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Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

03 novembro 2005

MIGRAÇÃO DE MÉDICOS DO TERCEIRO PARA O PRIMEIRO MUNDO

AMEAÇA À VIDA E À SAÚDE MUNDIAL

Na semana passada publicamos uma tradução de um artigo do The New York Times (PAISES EM DESENVOLVIMENTO: O ALTO CUSTO DA DRENAGEM DE "CÉREBROS") abordando os efeitos da migração de pessoas formadas nos países mais pobres em direção aos mais ricos. O Dr. Foster Brown (WHRC/UFAC/PZ/SETEM) me enviou nova reportagem do mesmo jornal mostrando o lado macabro desta migração. Acho importante traduzir o texto para que os leitores do blog possam ter uma melhor idéia dos efeitos nefastos desse movimento de “cérebros”.

Êxodo devastador de médicos da África e do Caribe

Devastating Exodus of Doctors From Africa and Caribbean Is Found
By Celia W. Dugger, The New York Times
Thursday 27 October 2005

Um novo estudo documentou pela primeira vez um êxodo devastador de médicos da África e do Caribe para quatro países ricos de língua inglesa EUA, Inglaterra, Canadá e Austrália. Uma das principais razões desta migração é o fato que estes países agora dependem de graduados formados no exterior para suprir 25% de sua demanda por médicos.
O estudo foi publicado na revista científica The New England Journal of Medicine e provavelmente vai alimentar um debate já acirrado sobre o papel que o mundo desenvolvido está tendo no enfraquecimento dos sistemas de saúde dos países africanos, já sobrecarregados com pandemias (AIDS) que diminuíram consideravelmente a expectativa de vida em alguns deles.
O Dr. Agyeman Akosa, diretor geral do sistema de saúde de Gana, disse em entrevista telefônica de Genebra, onde está atendendo um fórum da Organização Mundial de Saúde sobre a crise global de pessoal médico, que o sistema de saúde de seu país está em colapso não apenas porque o país está perdendo muitos médicos, mas porque está perdendo os melhores.
Temos pelo menos nove hospitais sem qualquer médico e pelo menos vinte hospitais com apenas um médico, que tem que se responsabilizar por áreas com 80.000 a 120.000 pessoas" diz o Dr. Akosa. Mulheres que apresentam problemas durante o parto têm sofrido terríveis seqüelas ou morrido porque faltam obstetras para auxiliar, diz ele.
O estudo demonstrou que Gana, com somente 6 médicos para cada 100.000
habitantes, perdeu 3 de cada 10 dos médicos (que o país pagou pela sua formação) para os EUA, Inglaterra, Canadá e Austrália, cada um deles com mais de 220 médicos para 100.000 habitantes.
O autor do artigo, Dr. Fitzhugh Mullan, professor de medicina e saúde pública na George Washington University, pesquisou em banco de dados dos quatro países para saber de onde os médicos estrangeiros tinham vindo. Ele diz que a ida de médicos de países pobres para aqueles quatro países ricos está mais relacionado com a deficiência que estes últimos têm de formar médicos em quantidade necessária do que com uma política deliberada visando à atração dos médicos. Os EUA, por exemplo, formam anualmente 17.000 médicos, mas existem 22.000 vagas para médicos residentes.
Na opinião do pesquisador, “uma das coisas mais importantes que os EUA deveriam fazer para favorecer a saúde mundial é, francamente, formar mais médicos nos EUA para trabalhar nos EUA”.
Os países mais prejudicados são países pequenos e médios da África e do Caribe. A pesquisa do Dr. Mullan verificou que a Jamaica por exemplo, perdeu 41% de seus médicos e o Haiti 35%, enquanto Gana perdeu 30% e a África do Sul, Etiópia e Uganda entre 14 e 19%.
Em um editorial que acompanha a publicação do artigo do Dr. Mullan, o Diretor do Centro de Equidade Global da Universidade de Harvard, Dr. Lincoln
C. Chen, e o Dr. Jô Ivey Boufford, professor de política de saúde da New York University, chamam esse êxodo de médicos treinados com recursos públicos dos países pobres de “roubo silencioso” por parte dos países mais ricos.
Os falidos sistemas de saúde pública dos países mais pobres, eles dizem, também ameaçam a saúde dos americanos tendo em vista os potenciais de ocorrência de pandemias como a gripe do frango e a SARS. Segundo eles, a proteção da população americana requer a detecção dos vírus e a interdição dos mesmos nos locais de origem.
Os líderes das áreas de saúde da África dizem que eles vão ter que reformar seus próprios sistemas, hoje extremamente deficientes. Dr. Francis Omaswa, que era Diretor Geral do sistema de saúde de Uganda até julho, disse que metade das vagas de médicos estavam sem ser preenchida e que a saída dos médicos do país não era a única causa. De acordo com ele, os médicos desempregados não conseguiam encontrar trabalho porque as vagas existentes não eram divulgadas de forma adequada.
O Dr. Omaswa, agora consultor especial da Organização Mundial de Saúde na área de recursos humanos, está ajudando a elaborar uma série de propostas sobre o que os países africanos e os desenvolvidos podem fazer para diminuir a crise de pessoal médico. “A África sozinha não pode resolver o problema”, diz o Dr. Omasawa.

Link para o artigo original do Dr. Fitzhugh Mullan:
The Metrics of the Physician Brain Drain
Fitzhugh Mullan, M.D.
The New England Journal, 353(17):1810-1818, October 27, 2005