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05 fevereiro 2010

NA VENEZUELA, DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS

Três mil policiais impedem passeata de estudantes na Venezuela enquanto chavistas podiam circular livremente

Mariana Timóteo da Costa - Enviada especial de O Globo

RIO - Duas grandes manifestações realizadas na quinta-feira em Caracas mostraram bem a divisão política e as diferenças com que chavistas e antichavistas são tratados pelo governo na atual Venezuela. De um lado, na Praça Brión de Chacaíto, no leste da capital, milhares de opositores do presidente Hugo Chávez, liderados por estudantes, protestavam contra a perseguição aos meios de comunicação, as crises energética e econômica, e contra a presença do ministro cubano Ramiro Valdés no país.

Do outro lado, convocados pelo presidente, também milhares de simpatizantes de seu governo ocuparam a Praça Venezuela, no centro da capital, e foram em passeata até o Forte Tiúna, onde funciona a Academia Militar e onde o líder venezuelano liderou, com um ameaçador discurso contra a oposição, as comemorações do Dia da Dignidade Nacional.

O feriado foi decretado por ele para comemorar o aniversário de sua aparição no cenário político da Venezuela (em 4 de fevereiro de 1992, Chávez, à época um militar praticamente desconhecido, liderou um golpe de Estado contra o então presidente Carlos Andrés Pérez).

Críticas à presença de ministro cubano no país

Nenhum grande incidente foi registrado e os dois protestos foram relativamente pacíficos. Mas, Chávez - em seu uniforme militar - e seus simpatizantes puderam transitar livremente pela cidade. O presidente pôde ainda ameaçar os estudantes com palavras duras em um longo discurso transmitido ao vivo por rádios e redes de controladas por ele:

- Se nos buscarem pelo caminho das armas, nós vamos defender com todas as armas nossa revolução bolivariana.


Já seus opositores enfrentaram uma barreira policial de mais de três mil homens, que os proibiram de caminhar até o prédio da Assembleia Nacional, no Centro. Gritando frases como "Chávez tás ponchado" - algo como Chávez está fora, uma alusão ao jogo de beisebol, o esporte mais popular do país -; "Somos estudantes, queremos liberdade" e "Fora cubanos", e com faixas vermelhas que funcionavam como mordaças, os universitários, que receberam também a adesão de gerações mais velhas, mostraram-se revoltados com a barreira da polícia. Mas recuaram.

- Estamos cumprindo a Constituição, que garante nosso direito de ir e vir e diz que podemos protestar, desde que forma pacífica. Não vamos de forma alguma incitar a violência. Se os aliados de Chávez podem circular e se manifestar livremente, nós também deveríamos poder. Mas não está funcionando desta forma, falam que não temos autorização para marchar - reclamou Nizar el Fakih , um dos líderes do movimento estudantil.

Além da crise que afeta o país, especialmente por conta do desabastecimento de água e luz, e do fechamento de meios de comunicação, uma das maiores reclamações dos estudantes é contra a presença de Ramiro Valdés no país. O ministro de Informática e Comunicação de Cuba foi convocado por Chávez para tentar solucionar a crise energética na Venezuela .

Mas, segundo dissidentes do regime cubano baseados na Espanha e nos Estados Unidos, Valdés é conhecido como "o homem forte da censura em Cuba" que, nos anos 90, limitou o acesso dos habitantes da ilha à internet, criando ferramentas de controle do fluxo de informação que entra e sai pela rede, o que ocorre até esta sexta-feira.

- Chávez está assustado porque não pode controlar a internet, que tem muita força na Venezuela e está sendo usada como ferramenta de protesto. Mais uma vez, ele quer tirar nosso direito de nos expressar. O que uma pessoa especializada em telecomunicações entende de energia? Este cubano vai é ajudar a ditadura bolivariana - esbravejava a professora Belquis Alvarado, de 50 anos, que, por causa da barreira policial, voltou para casa horas depois, sem atingir o objetivo final da manifestação, que era caminhar até o centro de Caracas.

- Uma coisa boa é que Chávez ordenou a abertura das catracas do metrô, não precisamos enfrentar fila para pagar por passagens. Sempre que há eventos de grande porte na cidade, ele faz isso - elogiou a dona de casa Beatriz Torrealba, de 55 anos.


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