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05 outubro 2006

JOÃO PEDRO STEDILE FALA PARA "CARTA MAIOR"

"A burguesia forçou o 2º turno; agora, o povo precisa se unificar em torno de Lula"

Apesar de ser um crítico ácido do que grande parte da esquerda brasileira tem considerado desvios programáticos do governo Lula, o economista João Pedro Stedile, membro da coordenação nacional do MST, alerta: o que está em jogo agora é o projeto político para o país.

SÃO PAULO – O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e, especialmente, João Pedro Stedile, membro da sua coordenação nacional, não podem ser acusados de condescendência com o governo Lula, apesar de suas ligações históricas com o PT. Nos quatro últimos anos, as ocupações de terra e ações do MST dobraram, partiram do movimento algumas das críticas mais ácidas à política econômica do ministro Palocci e, enquanto parte dos companheiros de luta, como os movimentos sindical e estudantil, saíram em defesa incondicional da reeleição do presidente, o MST se calou. Até agora.

Diante deste segundo turno - depois de quase ganhas as eleições no primeiro -, mais do que os nomes de Lula e Alckmin, avalia Stédile, o que está em jogo são dois diferentes projetos para o país. E o representado pelo candidato tucano definitivamente não agrada aos movimentos sociais, o que automaticamente leva à convocação das forças populares para a luta pela reeleição de Lula. Leia a seguir a entrevista de Stédile à Carta Maior

Carta Maior - Com o segundo turno, são duas as opções que se colocam para o país: Lula ou Alckmin. O que, em sua opinião, está em jogo agora? Duas visões diferentes de política, dois projetos distintos para o país, uma perspectiva distinta, dependendo do vencedor, para o avanço das lutas sociais?
João Pedro Stedile – Avalio que não se trata, neste momento, de julgar quem é o melhor nome. Trata-se de julgar que projeto interessa ao povo brasileiro. O que está em jogo agora é se as forças do capital financeiro, aliado ao capital internacional e às elites brasileiras, vão consolidar seu projeto ou não. Alckmin representa a retomada do poder pelas classes dominantes, para implementar de forma hegemônica o modelo neoliberal. Seria uma grande derrota para a classe trabalhadora e para o povo brasileiro. Lula representa uma composição de forças sociais, onde há também setores das oligarquias e da burguesia brasileira. Mas representa a possibilidade de transição para um projeto de desenvolvimento nacional. Por isso não tenho duvidas. Precisamos derrotar a candidatura Alckmin. Em relação às lutas sociais, todos conhecem a postura das elites brasileiras: sempre trataram o povo, desde o colonialismo, com o capitão do mato, na base da repressão.

CM –
Na campanha deste primeiro turno, houve uma retomada do discurso conservador, que, por vezes, se caracterizou nitidamente como luta de classe. Ao mesmo tempo, pouco se debateu os projetos concretos das diversas candidaturas, para que as diferenças ficassem mais claras. Como você avalia esse fenômeno?
JPS - A disputa real dos projetos políticos se dá na sociedade, e como somos uma sociedade de classes e extremamente desigual e injusta, evidentemente que os projetos precisam representar interesses de classe. Quando eles não representam ou se confundem, o processo eleitoral vira uma disputa apenas de cargos ou de grupos. Veja a situação que vivemos. No primeiro turno não houve debate, e, na prática, as candidaturas não defenderam projetos. Mas a burguesia brasileira não nos faltou, e agiu. Foi a classe dominante que, na reta final, deu um caráter de classe para a campanha, e se unificou em torno da candidatura Alckmin, quando percebeu que poderiam derrotar o Lula. Foi essa mudança e consciência de classe da burguesia que forçou o segundo turno, e ao mesmo tempo transformou a campanha do segundo turno numa campanha totalmente diferente do primeiro: agora, as candidaturas vão representar projetos de classe, ainda que difusos. A burguesia vai se unificar em torno Alckmin, e a classe trabalhadora, o povo, precisa se unificar em torno de Lula, independe de suas propostas.

CM - O MST, ao contrário de outras entidades, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a União Nacional dos Estudantes (UNE), não se pronunciou publicamente em defesa da candidatura de Lula no primeiro turno...
JPS - O MST tem como princípio manter a autonomia em relação a partidos, governo, Estado, igrejas. Isso significa que, enquanto organização, não tomamos decisões partidárias ou eleitorais. Mas como militantes sociais, temos a obrigação de participar ativamente da política brasileira, agirmos na política. A imensa maioria de nossa base e militância participou e optou individualmente pela candidatura Lula no primeiro turno. A marca dessas eleições, pelo menos no primeiro turno, no entanto, foi uma pasmaceira geral em função da falta de debate de projetos. E uma das causas desta imobilidade foi a forma como foi feita a campanha Lula: ainda privilegiou os marketeiros, a televisão, e não estimulou a participação da militância social. Por isso, pouquíssimos militantes dos movimentos sociais, e mesmo dos partidos, tiveram uma atuação ativa nessa campanha.

Clique aqui para ler a entrevista completa no site de Carta Maior