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Na Web No BLOG AMBIENTE ACREANO

27 junho 2006

A CRISE NO MERCADO DE CARNE NO ACRE

Todos sabem que a derrubada da floresta nativa acreana e sua transformação em pastagem para a criação de gado tem sido um processo que vem sendo praticado de forma sistemática, às vezes intensiva, desde o final dos anos 60. Depois de décadas derrubando e derrubando, os fazendeiros passaram a ser vistos como vilões do desmatamento no Acre. E se consideraram injustiçados! Houve inclusive um tempo em que tudo e (quase) todos estavam ao lado deles: crédito fácil nos bancos oficiais, terra barata, apoio político.

Pois bem. Os tempos são outros. Vejam a tristeza que se abateu entre os "reis" do setor produtivo rural do Acre. Matadouros fechados, gado gordo no pasto sem compradores em vista. O verão se aproxima, o peso que o gado ganhou no inverno, ele vai perder agora nestes 3-4 meses de seca. Sei de fazendeiros que até tentaram se adiantar a uma possível repetição da seca do ano passado, colocando a venda o plantel em abril e maio. Mesmo arriscando perder dinheiro pois aquele não era o momento ideal para vender - excesso de oferta. Não apareceu comprador. Sei de outros investidores de São Paulo que possuem fazendas no Acre e que agora querem se desfazer de tudo, do gado e da terra.

De quem é a culpa?

Não tem nem clima para dizer que é do governo e suas leis ambientais radicais, que impedem novas derrubadas e proibem queima de pastos, uma prática pré-histórica usada na renovação das pastagens.

A culpa é da própria classe que, talvez, acostumada à prepotência e arrogância de achar que tudo pode, está enfrentado um problema fora de sua alçada: a aftosa. Vocês lembram? Aquele "fazendeiro" paranaense que comprou gado barato e infectado do Paraguai?

Oito meses depois, o Brasil não conseguiu reverter o veto externo à importação de carne brasileira. Reportagem da Folha de São Paulo tenta atribuir o embargo mais a interesses comercias do que sanitários. Pura balela. Não é possível que 58 países ainda mantenham o embargo à importação de carne brasileira usando como desculpa um suposto interesse comercial. Para que? Como sabemos, menos oferta no mercado internacional significa preços mais altos. Quem importa carne vai querer pagar mais caro?

Qual a consequência de tudo isso para o Acre? Para nós, os consumidores, significa que a carne não subiu ou vai subir de forma exagerada, mesmo agora na chegada do verão. Por outro lado, a crise do mercado exportador fez com que os produtores dos Estados que foram embargados (quase todos os Estados brasileiros) passassem a oferecer seu produto no mercado interno. Resultado: excesso de oferta e uma necessidade de diminuir a mesma para equilibrar os preços. A diminuição do abate se "abateu" de forma direta nos abatedouros e frigoríficos localizados nas regiões mais periféricas como o Acre.

Esta é a gênese da crise do mercado da carne no Acre. Não existem compradores. Bom para a conservação da nossa floresta, que pelo menos vai sofrer menos pressão nesta temporada de derrubadas de 2007. Bom para os consumidores, que não vão pagar caro pelo preço da carne. Bom para a classe dos fazendeiros, aqueles profissionais, que vivem da atividade.

É que os aventureiros e aqueles que se "acham" fazendeiros vão ser os primeiros a cair fora ou dar um tempo. Mas não vão perder a pose. Vão continuar a desfilar com os "carrões" cidade afora, como sempre fizeram. É que eles são os fazendeiros "assalariados" (empregados públicos) ou os "empresários" que vivem de licitações do governo. O dinheiro fácil que ganham eles "investem" em gado. Se antes perdiam dinheiro se passando por fazendeiros (e nem sabiam que perdiam), agora vão ter que buscar outra atividade para torrar o dinheiro.