SECA 2006: MAIS UM ALERTA!
EM JANEIRO CHOVEU APENAS 60% DA MÉDIA ESPERADA!
NÍVEL DO RIO ACRE ESTÁ ABAIXO DO NORMAL E COM TENDÊNCIA A DIMINUIR AINDA MAIS!
O pesquisador Alejandro Fonseca, especialista em física da Universidade Federal do Acre, publicou no jornal A TRIBUNA de hoje, 02-02-2006, mais um artigo que aponta um provável desastre nesta próxima temporada de queimadas no Acre.
Os dados colhidos pelo pesquisador indicam que o mês de janeiro foi mais seco do que o habitual (mas não tão seco como janeiro de 2005). Considerando que existem mais de 250 mil hectares de florestas que foram afetadas pelo fogo descontrolado do ano passado e que o ano vai ser mais seco do que o normal, temos, teoricamente, uma situação explosiva que poderá resultar na ocorrência no Acre de grandes incêndios florestais, similares aos que ocorreram em Roraima em 1998 e que destruiram 30% da vegetação daquele Estado.
Embora não se possa falar em percentual, existe o potencial dos incêndios florestais em 2006 no Acre atingirem 5% da área do Estado, a maior parte áreas de florestas intocadas. Em 2005 o fogo atingiu cerca de 4% da área do Estado, incluindo tanto áreas alteradas como florestas virgens.
O relatório anual do INPE sobre queimadas e desmatamento que é publicado em setembro de cada ano vai dar muito o que falar quanto abordar a questão do Acre. É que em outubro passado, portanto depois da publicação do relatório 2005, se descobriu que mais de 250 mil hectares de florestas nativas do Acre foram afetadas pelo fogo. É bem provável que estas áreas alteradas sejam contabilizadas no relatório de 2006 como desmatamentos. Se isso ocorrer - e se as queimadas terminarem de destruir estas florestas - em um ano o Acre vai quadruplicar o desmatamento. Isto vai acontecer mesmo que o IMAC e IBAMA decidissem suspender autorizações de derrubadas por todo o ano de 2006!
Aos candidatos que pretendem usar os avanços na área ambiental como trunfo, informamos que o ano não é muito propício para esse tipo de aventura. Aliás, vai ter candidato a cargo público sem dormir e fazendo promessa para que a natureza mude o curso da história. Vai valer tudo, até tentar importar os pajés para fazer chover em setembro-outubro, quando a temperatura (política) atingir o seu ápice.
Uma pena que a discussão do modelo de desenvolvimento do Estado vai ocorrer em um ano atípico. Se o clima continuar como está, aqueles que defendem o desenvolvimento sustentável dos recursos florestais vão ficar "literalmente" sem argumentos pois na prática o que o povão vai ver é fumaça, queimadas, caminhões toreiros, pessoas com latas de água na cabeça, rio Acre secando, etc, enfim, somente coisas pouco agradáveis.
As equipes de marketing dos que discordam do atual modelo de desenvolvimento do Estado terão farto material para usar na campanha. Só não vale trazer de novo o Blairo Maggi e o Ivo Cassol - como aconteceu no ano passado.
Leia abaixo o artigo do professor Alejandro:
JANEIRO DE 2006 CLASSIFICA-SE DE MUITO SECO
Dr. Alejandro Fonseca DuarteCoordenador do Grupo de Estudos e Serviços Ambientais da Universidade Federal do Acre
Há um ano, em janeiro de 2005, testemunhamos um janeiro Extremamente Seco. Agora, neste 2006, passamos um janeiro Muito Seco. Deixaram de cair mais de 100 mm de chuvas. As chuvas tropicais podem se caracterizar pela sua grande variabilidade. Mas, em momentos de visíveis mudanças climáticas, tais sinais não devem passar sem comentário e até preocupação. Sobre tudo se pensarmos na falta de água em janeiro de 2005 e na severa seca que sofremos depois.
Desse ponto de vista estamos ante um sinal indicador de que a seca deste ano pode ter impacto igual ou pior do que a do ano anterior. Lembremos que as mudanças climáticas oferecem sinais locais, regionais e globais; e que no leste do Acre vem chovendo cada vez menos.
Como choveu em janeiro passado? Nos primeiros dez dias se acumulou apenas um décimo da média mensal das chuvas; até o dia 15, um quarto; e até o dia 20, um terço. Isso fez com que o acumulado total do mês ficasse em torno de 200 mm, 60 % da média. No vale do Juruá também choveu 60 % do esperado, só 140 mm. Uma anomalia negativa no comportamento das chuvas.
Em geral, o leste do Acre se manifestou entre normal e seco, o que se reflete no nível do rio Acre em vários sítios. Atualmente em Xapuri, menos de 7 m; em Brasiléia, menos de 6 m; e em Rio Branco, 10 m, aproximadamente; com tendência à diminuição.
A relativa recuperação das chuvas, na segunda quinzena, se deveu a uma formação de nuvens característica da época chuvosa que se posiciona passando pelo Acre e continua para o sudeste do Brasil, até o oceano Atlântico, no extremo do continente: a Zona de Convergência do Atlântico Sul. Em muitas oportunidades o sistema se posicionou mais ao norte ou mais ao leste, deixando-nos sem o benefício das chuvas.
Fevereiro é o mês que mais chove no Acre; até o dia 22, a insolação diária será maior e, em princípio, maior a probabilidade de chuvas. Daí para frente a insolação começa a diminuir para aproximarmos da estação seca. Para acompanhar o tempo, o clima e os recursos hídricos, estamos preenchendo adequadamente a distribuição das observações meteorológicas, em particular o monitoramento das chuvas. Começamos pelo município de Rio Branco, onde já funcionam, novos pontos pluviométricos nos bairros Rui Lino, Calafate, Novo Horizonte, Floresta, Bela Vista, Bosque ... ; em março, serão mais de 200 pluviômetros.
Neste janeiro, a estação meteorológica convencional da UFAC registrou 214 mm e a automática, 200 mm. No bairro Novo Horizonte as chuvas alcançaram 168 mm, no Calafate 223 mm, no Bosque 189 mm, no Rui Lino 202 mm.
Mais de mil pluviômetros serão distribuídos nos 22 municípios do Estado, até final deste ano. Possivelmente a maior cobertura de acompanhamento das chuvas na América do Sul; junto com isso, o caráter interdisciplinar dos conhecimentos, dos hábitos e habilidades que estão sendo desenvolvidos pelos estudantes da UFAC, do Colégio Barão do Rio Branco e de outros, envolvidos no projeto.
Um esforço maciço pela educação e a cultura das águas; tudo a ver com o nosso contexto de floresta tropical úmida, contribuindo com a sua preservação e com a elevação da qualidade de vida dos seus habitantes.
Link para o artigo original: JANEIRO DE 2006 CLASSIFICA-SE DE MUITO SECO, Jornal A TRIBUNA, 02-02-2006.
NÍVEL DO RIO ACRE ESTÁ ABAIXO DO NORMAL E COM TENDÊNCIA A DIMINUIR AINDA MAIS!
O pesquisador Alejandro Fonseca, especialista em física da Universidade Federal do Acre, publicou no jornal A TRIBUNA de hoje, 02-02-2006, mais um artigo que aponta um provável desastre nesta próxima temporada de queimadas no Acre.
Os dados colhidos pelo pesquisador indicam que o mês de janeiro foi mais seco do que o habitual (mas não tão seco como janeiro de 2005). Considerando que existem mais de 250 mil hectares de florestas que foram afetadas pelo fogo descontrolado do ano passado e que o ano vai ser mais seco do que o normal, temos, teoricamente, uma situação explosiva que poderá resultar na ocorrência no Acre de grandes incêndios florestais, similares aos que ocorreram em Roraima em 1998 e que destruiram 30% da vegetação daquele Estado.
Embora não se possa falar em percentual, existe o potencial dos incêndios florestais em 2006 no Acre atingirem 5% da área do Estado, a maior parte áreas de florestas intocadas. Em 2005 o fogo atingiu cerca de 4% da área do Estado, incluindo tanto áreas alteradas como florestas virgens.
O relatório anual do INPE sobre queimadas e desmatamento que é publicado em setembro de cada ano vai dar muito o que falar quanto abordar a questão do Acre. É que em outubro passado, portanto depois da publicação do relatório 2005, se descobriu que mais de 250 mil hectares de florestas nativas do Acre foram afetadas pelo fogo. É bem provável que estas áreas alteradas sejam contabilizadas no relatório de 2006 como desmatamentos. Se isso ocorrer - e se as queimadas terminarem de destruir estas florestas - em um ano o Acre vai quadruplicar o desmatamento. Isto vai acontecer mesmo que o IMAC e IBAMA decidissem suspender autorizações de derrubadas por todo o ano de 2006!
Aos candidatos que pretendem usar os avanços na área ambiental como trunfo, informamos que o ano não é muito propício para esse tipo de aventura. Aliás, vai ter candidato a cargo público sem dormir e fazendo promessa para que a natureza mude o curso da história. Vai valer tudo, até tentar importar os pajés para fazer chover em setembro-outubro, quando a temperatura (política) atingir o seu ápice.
Uma pena que a discussão do modelo de desenvolvimento do Estado vai ocorrer em um ano atípico. Se o clima continuar como está, aqueles que defendem o desenvolvimento sustentável dos recursos florestais vão ficar "literalmente" sem argumentos pois na prática o que o povão vai ver é fumaça, queimadas, caminhões toreiros, pessoas com latas de água na cabeça, rio Acre secando, etc, enfim, somente coisas pouco agradáveis.
As equipes de marketing dos que discordam do atual modelo de desenvolvimento do Estado terão farto material para usar na campanha. Só não vale trazer de novo o Blairo Maggi e o Ivo Cassol - como aconteceu no ano passado.
Leia abaixo o artigo do professor Alejandro:
JANEIRO DE 2006 CLASSIFICA-SE DE MUITO SECO
Dr. Alejandro Fonseca DuarteCoordenador do Grupo de Estudos e Serviços Ambientais da Universidade Federal do Acre
Há um ano, em janeiro de 2005, testemunhamos um janeiro Extremamente Seco. Agora, neste 2006, passamos um janeiro Muito Seco. Deixaram de cair mais de 100 mm de chuvas. As chuvas tropicais podem se caracterizar pela sua grande variabilidade. Mas, em momentos de visíveis mudanças climáticas, tais sinais não devem passar sem comentário e até preocupação. Sobre tudo se pensarmos na falta de água em janeiro de 2005 e na severa seca que sofremos depois.
Desse ponto de vista estamos ante um sinal indicador de que a seca deste ano pode ter impacto igual ou pior do que a do ano anterior. Lembremos que as mudanças climáticas oferecem sinais locais, regionais e globais; e que no leste do Acre vem chovendo cada vez menos.
Como choveu em janeiro passado? Nos primeiros dez dias se acumulou apenas um décimo da média mensal das chuvas; até o dia 15, um quarto; e até o dia 20, um terço. Isso fez com que o acumulado total do mês ficasse em torno de 200 mm, 60 % da média. No vale do Juruá também choveu 60 % do esperado, só 140 mm. Uma anomalia negativa no comportamento das chuvas.
Em geral, o leste do Acre se manifestou entre normal e seco, o que se reflete no nível do rio Acre em vários sítios. Atualmente em Xapuri, menos de 7 m; em Brasiléia, menos de 6 m; e em Rio Branco, 10 m, aproximadamente; com tendência à diminuição.
A relativa recuperação das chuvas, na segunda quinzena, se deveu a uma formação de nuvens característica da época chuvosa que se posiciona passando pelo Acre e continua para o sudeste do Brasil, até o oceano Atlântico, no extremo do continente: a Zona de Convergência do Atlântico Sul. Em muitas oportunidades o sistema se posicionou mais ao norte ou mais ao leste, deixando-nos sem o benefício das chuvas.
Fevereiro é o mês que mais chove no Acre; até o dia 22, a insolação diária será maior e, em princípio, maior a probabilidade de chuvas. Daí para frente a insolação começa a diminuir para aproximarmos da estação seca. Para acompanhar o tempo, o clima e os recursos hídricos, estamos preenchendo adequadamente a distribuição das observações meteorológicas, em particular o monitoramento das chuvas. Começamos pelo município de Rio Branco, onde já funcionam, novos pontos pluviométricos nos bairros Rui Lino, Calafate, Novo Horizonte, Floresta, Bela Vista, Bosque ... ; em março, serão mais de 200 pluviômetros.
Neste janeiro, a estação meteorológica convencional da UFAC registrou 214 mm e a automática, 200 mm. No bairro Novo Horizonte as chuvas alcançaram 168 mm, no Calafate 223 mm, no Bosque 189 mm, no Rui Lino 202 mm.
Mais de mil pluviômetros serão distribuídos nos 22 municípios do Estado, até final deste ano. Possivelmente a maior cobertura de acompanhamento das chuvas na América do Sul; junto com isso, o caráter interdisciplinar dos conhecimentos, dos hábitos e habilidades que estão sendo desenvolvidos pelos estudantes da UFAC, do Colégio Barão do Rio Branco e de outros, envolvidos no projeto.
Um esforço maciço pela educação e a cultura das águas; tudo a ver com o nosso contexto de floresta tropical úmida, contribuindo com a sua preservação e com a elevação da qualidade de vida dos seus habitantes.
Link para o artigo original: JANEIRO DE 2006 CLASSIFICA-SE DE MUITO SECO, Jornal A TRIBUNA, 02-02-2006.
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