ACRE: PRODUÇÃO LOCAL DE TABACO É ECOLÓGICA, AFIRMA ESPECIALISTA
Tabaco ecológico da Amazônia
Ricardo Becker*
Presidente do Sindicato das Indústrias de Tabaco da Bahia
Antes de mais nada, gostaria de me desculpar pela ausência por tão prolongado período (a última vez que escrevi a coluna foi em fins de julho). É que tenho viajado muito por conta do cargo de Presidente do SINDITABACO/BA, que atualmente ocupo. Apesar de todas ferramentas que a moderna informática nos coloca a serviço, ainda não inventaram um dia com mais de 24 horas... Ou será que não estamos sabendo aproveitar melhor as 24 que temos disponíveis!?
Bem, voltando ao assunto desta, gostaria de compartilhar com meus leitores a última viagem que fiz por conta do meu trabalho como “tabaqueiro/charuteiro”. A convite da Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) do Governo Estadual do Acre, fomos eu e um colega engenheiro agrônomo – o Odacir Tonelli Strada (também Diretor do Sinditabaco/BA), este sim especialista em tabaco – para Rio Branco. O convite tinha como objetivo (pasmem os senhores...) conhecer o plantio de tabaco feito por colonos ribeirinhos do Rio Iáco (ou Yaco como querem alguns) em plena floresta amazônica! A intenção do governo local era a de que vistoriássemos “in loco” o referido plantio e o fabrico do produto acabado, que é comercializado para os “atravessadores” (comerciantes fluviais) no período da águas, quando as embarcações de carga podem aportar e e sair carregadas. Fomos consultados para que após feita esta visita pudéssemos dar parecer técnico acerca das potencialidades com vistas na profissionalização da cadeia produtiva.
No entanto, a pergunta principal para nós era: por que o Governo Estadual do Acre estava tão interessado em incentivar o plantio de tabaco, a ponto de financiar a sua profissionalização? E justamente através de sua Secretaria de Meio Ambiente? Estávamos realmente intrigados.
Após um período de mais de dois meses de trocas recíprocas de e-mails, finalmente embarcamos para Rio Branco no dia 30/07! Lá fomos recebidos pelo Assessor direto do Secretário, que nos explanou resumindo a real intenção do convite: O Estado do Acre mantém atualmente intactos cerca de 88% da cobertura florestal de seu território original! Foi feito recentemente estudo de Plano de Manejo com o levantamento das áreas produtivas e seus respectivos produtos. Dentre eles está o cultivo de tabaco! E a idéia simples, porém genial, do governo estadual, mais especificamente da SEMA, é a de aperfeiçoar as diversas cadeias produtivas preexistentes, incentivando a profissionalização da agricultura familiar e fomentando o sistema de cooperativismo, para fixar o homem rural ao seu meio, evitando assim mais derrubada da floresta amazônica. Este homem e sua família tornar-se-ão, portanto, suficientemente aparelhados a ponto de se tornarem inclusive guardiães avançados desta floresta, dela tirando o seu pleno sustento!
Ficou então combinado que no dia seguinte iríamos iniciar a visita acompanhados de dois técnicos da SEMA – um engenheiro agrônomo e um florestal, além do nosso valente e competente motorista da picape Toyota Bandeirante cabine dupla (um verdadeiro trator naqueles intermináveis atoleiros...). E quando retornássemos teríamos nova reunião com o Secretário do meio Ambiente para relatório prévio do que tivéssemos constatado.
Do dia 01 ao dia 03 de julho nos embrenhamos na floresta amazônica do Acre. Foi uma das maiores aventuras de minha vida (olha que nos idos de 1982, jovem nos meus 20 e poucos anos, já tinha enfrentado a mesma floresta nas cercanias de Manaus e descido o Rio Amazonas durante uma semana rumo a Belém)! Na ida até as margens do Rio Iáco enfrentamos por cerca de 3 horas em percurso de pouco mais 90 km floresta adentro em estrada recém aberta denominada de “Ramal”. Pernoitamos na primeira noite em casa-sede de madeira sobre pau-a-pique (tipologia construtiva da região, uma vez que madeira lá é “mato”) de fazenda às margens do Iáco. No dia seguinte cedo levantamos acampamento (literalmente, pois dormíramos na varanda, em redes) e pegamos o barco a motor que já estava nos aguardando com seu também valoroso piloto. Após mais de 2 horas (para vencer distância de pouco mais de 30 km) nos desembarcou sãos e salvos no nosso destino – a plantação de tabaco de S. Chiquinho. Lá conhecemos sua família, mulher e 10 filhos, o mais novo caçula, uma macaquinho bugio – o “Orelhudo” – o mascotinho travesso, xodó de todos presentes! Fomos então finalmente conhecer o tal plantio ecológico de tabaco – técnica e sementes passadas de pais para filhos, a gerações e gerações, a ponto de não se saber a origem das sementes... É realmente ecológica porque não se adiciona nenhum tipo de adubo químico ao solo, não há nenhum tipo de praga e nem de aplicação de agrotóxico, e, a secagem das folhas colhidas é feita sob pequenas coberturas de palhas de palmáceas da região. Depois ficamos conhecendo também o subproduto comercializado: um cilindro de aprox. 1,50 m de comprimento por diâmetro médio de 5 a 6 cm, de folhas prensadas à seco por corda de sisal, que após tomar seu formato definitivo é substituída por fita de borracha natural de seringueira. Querem fumo de corda mais ecológico do que este, sem nenhum tipo de produto sintético nem em sua forma? É este cilindro que é vendido aos supracitados atravessadores e estes o revendem em “fatias” chamadas de “libras”. O sujeito que compra a libra tira uma fina fatia, esfarela o tabaco prensado e o apõe delicadamente sobre o “papelinho” – está pronto o cigarrinho para ser degustado pelo consumidor local.
No dia 03, após novo pernoite em redes, retornamos pelo mesmo caminho de dois dias antes: novamente 2 horas de barco, mais 3 horas de atoleiros e em seguida mais 2 horas de asfalto. Mas, valeu muito a pena a experiência e saber que se planta tabaco por este imenso Brasil afora e que isto ocorre a muitas gerações, hábito herdado por nós ditos homens civilizados, dos nossos antepassados indígenas. Estávamos carregando amostras de folhas de tabaco, devidamente acondicionadas, para procedermos o beneficiamento (processo de fermentação natural) e posterior manufatura de cigarrilhas e charutos para testes de degustação quando retornássemos a Cruz das Almas/BA. E teríamos no dia seguinte reunião com o Secretário da SEMA para passar nossa impressão técnica inicial. Mas, o resultado disto tudo é assunto para uma próxima coluna...
*Escreve a coluna 'Charutos' na revista ConceitoSA.
Ricardo Becker*
Presidente do Sindicato das Indústrias de Tabaco da Bahia
Antes de mais nada, gostaria de me desculpar pela ausência por tão prolongado período (a última vez que escrevi a coluna foi em fins de julho). É que tenho viajado muito por conta do cargo de Presidente do SINDITABACO/BA, que atualmente ocupo. Apesar de todas ferramentas que a moderna informática nos coloca a serviço, ainda não inventaram um dia com mais de 24 horas... Ou será que não estamos sabendo aproveitar melhor as 24 que temos disponíveis!?
Bem, voltando ao assunto desta, gostaria de compartilhar com meus leitores a última viagem que fiz por conta do meu trabalho como “tabaqueiro/charuteiro”. A convite da Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) do Governo Estadual do Acre, fomos eu e um colega engenheiro agrônomo – o Odacir Tonelli Strada (também Diretor do Sinditabaco/BA), este sim especialista em tabaco – para Rio Branco. O convite tinha como objetivo (pasmem os senhores...) conhecer o plantio de tabaco feito por colonos ribeirinhos do Rio Iáco (ou Yaco como querem alguns) em plena floresta amazônica! A intenção do governo local era a de que vistoriássemos “in loco” o referido plantio e o fabrico do produto acabado, que é comercializado para os “atravessadores” (comerciantes fluviais) no período da águas, quando as embarcações de carga podem aportar e e sair carregadas. Fomos consultados para que após feita esta visita pudéssemos dar parecer técnico acerca das potencialidades com vistas na profissionalização da cadeia produtiva.
No entanto, a pergunta principal para nós era: por que o Governo Estadual do Acre estava tão interessado em incentivar o plantio de tabaco, a ponto de financiar a sua profissionalização? E justamente através de sua Secretaria de Meio Ambiente? Estávamos realmente intrigados.
Após um período de mais de dois meses de trocas recíprocas de e-mails, finalmente embarcamos para Rio Branco no dia 30/07! Lá fomos recebidos pelo Assessor direto do Secretário, que nos explanou resumindo a real intenção do convite: O Estado do Acre mantém atualmente intactos cerca de 88% da cobertura florestal de seu território original! Foi feito recentemente estudo de Plano de Manejo com o levantamento das áreas produtivas e seus respectivos produtos. Dentre eles está o cultivo de tabaco! E a idéia simples, porém genial, do governo estadual, mais especificamente da SEMA, é a de aperfeiçoar as diversas cadeias produtivas preexistentes, incentivando a profissionalização da agricultura familiar e fomentando o sistema de cooperativismo, para fixar o homem rural ao seu meio, evitando assim mais derrubada da floresta amazônica. Este homem e sua família tornar-se-ão, portanto, suficientemente aparelhados a ponto de se tornarem inclusive guardiães avançados desta floresta, dela tirando o seu pleno sustento!
Ficou então combinado que no dia seguinte iríamos iniciar a visita acompanhados de dois técnicos da SEMA – um engenheiro agrônomo e um florestal, além do nosso valente e competente motorista da picape Toyota Bandeirante cabine dupla (um verdadeiro trator naqueles intermináveis atoleiros...). E quando retornássemos teríamos nova reunião com o Secretário do meio Ambiente para relatório prévio do que tivéssemos constatado.
Do dia 01 ao dia 03 de julho nos embrenhamos na floresta amazônica do Acre. Foi uma das maiores aventuras de minha vida (olha que nos idos de 1982, jovem nos meus 20 e poucos anos, já tinha enfrentado a mesma floresta nas cercanias de Manaus e descido o Rio Amazonas durante uma semana rumo a Belém)! Na ida até as margens do Rio Iáco enfrentamos por cerca de 3 horas em percurso de pouco mais 90 km floresta adentro em estrada recém aberta denominada de “Ramal”. Pernoitamos na primeira noite em casa-sede de madeira sobre pau-a-pique (tipologia construtiva da região, uma vez que madeira lá é “mato”) de fazenda às margens do Iáco. No dia seguinte cedo levantamos acampamento (literalmente, pois dormíramos na varanda, em redes) e pegamos o barco a motor que já estava nos aguardando com seu também valoroso piloto. Após mais de 2 horas (para vencer distância de pouco mais de 30 km) nos desembarcou sãos e salvos no nosso destino – a plantação de tabaco de S. Chiquinho. Lá conhecemos sua família, mulher e 10 filhos, o mais novo caçula, uma macaquinho bugio – o “Orelhudo” – o mascotinho travesso, xodó de todos presentes! Fomos então finalmente conhecer o tal plantio ecológico de tabaco – técnica e sementes passadas de pais para filhos, a gerações e gerações, a ponto de não se saber a origem das sementes... É realmente ecológica porque não se adiciona nenhum tipo de adubo químico ao solo, não há nenhum tipo de praga e nem de aplicação de agrotóxico, e, a secagem das folhas colhidas é feita sob pequenas coberturas de palhas de palmáceas da região. Depois ficamos conhecendo também o subproduto comercializado: um cilindro de aprox. 1,50 m de comprimento por diâmetro médio de 5 a 6 cm, de folhas prensadas à seco por corda de sisal, que após tomar seu formato definitivo é substituída por fita de borracha natural de seringueira. Querem fumo de corda mais ecológico do que este, sem nenhum tipo de produto sintético nem em sua forma? É este cilindro que é vendido aos supracitados atravessadores e estes o revendem em “fatias” chamadas de “libras”. O sujeito que compra a libra tira uma fina fatia, esfarela o tabaco prensado e o apõe delicadamente sobre o “papelinho” – está pronto o cigarrinho para ser degustado pelo consumidor local.
No dia 03, após novo pernoite em redes, retornamos pelo mesmo caminho de dois dias antes: novamente 2 horas de barco, mais 3 horas de atoleiros e em seguida mais 2 horas de asfalto. Mas, valeu muito a pena a experiência e saber que se planta tabaco por este imenso Brasil afora e que isto ocorre a muitas gerações, hábito herdado por nós ditos homens civilizados, dos nossos antepassados indígenas. Estávamos carregando amostras de folhas de tabaco, devidamente acondicionadas, para procedermos o beneficiamento (processo de fermentação natural) e posterior manufatura de cigarrilhas e charutos para testes de degustação quando retornássemos a Cruz das Almas/BA. E teríamos no dia seguinte reunião com o Secretário da SEMA para passar nossa impressão técnica inicial. Mas, o resultado disto tudo é assunto para uma próxima coluna...
*Escreve a coluna 'Charutos' na revista ConceitoSA.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home