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26 novembro 2011

A NOVA ONDA DE IMIGRAÇÃO PARA O BRASIL

Brasil vira meca para mão de obra imigrante

Pablo Pereira, O Estado de S. Paulo

[Arthur Fuchs, da Efacec: 'Nós já trouxemos em 2011 entre 10 e 15 pessoas. Foto: Werther Santana/AE]

O agravamento do quadro econômico internacional nos últimos meses e o crescimento interno brasileiro colocaram o Brasil na rota da imigração de trabalhadores. Dados do Ministério da Justiça mostram um aumento de 52,5% no número de regularização de estrangeiros que buscam uma oportunidade de vida no País, saltando de 961 mil registros em 2010 para 1,466 milhão até junho. Portugueses, bolivianos, chineses e paraguaios lideram os índices de elevação da regularização do Departamento de Estrangeiros do Ministério. E a concessão de nacionalidade brasileira dobrou. Subiu de 1.119 (em 2008) para 2.116 novos brasileiros (em 2010).

No Brasil, os estrangeiros que mais procuram oportunidades de trabalho são os portugueses. No ano passado, a regularização de passaportes pelo Ministério da Justiça contemplou 276.703 portugueses até junho. De janeiro a junho deste ano, esse número pulou para 328.826 mil" 52.123 a mais do que no período anterior. Em seguida, aparecem os bolivianos. O Brasil acertou a situação de 35.092 deles em 2010 e outros 50.640 agora, em 2011. E há ainda crescimento no reconhecimento da migração de chineses e paraguaios.

Para o secretário nacional de Justiça, Paulo Abrão, a crescente procura por oportunidades de trabalho no Brasil é resultado de uma mistura entre o momento da economia brasileira e a crise do emprego nos países centrais. Segundo Abrão, há ainda dois aspectos relevantes. Do ponto de vista político, o Brasil adquiriu maior visibilidade internacional e teremos também importantes eventos nos próximos anosâs, observa, referindo-se à Copa do Mundo e à Olimpíada. Por outro lado, argumenta, há a forte demanda de empresas brasileiras que se beneficiam com a chegada de profissionais de alta qualificação.

Números do Ministério do Trabalho também apontam esse aumento de estrangeiros no mercado de trabalho formal. O País tem hoje taxas de desemprego na casa dos 6%, que é próximo do chamado pleno emprego. Segundo estudos do ministério, o total de autorização temporária para estrangeiros passou de 40 mil em 2009 para 53 mil em 2010. Comparados só os dois últimos primeiros semestres, a tendência se mantém. No primeiro semestre de 2010 foram 20 mil. No mesmo período de 2011, 24,6 mil.

Houve aumento também na concessão para permanentes. De 1.428 (janeiro-junho de 2010) para 1.861 (janeiro-junho de 2011), segundo o Ministério do Trabalho. O número de especialistas com vínculo empregatício foi de 1.714 (janeiro-junho de 2010) para 2.024 (janeiro-junho de 2011). E entre os trabalhadores estrangeiros com prazo de 90 dias de autorização, sem vínculo empregatício, classificados também no item “assistência técnica, o número subiu de 3,7 mil para 5 mil.

Nas autorizações de trabalho permanente para profissionais como diretores de empresas e gerentes, o Brasil inclui cerca de 700 deles por semestre em seu mercado de trabalho. Os estrangeiros da categoria investidor pessoa física são cerca de 430 a mais por semestre, segundo o Ministério do Trabalho.

O Brasil tem tradição de receptividade. Somos vistos como um país aberto, democrático, receptivo. O Brasil sempre foi um país de imigração, justifica Abrão. Ele afirma também que não há preocupação do governo com relação a esse movimento. Ao contrário. Os imigrantes sempre cumpriram um papel fundamental. Tivemos somente um único período da nossa história no qual o número de emigrantes foi superior ao número de imigrantes, que coincide com um período da época de recessão entre 80 e 90, lembra Abrão.

Nós já trouxemos em 2011 entre 10 e 15 pessoas, afirma Artur Fuchs, brasileiro, presidente para a América Latina da Efacec, multinacional portuguesa da área de energia, engenharia e logística, com operações no Brasil. Segundo Fuchs, a crise de emprego na Europa está disponibilizando mão de obra altamente qualificada para o Brasil. Ele declara que o ambiente é favorável também porque Portugal tem excelência na formação. E o câmbio também ajuda a pagar salários a profissionais europeus, diz o presidente da Efacec.

Os salários para esses profissionais qualificados são variados, explica o CEO. Executivos do mercado de trabalho calculam que um profissional estrangeiro especializado está chegando a preços que variam entre R$ 5 mil e R$ 10 mil mensais.

Para o professor José Pastore, da USP, o diagnóstico federal está correto. Mas o aumento é de mais de 50%, avalia Pastore. Em 2010, foram cerca de 25 mil autorizações e em 2011 chegaremos perto de 50 mil. Ainda é pouco para o tamanho da força de trabalho no Brasil (100 milhões), mas o crescimento é acelerado.

Os principais setores de atração, segundo Pastore, são químico, petroquímico, energia de modo geral, setor financeiro e auditores. Para Pastore, os dados de emprego de estrangeiros mostram que há grande parte das autorizações referente a pessoal embarcado “ tripulantes de navios estrangeiros que devem se registrar para poder trabalhar na costa brasileira. “Isso distorce os dados finais. Não se trata apenas de mão de obra qualificada. Mas a maior parte dos que vêm são qualificados, afirma.

Segundo o último relatório de emprego da agência europeia Eurostat, de outubro, a Europa vive sua pior crise de desemprego desde 1998. Há hoje 16,2 milhões de pessoas sem trabalho na região. A maior taxa por país foi registrada na Espanha: 22,6%. Em Portugal, 12,5%. Na Grécia, pivô do agravamento da crise econômica em outubro, o desemprego em julho chegou a 18%

'O País está no caminho certo', diz imigrante português

[O português Marcos Pereira no trabalho, na região central de São Paulo. Foto: Ayrton Vignola/AE]

Ele ainda está se acostumando com o tamanho de São Paulo. Chegou ao Brasil em junho, viveu em hotel até agosto, quando alugou um apartamento em Perdizes, zona oeste, para trazer a mulher, Mónica, e a filhinha, Leonor, de 3 anos. Marcos Pereira, de 36 anos, português, nascido e criado até os 10 anos na Alemanha, é formado em eletrotécnica em Portugal e deixou a pequena cidade Vila das Aves, a cerca de 40 quilômetros do Porto, para gerenciar um projeto de modernização das Linhas 2 e 7 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) em São Paulo.

Pereira foi contratado por dois anos pela Efacec, empresa portuguesa que tem negócios no Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai, Estados Unidos e Europa, na área de energia e transportes. Operador de um projeto do metrô do Porto, foi chamado para trabalhar no Brasil após o final da obra de extensão na cidade, que fica ao norte de Portugal.

Ele ainda não sabe por quanto tempo vai ficar no País. A empresa cuidou dos trâmites legais da imigração e o futuro depende do andamento dos negócios da Efacec. Há colegas dele, na própria Efacec, que vieram para trabalhar por dois anos, mas estenderam a estadia.

O português migrante ainda estranha o gigantismo da metrópole paulista ao olhar pela janela do 28.º andar do prédio da Rua Líbero Badaró, no centro. "Na minha vila não há edifícios assim", diz, observando a região. Ele estranha especialmente o trânsito. Mas elogia a limitação da velocidade dentro da cidade. "Assim é mais fácil conduzir", argumenta – querendo dizer "dirigir".

A mulher, professora, ocupa o tempo nos cuidados com a filha, que deve ser aceita na escola somente em fevereiro. "Ela está a buscar", continua Pereira, explicando que a mulher procura oportunidade de trabalho "com educação infantil" para quando Leonor for para o colégio. Por enquanto, diz, "a menina ainda está a precisar dos sonos, das sestas".

Cooperação

Nesta fase da adaptação, a família procura mesmo é entender o ambiente brasileiro. Mónica, que é de Peniche, no litoral, a cerca de 100 quilômetros de Lisboa, também não conhecia o Brasil. "Pouco saímos de casa. Despendemos o tempo livre com a oferta cultural infantil, que nesta cidade é incrível", afirma Pereira.

O português diz que a situação na Europa está difícil, que "o Brasil está no caminho certo", e que deve melhorar muito nos próximos anos. Pereira conta que a opção por trabalhar no País, que ele não conhecia, foi feita por causa do idioma. "Para a adaptação da família à língua", explica.

No trabalho, está contente com o que encontrou. "Os portugueses são muito exigentes consigo mesmo. Já o jeito dos brasileiros é diferente. Os brasileiros facilitam a cooperação, a integração. E isso contribui muito para o resultado do trabalho. As pessoas unem-se para fazer acontecer", afirma.