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13 fevereiro 2006

SEMINÁRIO SOBRE QUEIMADAS:

CARTA DO PADRE PAULINO E DO FREI HEITOR TURRINI

Ave Maria!

São Paulo, 12 de fevereiro de 2006.

Caríssimo Sr. FOSTER BROWN

Sabemos da reunião tão importante para salvar a nossa floresta que é o pulmão da Terra. O nosso pensamento se estivéssemos presentes seria:

1. Evitar a derrubada, seja dos pequenos seja dos grandes e em parte do governo;

2. Ter meios, na hora certa, de evitar as derrubadas e as grandes queimadas, como por exemplo, o uso de helicópteros, equipes organizadas nos âmbitos federal (Ibama), estadual (Imac) e municipal;

3. Havendo as derrubadas e queimadas irregulares, não apenas aplicar multas que não servem para nada, mas tirar a posse da terra. A experiência passada que temos, muitas multas aplicadas serviram como moeda de troca para ajuda na eleição de um político;

4. O oxigênio é a base da nossa vida o qual nos é dado com abundância pela floresta amazônica. Portanto os países que mais emitem gás carbônico com suas fábricas e automóveis compensem tal agressão com investimentos em países e em organizações que preservam o meio-ambiente, de modo que a mata seja preservada. Ou seja, que a floresta dê lucro sem ser derrubada;

5. Com recursos estatais e dos países poluidores, se aumente o preço da borracha, para evitar o êxodo dos seringueiros para cidade, dar-lhe uma vida digna, conservar a mata e evitar o avanço da pecuária, sabendo que o seringueiros e os índios são os verdadeiros guardiões da floresta. Ao mesmo tempo faz-se necessário haver uma fiscalização na atividade da extração da borracha, pois com a melhora do preço pode acontecer que o seringueiro, tomado pela ilusão e a ganância do lucro fácil, acabe anelando a planta para aumentar a produção do látex ocasionando, conseqüentemente a morte da seringueira.

6. Ter em vista que a terra amazônica não tem vocação para a pecuária, pois se esgota facilmente;

7. O solo das terras degredadas e empobrecidas seja corrigido com técnicas apropriadas à região (uso de calcáreo, adubos orgânicos, adubos vegetais etc.) através de recursos do governo nacional, estrangeiro ou de entes não governamentais;

8. Conservar um preço bom e estável para a castanha, pois esta também favorece a permanência dos seringueiros na mata;

9. Pensar que a mata tem muitos segredos de remédios, dos quais, a maior parte não conhecemos e que valem muito mais que a mata derrubada; por exemplo, vale muito mais a proteína vegetal da castanheira, generosamente oferecida por centenas e centenas de anos, que a proteína animal produzida pelo gado exploração implica na destruição da mata;

10. Ampliar o investimento a projetos que viabilizem o uso de produtos da floresta (copaíba, açaí etc);

11. Ampliar o investimento em pesquisas sobre a biodiversidade;

12. A mata, além do oxigênio, fonte de vida, nos dá abundância da água, sem a qual, nossa existência é impossível. O grande tapete verde de 3 milhões de km quadrados, conserva as chuvas abundantes. As copas das árvores faz com que estas chuvas caiam de modo lento por sobre a terra restabelecendo as reservas hídricas que alimentam os inúmeros igarapés, lagos e rios. Isto faz da Amazônia uma das mais ricas reservas de água potável do planeta;

13. Estamos muito preocupados que se repita a grande seca de 2005 que tornou a mata, não um esperança, mas um barril de pólvora a incendiar tudo e destruir as fontes de riquezas do planeta Terra;

14. Formar conselhos do meio-ambiente nas esferas municipal, estadual e federal composto por membros da sociedade civil, do ministério público, de entidades não governamentais, dos poderes legislativo, judiciário e executivo, com a finalidade de ajudar na preservação do meio ambiente, na fiscalização de desmatamentos e queimadas e na proposta de soluções concretas e eficazes nos âmbitos local, estadual e federal.

Terminando, desejamos ardentemente que esta reunião abra pistas novas e encha o coração de esperança de que a floresta viverá e de que haverá vida nova neste planeta.

Atenciosamente

Frei Heitor Turrini & Frei Paulino Baldassarri