PESTICIDAS REDUZEM CAPACIDADE DE ABELHAS PARA POLINIZAR
Fábio
de Castro
O
Estado de S. Paulo
Colônias
de abelhas sem ferrão expostas a pesticidas neonicotinoides reduzem sua
capacidade de polinizar culturas agrícolas, de acordo com um novo estudo
publicado na quinta-feira, 19/11, na revista Nature.
Esse
tipo de pesticida, o mais utilizado no mundo, foi banido na Europa desde
2013 depois de diversos estudos terem indicado que sua
aplicação afeta o comportamento e a reprodução das abelhas.
Os
estudos feitos até agora, no entanto, avaliavam apenas os efeitos dos
pesticidas na mortalidade de abelhas, enquanto a nova pesquisa mostrou seus
impactos nos importantes serviços de polinização que elas fornecem.
As
abelhas são responsáveis por polinizar mais de 50% das plantas das florestas
tropicais, 80% das do cerrado e 73% de todas as culturas agrícolas do mundo, de
acordo com o projeto Polinizadores do Brasil, finalizado em outubro, com o
envolvimento de cientistas de 18 instituições, sob coordenação do FundoBrasileiro para a Biodiversidade (Funbio).
Experimentos
realizados pelo projeto mostraram que a presença das abelhas aumenta a
polinização e consequentemente a produtividade de culturas como algodão,
tomate, melão, castanha, canola, maça e caju. Certas culturas, como a do
maracujá, maçã e melão, são polinizadas exclusivamente por abelhas e não
existiriam sem esses insetos.
No
estudo da Nature, uma equipe internacional liderada por Dara Anne Stanley, da
Universidade Royal Holloway, de Londres (Reino Unido), os pesquisadores
estudaram como a exposição a baixos níveis de um pesticida neonicotinoide
(theamethoxam) afeta a capacidade das abelhas para polinizar flores de
macieira.
Os
cientistas expuseram 24 colônias de abelhas a diferentes níveis de thiamethoxam
por 13 dias e depois permitiram que elas tivessem acesso a plantações de
macieiras. Os autores observaram não apenas o comportamento geral das colônias,
mas também o comportamento individual das abelhas.
Eles
concluíram que as colônias expostas a neonicotinoides fazem menos visitas às
flores de macieiras, coletando o pólen com menos frequência e produzindo maças
com menos sementes, demonstrando uma taxa reduzida de serviços de polinização.
De
acordo com Elina Niño, professora da Universidade da Califórnia, em Davis
(Estados Unidos), o novo estudo traz uma importante contribuição sobre os
estudos dos impactos dos neocotinoides. "É um estudo interessante, já que
investiga não apenas como a exposição a pesticidas neonicotinoides afeta as
abelhas, mas também como afeta seu 'produto final' a fruta. É isso que as
abelhas nos fornecem: polinização para garantir a segurança alimentar",
afirmou Niño.
Complexidade. Segundo Gene Robinson, da
Universidade de Illinois em UrbanaChampaign (Estados Unidos), o estudo mostrou
que, embora as colônias de abelhas tratadas com pesticida neonicotinoide tenham
produzido maçãs com número reduzido de sementes, o mesmo não aconteceu com as
abelhas que eram expostas individualmente ao pesticida.
"Este
estudo destaca as complexidades da vida das sociedades de insetos e ilustra por
que é importante pesquisar a ação de pesticidas tanto no âmbito dos indivíduos,
como no âmbito das colônias. Essa é o único caminho para que possamos
compreender verdadeiramente a influência dessas substâncias nas abelhas",
afirmou Robinson.
Para
Felix Wäckers, da Universidade Lancaster (Reino Unido) afirmou que, embora o
novo estudo não seja surpreendente, levando em conta as evidências
anteriormente reportadas de impactos dos neonicotinoides no comportamento dos
polinizadores, o estudo é importante por demonstrar pela primeira vez que a
exposição ao pesticida de fato compromete a polinização de culturas.
Foto: Cristiano Menezes/Embrapa
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