ARTIGO AVALIA IMPORTÂNCIA DAS CAMPANHAS CONTRA O FUMO EM MAÇOS DE CIGARROS
Das imagens de advertência, as que mais motivam o abandono da prática de fumar são aquelas que ilustram situações mais dramáticas, como a mulher entubada com câncer de pulmão e a do bebê prematuro. As que menos motivam são as que retratam situações sociais, como a de pai fumando perto do filho e a que sugere mau hálito, na qual um rapaz com cigarro conversa com uma moça que parece enojada
Renata Moehlecke
Agência Fiocruz de Notícias
No Brasil, 200 mil pessoas morrem anualmente em decorrência da exposição aos produtos do tabaco, sendo o tabagismo a principal causa de morte evitável e fator de risco para seis das oito doenças que mais matam, dentre elas infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, doenças pulmonar obstrutiva crônica e tuberculose. Com base na necessidade de reforçar ainda mais as advertências contra o uso de produtos derivados do tabaco, em pesquisa publicada na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, publicada pela Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), pesquisadores das universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Federal Fluminense (UFF) e Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) avaliaram a eficiência das novas campanhas do Ministério da Saúde nos maços de cigarros.
“Advertências sanitárias com imagens mostradas em embalagens de cigarro são uma das formas mais efetivas de informar acerca das consequências do tabagismo. Pesquisas da neurobiologia da emoção demonstram que estímulos visuais afetam atitudes e comportamentos; estímulos agradáveis promovem predisposições para aproximação e aversivos, afastamento”, comentam os pesquisadores no artigo. “Os apelos positivos que o marketing da indústria tabagista induz em suas embalagens devem ser neutralizados por advertências que mostrem o risco de fumar, desconstruindo o apelo prazeroso e induzindo predisposições de afastamento em relação ao produto”.
Segundo os pesquisadores, o Brasil é tido como exemplo mundial na área de controle do tabagismo, tendo desenvolvido longa e histórica luta para ampliar políticas de saúde pública para diminuir o uso de cigarros. O país teve papel ativo, em 2005, na formulação e implementação da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco da Organização Mundial de Saúde (OMS), que hoje tem 164 membros, e consolidou diversas ações de caráter educativo, legislativo, econômico e de atenção a saúde, que visam contribuir para prevenir a iniciação, promover o fim do consumo e proteger a população dos riscos do tabagismo passivo.
“Entre as mais importantes ações adotadas nos últimos dez anos, destacam-se a proibição do patrocínio de eventos culturais e esportivos pelas companhias de tabaco e a restrição da exibição de programas de rádio, TV, jornais e outras mídias – só permitidas nos pontos internos de venda”, afirmam os pesquisadores. “Com seu alto apelo emocional, tais propagandas influenciaram diversas gerações, disseminando imagens que procuravam associar o cigarro a glamour, rebeldia, status, interdependência, espírito de aventura, beleza, sexualidade e conquistando, assim, grande número de jovens”.
Os estudiosos explicam que, com o fim das propagandas, o meio mais efetivo de a indústria estimular a venda e o consumo de cigarros passou a ser sua própria embalagem. “Os fabricantes têm a clara noção de que o primeiro contato dos adolescentes com o cigarro é uma experiência desagradável devido ao efeito aversivo da nicotina e ao sabor forte do produto”, destacam os pesquisadores. “Visando diminuir essa aversão, trabalham ativamente, por meio de simbolismos próprios da fase de adolescência, para motivá-los a experimentar e a usar o cigarro como um passaporte para o mundo adulto”.
Intervenções para alertar possíveis usuários teriam se tornado, assim, extremamente necessárias. Em 2001, além da inclusão da frase "Ministério da Saúde adverte: fumar é prejudicial à saúde" na lateral das embalagens, foi determinado por lei que as advertências sanitárias ocupassem totalmente uma das principais faces das embalagens e contivessem imagens ilustrativas dos males do tabagismo, além de exibir o número de telefone do Disque Saúde–Pare de Fumar. “Quando a inclusão de advertências com fotos nas embalagens tornou-se obrigatória, algumas companhias passaram a promover a venda de cigarreiras de metal, capas para os maços e outros artefatos para induzir o fumante a cobrir as advertências”, dizem os pesquisadores. “Também passaram a inserir pequenos panfletos com superfície autocolante e com propaganda da marca, no mesmo formato e tamanho das advertências sanitárias, para o mesmo fim. Todas essas medidas de enfraquecimento do impacto das advertências foram combatidas por regulamentações expedidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”.
Por outro lado, a reação da população, de acordo com os estudiosos, foi muito positiva: em 2002, uma pesquisa realizada pelo Datafolha revelou que 76% dos entrevistados apoiaram a obrigatoriedade do uso de imagens e 67% dos fumantes consultados relataram que os avisos tinham os estimulado a parar de fumar. “Das imagens de advertência, as que mais motivam o abandono da prática de fumar são aquelas que ilustram situações mais dramáticas, como a mulher entubada com câncer de pulmão e a do bebê prematuro”, explicam os pesquisadores. “Quanto as que menos motivam, apontaram-se as que retratam situações sociais, como a de pai fumando perto do filho, relacionada ao exemplo como fator para iniciação de jovens; a que ilustra a dependência de nicotina, na qual um rapaz acende um cigarro no outro para passar a ideia de que se trata de fumante em cadeia, ou seja, um grande dependente; e a que sugere mau hálito, na qual um rapaz com cigarro conversa com uma moça que parece enojada”.
Além disso, os pesquisadores ainda apontam que a união de órgãos de saúde pública e centros acadêmicos de pesquisa para formular novas campanhas para maços de cigarros tem sido considerada inovação de alcance promissor. “Por meio de trabalho conjunto e pioneiro envolvendo distintas áreas de pesquisa, foi possível desenvolver advertências de alta relevância emocional, com intuito de proteger a população brasileira das graves consequências do tabagismo”, elucidam os estudiosos. “Mais uma vez, o Brasil se coloca na vanguarda nos trabalhos de saúde pública, tornando-se modelo de inovação ao agregar conhecimentos acadêmicos a um mecanismo concreto de alerta para hábitos saudáveis”.
Renata Moehlecke
Agência Fiocruz de Notícias
No Brasil, 200 mil pessoas morrem anualmente em decorrência da exposição aos produtos do tabaco, sendo o tabagismo a principal causa de morte evitável e fator de risco para seis das oito doenças que mais matam, dentre elas infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, doenças pulmonar obstrutiva crônica e tuberculose. Com base na necessidade de reforçar ainda mais as advertências contra o uso de produtos derivados do tabaco, em pesquisa publicada na revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, publicada pela Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), pesquisadores das universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Federal Fluminense (UFF) e Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) avaliaram a eficiência das novas campanhas do Ministério da Saúde nos maços de cigarros.
“Advertências sanitárias com imagens mostradas em embalagens de cigarro são uma das formas mais efetivas de informar acerca das consequências do tabagismo. Pesquisas da neurobiologia da emoção demonstram que estímulos visuais afetam atitudes e comportamentos; estímulos agradáveis promovem predisposições para aproximação e aversivos, afastamento”, comentam os pesquisadores no artigo. “Os apelos positivos que o marketing da indústria tabagista induz em suas embalagens devem ser neutralizados por advertências que mostrem o risco de fumar, desconstruindo o apelo prazeroso e induzindo predisposições de afastamento em relação ao produto”.
Segundo os pesquisadores, o Brasil é tido como exemplo mundial na área de controle do tabagismo, tendo desenvolvido longa e histórica luta para ampliar políticas de saúde pública para diminuir o uso de cigarros. O país teve papel ativo, em 2005, na formulação e implementação da Convenção-Quadro para Controle do Tabaco da Organização Mundial de Saúde (OMS), que hoje tem 164 membros, e consolidou diversas ações de caráter educativo, legislativo, econômico e de atenção a saúde, que visam contribuir para prevenir a iniciação, promover o fim do consumo e proteger a população dos riscos do tabagismo passivo.
“Entre as mais importantes ações adotadas nos últimos dez anos, destacam-se a proibição do patrocínio de eventos culturais e esportivos pelas companhias de tabaco e a restrição da exibição de programas de rádio, TV, jornais e outras mídias – só permitidas nos pontos internos de venda”, afirmam os pesquisadores. “Com seu alto apelo emocional, tais propagandas influenciaram diversas gerações, disseminando imagens que procuravam associar o cigarro a glamour, rebeldia, status, interdependência, espírito de aventura, beleza, sexualidade e conquistando, assim, grande número de jovens”.
Os estudiosos explicam que, com o fim das propagandas, o meio mais efetivo de a indústria estimular a venda e o consumo de cigarros passou a ser sua própria embalagem. “Os fabricantes têm a clara noção de que o primeiro contato dos adolescentes com o cigarro é uma experiência desagradável devido ao efeito aversivo da nicotina e ao sabor forte do produto”, destacam os pesquisadores. “Visando diminuir essa aversão, trabalham ativamente, por meio de simbolismos próprios da fase de adolescência, para motivá-los a experimentar e a usar o cigarro como um passaporte para o mundo adulto”.
Intervenções para alertar possíveis usuários teriam se tornado, assim, extremamente necessárias. Em 2001, além da inclusão da frase "Ministério da Saúde adverte: fumar é prejudicial à saúde" na lateral das embalagens, foi determinado por lei que as advertências sanitárias ocupassem totalmente uma das principais faces das embalagens e contivessem imagens ilustrativas dos males do tabagismo, além de exibir o número de telefone do Disque Saúde–Pare de Fumar. “Quando a inclusão de advertências com fotos nas embalagens tornou-se obrigatória, algumas companhias passaram a promover a venda de cigarreiras de metal, capas para os maços e outros artefatos para induzir o fumante a cobrir as advertências”, dizem os pesquisadores. “Também passaram a inserir pequenos panfletos com superfície autocolante e com propaganda da marca, no mesmo formato e tamanho das advertências sanitárias, para o mesmo fim. Todas essas medidas de enfraquecimento do impacto das advertências foram combatidas por regulamentações expedidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”.
Por outro lado, a reação da população, de acordo com os estudiosos, foi muito positiva: em 2002, uma pesquisa realizada pelo Datafolha revelou que 76% dos entrevistados apoiaram a obrigatoriedade do uso de imagens e 67% dos fumantes consultados relataram que os avisos tinham os estimulado a parar de fumar. “Das imagens de advertência, as que mais motivam o abandono da prática de fumar são aquelas que ilustram situações mais dramáticas, como a mulher entubada com câncer de pulmão e a do bebê prematuro”, explicam os pesquisadores. “Quanto as que menos motivam, apontaram-se as que retratam situações sociais, como a de pai fumando perto do filho, relacionada ao exemplo como fator para iniciação de jovens; a que ilustra a dependência de nicotina, na qual um rapaz acende um cigarro no outro para passar a ideia de que se trata de fumante em cadeia, ou seja, um grande dependente; e a que sugere mau hálito, na qual um rapaz com cigarro conversa com uma moça que parece enojada”.
Além disso, os pesquisadores ainda apontam que a união de órgãos de saúde pública e centros acadêmicos de pesquisa para formular novas campanhas para maços de cigarros tem sido considerada inovação de alcance promissor. “Por meio de trabalho conjunto e pioneiro envolvendo distintas áreas de pesquisa, foi possível desenvolver advertências de alta relevância emocional, com intuito de proteger a população brasileira das graves consequências do tabagismo”, elucidam os estudiosos. “Mais uma vez, o Brasil se coloca na vanguarda nos trabalhos de saúde pública, tornando-se modelo de inovação ao agregar conhecimentos acadêmicos a um mecanismo concreto de alerta para hábitos saudáveis”.
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