissional e a prática na saúde da família: o caso da fisioterapia.

Para chegar aos resultados, foram analisados documentos legais que aprovam as normas para habilitação ao exercício da profissão de fisioterapeuta, que acabou mudando seu foco de atuação, nos anos 70 e 80, acompanhando a reforma sanitária. "Concluiu-se que tal mudança abriu importante espaço de integração ainda pouco trabalhado, sendo proposto seu aprofundamento na direção da reflexão para as formas de integração e a necessidade que se impõe aos gestores de planejar suas ações de forma articulada com a comunidade, a partir da análise da situação de saúde no nível local, garantindo a intervenção sobre problemas e grupos populacionais prioritários", afirmam os autores.

Historicamente, a fisioterapia surgiu como uma "especialidade paramédica" com o propósito de reabilitar e preparar pessoas fisicamente lesadas nas grandes guerras, em acidentes de trabalho ou por doenças oriundas das condições sanitárias precárias para o retorno à vida produtiva. Foi criada como profissão de nível superior no Brasil no final da década de 1960, por decreto-lei que estabeleceu que "é atividade privativa do fisioterapeuta executar métodos e técnicas fisioterápicas com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do paciente".

Nos anos 80, a fisioterapia se adequou ao novo momento do cenário sanitário brasileiro, passando a ser "uma ciência aplicada cujo objeto de estudos é o movimento humano em todas as suas formas de expressão e potencialidades, quer nas suas alterações patológicas, quer nas suas repercussões psíquicas e orgânicas, com objetivos de preservar, manter, desenvolver ou restaurar a integridade de órgão, sistema ou função".

Tendo a fisioterapia nesse novo olhar, os autores do trabalho entendem que o fisioterapeuta deve atuar em interação com outros profissionais para melhor compreender e poder interferir positivamente, no sentido de ampliar e de tornar mais rica e prazerosa a relação permanente do indivíduo com seu ambiente. Dessa forma, atesta-se que "o fisioterapeuta é um profissional apto a atuar na atenção básica, tal como se configura na atualidade: o primeiro nível do sistema de assistência à saúde, articulado com os demais, com o intuito de garantir maior acesso aos cuidados e integralidade da atenção".

O Programa Saúde da Família (PSF) é adotado pelo governo federal como eixo estruturante da atenção básica no Sistema Único de Saúde. Hoje, chancelado como estratégia Saúde da Família, o modelo apresenta, introduz e induz mudanças relevantes no processo de trabalho em saúde, como resultado da transformação das unidades básicas de saúde (UBS) em unidades de Saúde da Família (USF), que se baseia, essencialmente, no trabalho das equipes multiprofissionais que reconhecem a necessidade da população atendida. "Nessa perspectiva, a integração de profissionais de várias categorias nas equipes de Saúde da Família permite distintos olhares, ampliando as possibilidades inovadoras das práticas do cuidado e aumentando o potencial de resolutividade, com qualidade e sem descaracterizar a proposta original", destacam.

Os autores buscam fomentar um debate sobre novas formas de integrar o fisioterapeuta às equipes, com suas atribuições indo além da atividade de reabilitação, fazendo com que ele se envolva e se comprometa com ações de promoção e proteção da saúde, de prevenção de doenças e de assistência. "Contudo, apesar das dificuldades encontradas até o momento, alguns municípios já incluíram o fisioterapeuta nas suas equipes de Saúde da Família. Tais vivências precisam ser observadas e analisadas. Estudos e investigações sobre esse fenômeno, buscando identificar as peculiaridades e especificidades de cada situação enfocada, precisam ser disseminados, gerando, inclusive, informações e dados que subsidiem a tomada de decisões que venham a fortalecer e criar inovações no processo de planejamento, gestão e educação na saúde", concluem.

(Foto: UnC-Caçador)