ELEIÇÕES: DESIGUALDADES E DOIS TURNOS ATRAEM MAIS CANDIDATOS
Por Nilbberth Silva
Agência USP de Notícias
Em Bálsamo (SP) apenas uma pessoa se candidatou a prefeito em 2008. Já em São Paulo, o número chegou a doze, segundo o Superior Tribunal Eleitoral (STE). Uma pesquisa da USP tenta explicar essa diferenças. Os resultados iniciais mostram que eleições com dois turnos tendem a atrair maior número de candidatos. Mas essa influência só se faz sentir quando as cidades têm desigualdade de renda suficientemente alta.
A pesquisa mostrou que a existência de segundo turno só tende a atrair candidatos em cidades com índice de Gini acima de uma faixa entre 0,5 e 0,6. O Coeficiente de Gini, desenvolvido pelo matemático italiano Corrado Gini, é um parâmetro usado para medir a desigualdade de distribuição de renda entre os países. Na pesquisa, foi considerado um medidor da heterogeneidade de grupos socais que há em uma cidade. O índice de Gini varia de 0 a 1 — quanto mais próximo de 1, pior a distribuição de renda. O índice do Brasil em 2006, por exemplo, era de 0,56, segundo dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Significa que cerca de 10% dos habitantes do País detinham 75% da renda.
Para chegar ao resultado, os economistas analisaram as relações entre dados como a quantidade de candidatos, existência ou não de segundo turno e o índice de Gini de municípios brasileiros. Eles compararam as eleições antes e depois de 1988, quando o segundo turno se tornou obrigatório para cidades com mais de 200 mil eleitores.
“Esse é um efeito médio”, explica Mauro Rodrigues, professor da FEA e um dos autores do trabalho. “Com as ferramentas estatísticas que usamos, não dá para prever para cada município”.
Segundo Rodrigues, teorias dão duas razões para candidatos serem atraídos pela existência de dois turnos: alguns procuram ganhar notoriedade concorrendo até o final e outros esperam trocar o apoio de seus eleitores por influência na gestão do apoiado. Já a heterogeneidade social atrai candidatos porque quanto mais grupos sociais houver em uma cidade, mais candidatos serão necessários para representá-los.
Confirmando pesquisas
Análises estrangeiras já apontavam que o número de candidatos é influenciado pela existência ou não de segundo turno e pelo número de grupos sociais diferentes do eleitorado. Essas pesquisas, feitas com dados de eleições presidenciais de diversos países do mundo, receberam críticas porque em muitos desses países uma grande diversidade de grupos sociais pode ter influenciado a população a escolher os dois turnos. Na hora de analisar os dados, não seria possível separar os dois fatores.
Mas no Brasil, o segundo turno é estabelecido por lei e não por opção do eleitorado. “A nossa pesquisa supera a crítica, por que não há possibilidade de um fator ter influenciado o outro”, explica Rodrigues.
A pesquisa não explica se a relação entre os dois fatores é boa ou ruim para a democracia do País. “Não fazemos esse juízo de valor”, diz Rodrigues. “É fora da nossa alçada”. Interessados podem ler o artigo com resultados preliminares no site do pesquisador.
Agência USP de Notícias
Em Bálsamo (SP) apenas uma pessoa se candidatou a prefeito em 2008. Já em São Paulo, o número chegou a doze, segundo o Superior Tribunal Eleitoral (STE). Uma pesquisa da USP tenta explicar essa diferenças. Os resultados iniciais mostram que eleições com dois turnos tendem a atrair maior número de candidatos. Mas essa influência só se faz sentir quando as cidades têm desigualdade de renda suficientemente alta.
A pesquisa mostrou que a existência de segundo turno só tende a atrair candidatos em cidades com índice de Gini acima de uma faixa entre 0,5 e 0,6. O Coeficiente de Gini, desenvolvido pelo matemático italiano Corrado Gini, é um parâmetro usado para medir a desigualdade de distribuição de renda entre os países. Na pesquisa, foi considerado um medidor da heterogeneidade de grupos socais que há em uma cidade. O índice de Gini varia de 0 a 1 — quanto mais próximo de 1, pior a distribuição de renda. O índice do Brasil em 2006, por exemplo, era de 0,56, segundo dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Significa que cerca de 10% dos habitantes do País detinham 75% da renda.
Para chegar ao resultado, os economistas analisaram as relações entre dados como a quantidade de candidatos, existência ou não de segundo turno e o índice de Gini de municípios brasileiros. Eles compararam as eleições antes e depois de 1988, quando o segundo turno se tornou obrigatório para cidades com mais de 200 mil eleitores.
“Esse é um efeito médio”, explica Mauro Rodrigues, professor da FEA e um dos autores do trabalho. “Com as ferramentas estatísticas que usamos, não dá para prever para cada município”.
Segundo Rodrigues, teorias dão duas razões para candidatos serem atraídos pela existência de dois turnos: alguns procuram ganhar notoriedade concorrendo até o final e outros esperam trocar o apoio de seus eleitores por influência na gestão do apoiado. Já a heterogeneidade social atrai candidatos porque quanto mais grupos sociais houver em uma cidade, mais candidatos serão necessários para representá-los.
Confirmando pesquisas
Análises estrangeiras já apontavam que o número de candidatos é influenciado pela existência ou não de segundo turno e pelo número de grupos sociais diferentes do eleitorado. Essas pesquisas, feitas com dados de eleições presidenciais de diversos países do mundo, receberam críticas porque em muitos desses países uma grande diversidade de grupos sociais pode ter influenciado a população a escolher os dois turnos. Na hora de analisar os dados, não seria possível separar os dois fatores.
Mas no Brasil, o segundo turno é estabelecido por lei e não por opção do eleitorado. “A nossa pesquisa supera a crítica, por que não há possibilidade de um fator ter influenciado o outro”, explica Rodrigues.
A pesquisa não explica se a relação entre os dois fatores é boa ou ruim para a democracia do País. “Não fazemos esse juízo de valor”, diz Rodrigues. “É fora da nossa alçada”. Interessados podem ler o artigo com resultados preliminares no site do pesquisador.
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