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04 novembro 2005

ÓLEOS DE PLANTAS NATIVAS DA AMAZÔNIA - PARTE 1

Evandro J.L. Ferreira, Pesquisador do INPA-AC/UFAC
Janice F. do Nascimento-Acadêmica de Engenharia Florestal/UFAC
Anelena C. Lima-Acadêmica de Engenharia Florestal/UFAC
Cledson R. da Silva-Acadêmico de Engenharia Florestal/UFAC
Elessandro S. Oliveira-Acadêmico de Química/UFAC


Nos últimos anos tem se observado uma tendência cada vez maior de uso de matérias-primas de origem natural em produtos farmacéuticos e cosméticos. Isto tem causado uma corrida aos óleos extraídos de plantas nativas da amazônia, causando uma expansão rápida e significativa do mercado nacional e internacional destes produtos. Algumas das "espécies vedetes" do momento são a "copaíba" (Copaifera multijuga), "andiroba" (Carapa guianensis) e o "murmuru" (Astrocaryum ulei).
Embora esta nova fase de exploração de óleos amazônicos seja relativamente recente, tendo se iniciado a cerca de 10 anos atrás, a história da extração e comercialização de óleos vegetais na região remonta ao início do século XX. Naquela época a importância da atividade era muito maior tanto sob o ponto de vista econômico quanto social. Apesar de menor na atualidade, o potencial do mercado é grande o suficiente para atrair algumas empresas multinacionais, incluindo a Cognis, uma empresa de orígem alemã, considerada a maior oleoquímica do mundo.

Exploração na Amazônia ocorre desde o iníco do século XX

No inicio do século XX e durante a segunda guerra mundial o Brasil exportou cerca de 40 tipos diferentes de óleos vegetais extraídos de plantas nativas da Amazônia. A síntese da diversidade de espécies exploradas pode ser estudada no livro "Oleaginosas da Amazônia", publicado em 1941 pelo brasileiro Celestino Pesce. Este livro ainda é considerado a melhor referência sobre o assunto e em 1986 foi traduzido e publicado em inglês nos EUA. Neste livro Pesce apresenta uma extensa lista com as características do óleo de mais de 100 espécies oleaginosas nativas que haviam sido estudadas no Museu Comercial de Belém.
No auge da exploração de óleos nativos, o processamento das sementes e a extração do óleo eram feitos em indústrias localizadas na cidade de Belém e o produto final exportado para São Paulo, Europa e Estados Unidos. A atividade era realizada de forma muito precária em razão das dificuldades para a coleta, o transporte e a conservação das sementes. Era difícil coletar grandes quantidades de sementes na floresta porque havia escassez de mão-de-obra, os meios de transporte eram lentos e caros, e não existiam tecnologias e sistemas de armazenamento adequados para a conservação das sementes por longos períodos.
Após a segunda guerra, a demanda por óleos vegetais produzidos na Amazônia caiu vertiginosamente até a completa extinção do complexo industrial existente em Belém. Contribuíram para esse fato a massificação do uso de energia elétrica e o cultivo em larga escala de espécies oleaginosas anuais como o milho, a soja e o girassol, e de espécies perenes, principalmente o dendê. Esta tendência se manteve inalterada até o final do século XX, quando se verificou um crescente interesse pelos óleos vegetais provenientes de sistemas de extração e produção que causassem baixos impactos ambientais, a chamada exploração sustentável.
Nos últimos anos o uso de óleos “exóticos” extraídos de espécies florestais nativas para a elaboração de produtos cosméticos reforçou esta tendência e tem levado a um crescente interesse tanto por espécies oleaginosas que tiveram um "auge comercial" no passado, quanto por outras menos conhecidas e mais usadas de forma doméstica por todo o interior da Amazônia.
Um bom exemplo do apelo representado pelas espécies da região foi o recente lançamento de uma linha de cosméticos pela empresa Natura que contém o óleo essencial Spilol, retirado do "jambu" (Spilanthes oleracea). Esta erva, nativa da região amazônica, é muito conhecida dos acreanos por que faz parte da receita do tacacá, rabada, pato e galinha no tucupi. No momento a Natura tem comprado 9 mil maços de jambu por mês de um produtor paraense. Infelizmente já existem patentes internacionais sobre o princípio ativo desta espécie em nome de companhias japonesas. Lá ela é usada para a produção de cremes cosméticos - máscara facial, e refrescante de hálito na forma de goma de mascar e creme dental.

Lista das espécies exploradas tem crescido nos últimos anos

Apesar do Brasil possuir uma ampla diversidade de espécies oleaginosas nativas, apenas um número reduzido delas é explorado. Isto acontece porque se sabe pouco sobre as mesmas. Este panorama, entretanto, está mudando lentamente na medida em que algumas pesquisas são realizadas e novas informações sobre algumas espécies divulgadas. Entre as espécies mais exploradas para obtenção de óleos e gorduras podem ser citadas: andiroba, babaçu, buriti, castanha-do-pará, copaíba, cupuaçu, maracujá, murumuru, pequi, pimenta longa, ucuuba e urucum. Abaixo, são apresentadas aquelas que apresentam valor econômico para as indústrias oleoquímicas.
- Andiroba (Carapa guianensis): árvore de grande porte que pode atingir até 30 metros de altura. Nativa da Amazônia. O óleo e a gordura extraídos de seus frutos podem ser utilizados na elaboração de repelente de insetos, antissépticos, cicatrizantes e antiinflamatórios.
- Babaçu (Orbignya martiana): é uma palmeira de grande porte, muito comum em pastagens e áreas degradas da Amazônia. O óleo e a gordura extraídos de suas sementes são utilizados na fabricação de sabonetes e produtos para cabelos.
- Buriti (Mauritia flexuosa): palmeira de grande porte, comum em áreas alagadas. Está distribuída por quase todo o país. Do fruto se podem elaborar produtos com ação antioxidante. Serve também para combater a tensão e a deformação dos cabelos danificados por tinturas.
- Castanha-do-pará (Bertholletia excelsa): árvore amazônica de grande porte, que pode atingir entre 30 e 50 metros de altura. Suas sementes são usadas na elaboração de produtos pós-barba, repositores faciais e produtos antiidade. Previne o aparecimento de estrias.
- Copaíba (Copaifera spp.): arvore nativa da região amazônica que atinge até 36 metros de altura. O óleo extraído de seu tronco é um poderoso cicatrizante de feridas e úlceras, além de antiinflamatório e antisséptico.
- Cupuaçu (Theobrama grandiflorum): árvore ou arvoreta nativa da Amazônia oriental que é muito cultivada. Nesta condição atinge até 10 m de altura. Possui efeito antiinflamatório comprovado. Diminui a perda transepidérmica de água.
- Maracujá (Passiflora sp.): trepadeira nativa encontrada em todo o Brasil, onde é muito cultivada. Utilizada para a elaboração de produtos para peles oleosas ou com acne e xampus reequilibrantes.
- Murumuru (Astrocaryum murumuru): palmeira com estipe de 2 a 6 metros de altura. A gordura extraída de seus frutos serve como hidratante. Utilizado em produtos para o cabelo e sabonetes.
- Pequi (Caryocar brasiliensis): árvore nativa do Brasil, muito comum no cerrado. Pode atingir até 15 m de altura. Combate a tensão e a deformação dos cabelos danificados por tinturas químicas.
- Ucuuba (Virola sp.): árvore com até 10 metros de altura.A manteiga escura é usada para a fabricação de velas.
- Urucum (Bixa orellana): arvoreta com até 5 m de altura. De suas sementes se extraí corante natural e se elaboram produtos que protegem a pele dos raios solares. Também funciona como repelente de insetos.

Acre: potencial a ser descoberto

No Acre as espécies nativas mais exploradas comercialmente para extração de óleo e gordura são a copaíba, a andiroba, a pimenta longa (Piper hispidinervum), o murmuru, cupuaçu, urucum e o buriti. Tais espécies também são utilizadas para fins medicinais e insetífugas. Sendo estas as mais visadas pelas empresas multinacionais.
Outras espécies com reconhecido potencial oleaginoso têm sido exploradas para a extração de óleo pelas comunidades locais e usadas para a elaboração de sabão caseiro e na culinária. Neste grupo encontram-se o “cocão” (Attalea tessmannii), a “castanha do brasil” (Bertholletia excelsa) e o “patoá” (Oenocarpus batua). Embora sejam reconhecidas como possuidoras de grande potencial econômico pelos habitantes das áreas rurais da Amazônia onde ocorrem naturalmente, estas espécies ainda permanecem à margem do mercado. Essas sementes despertam interesses nas indústrias oleoquímicas, porque simplesmente aderem à velha filosofia do ecologicamente correto e socialmente justo, ou seja, as sementes são retiradas de áreas que são certificadas ou estão passando por processo de certificação. E as empresas dão prioridade às comunidades que estão cadastradas e que retiram a matéria-prima de forma sustentada. Desta forma valorizando as comunidades e respeitando a floresta.

Referências bibliográficas:

- Celestino Pesce. Oleaginosas da Amazônia. Belém, Oficinas Gráficas da Revista Veterinária, 1941.
- Jason W. Clay, Paulo de T. B. Sampaio & Charles R. Clement. Biodiversidade Amazônica: exemplos e estratégias de utilização. Manaus: Inpa-SEBRAE, 2000.
- Hamilton Almeida. Óleos amazônicos conquistam o mundo. Revista Química e Derivados n° 429, agosto 2004.

Parte 2 deste artigo: próximo sábado.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Excelente artigo. Estou pesquisando sobre óleos vegetais da Amazônia e este artigo me acrescentou muito!
Muito obrigado.

06/11/2013, 08:56  

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