TAGUA E JARINA: O MARFIM VEGETAL AMERICANO
Uma breve história da ascensão e queda do marfim vegetal no mercado mundial
Pode acreditar! Esta jibóia ao lado é uma escultura feita a partir das sementes da Tagua, nome comum aplicado a algumas espécies de palmeiras nativas do Panamá e da costa do pacífico na Colômbia e Equador. As sementes de Tagua são extraídas de palmeiras pertencentes ao gênero Phytelephas, do qual também faz parte a nossa conhecida Jarina.
A maioria das sementes de Tagua exploradas comercialmente são provenientes das espécies Phytelephas aequatorialis (Equador), Phytelephas tumacana, Phytelephas macrocarpa ssp. schottii (Colômbia) e Phytelephas seemannii (Colômbia and Panamá). A Jarina (Phytelephas macrocarpa), muito comum no Acre, apresenta uma importante diferença de suas congêneres: as sementes são de tamanho muito menor.
Descoberta da utilidade da semente
Segundo os historiadores, a descoberta da utilidade das sementes de Tagua pelos europeus foi quase uma coincidência. Um navio que navegava da América do Sul para a Alemanha em 1865 levava como lastro um grande carregamento de sementes de Tagua. Ao chegar ao porto de Hamburgo, as sementes começaram a ser descartadas, mas os carregadores locais observaram que elas se pareciam muito com o marfim animal, então importado livremente da África. Esta similaridade é também a razão das sementes de Tagua e Jarina terem sido batizadas no mercado internacional como ivory -nut ou vegetable ivory.
O ciclo econômico de exploração das sementes de Tagua e Jarina que se seguiu durou cerca de cinqüenta anos e foi tão marcante que no Brasil e nos outros países produtores até hoje é comum se chamar a espécie de marfim vegetal, uma tradução literal do nome comercial em inglês.
Colômbia e Equador foram os principais exportadores
As primeiras estatísticas sobre a produção de Tagua são da Colômbia, no período de 1840-1841, quando ela significava uma pequena porcentagem das exportações daquele país.
Em fins de 1860, as exportações destas sementes já tinham se transformado em um dos cinco maiores produtos de exportação da Colômbia e do Equador. Entre 1875-1878, as exportações destas sementes representaram 3,1% das exportações totais da Colômbia. Na virada do século, as exportações destes dois paises para os Estados Unidos e a Europa atingiam mais de 40 mil toneladas anuais.
Para o Equador, a exportação de Tagua foi ainda mais importante e os primeiros registros de exportação das sementes deste país datam de 1865. Em 1929 as exportações do Equador atingiram 25.791 toneladas, que representam, em valores atualizados, cerca de U$ 15 milhões.
A fabricação de botões a partir das sementes de Tagua e Jarina representava um dos setores industriais mais importantes no final do século 19 e início do século 20. Em 1920, 20% de todos os botões produzidos nos Estados Unidos eram feitos de Tagua. A maioria das indústrias estavam localizadas nas cercanias da cidade de Nova Iorque, então um importante polo de produção têxtil.
Invenção do baquelite e de polímeros plásticos encerrou o ciclo econômico
Da mesma forma que ocorreu com muitos corantes e fibras têxteis naturais, o marfim vegetal foi substituido por produtos sintéticos mais baratos. Por volta de 1930, os primeiros materiais plásticos rudimentares, conhecidos como baquelite, começaram a substituir a Tagua como matéria-prima para a produção de botões.
As exportações da Colômbia começaram a declinar nos anos 20 e cessaram por completo em meados de 1935. No Equador, a produção continuou, mas as exportações declinaram depois de 1941, por ocasião da entrada dos Estados Unidos na Guerra, e desapareceram da pauta de exportação daquele país por volta de 1945. A descoberta de polímeros plásticos na década de 50 pôs um fim na demanda para as sementes e provocou o completo desaparecimento da indústria americana de botões de Tagua alguns anos depois.
Crédito das imagens: W.P. Armstrong, disponíveis no site Wayne's Word
Sugestões de leitura:
- Armstrong, W.P. 1991. Vegetable Ivory: Saving Elephants & South American Rain Forests. Zoonooz 64(9): 17-19.
- Armstrong, W.P. 1991. Beautiful Botanicals: Seeds For Jewelry. Ornament 15: 66-69
- Barfod, A. 1989. The rise and fall of the vegetable ivory. Principes 33(4): 181-190.
- Barfod, A., H. B. Pedersen & B. Bergman. 1990. The vegetable ivory is still alive and doing fine in Ecuador. Econ. Bot. 44(3): 293-400
- Dalling, J.W., K.I. Harms, J.R. Eberhard, and I. Candanedo. 1996. Natural History and Uses of Tagua (Phytelephas seemannii) in Panama. Principes 40(1): 16-23.
Uma breve história da ascensão e queda do marfim vegetal no mercado mundial
Pode acreditar! Esta jibóia ao lado é uma escultura feita a partir das sementes da Tagua, nome comum aplicado a algumas espécies de palmeiras nativas do Panamá e da costa do pacífico na Colômbia e Equador. As sementes de Tagua são extraídas de palmeiras pertencentes ao gênero Phytelephas, do qual também faz parte a nossa conhecida Jarina.
A maioria das sementes de Tagua exploradas comercialmente são provenientes das espécies Phytelephas aequatorialis (Equador), Phytelephas tumacana, Phytelephas macrocarpa ssp. schottii (Colômbia) e Phytelephas seemannii (Colômbia and Panamá). A Jarina (Phytelephas macrocarpa), muito comum no Acre, apresenta uma importante diferença de suas congêneres: as sementes são de tamanho muito menor.
Descoberta da utilidade da semente
Segundo os historiadores, a descoberta da utilidade das sementes de Tagua pelos europeus foi quase uma coincidência. Um navio que navegava da América do Sul para a Alemanha em 1865 levava como lastro um grande carregamento de sementes de Tagua. Ao chegar ao porto de Hamburgo, as sementes começaram a ser descartadas, mas os carregadores locais observaram que elas se pareciam muito com o marfim animal, então importado livremente da África. Esta similaridade é também a razão das sementes de Tagua e Jarina terem sido batizadas no mercado internacional como ivory -nut ou vegetable ivory.
O ciclo econômico de exploração das sementes de Tagua e Jarina que se seguiu durou cerca de cinqüenta anos e foi tão marcante que no Brasil e nos outros países produtores até hoje é comum se chamar a espécie de marfim vegetal, uma tradução literal do nome comercial em inglês.
Colômbia e Equador foram os principais exportadores
As primeiras estatísticas sobre a produção de Tagua são da Colômbia, no período de 1840-1841, quando ela significava uma pequena porcentagem das exportações daquele país.
Em fins de 1860, as exportações destas sementes já tinham se transformado em um dos cinco maiores produtos de exportação da Colômbia e do Equador. Entre 1875-1878, as exportações destas sementes representaram 3,1% das exportações totais da Colômbia. Na virada do século, as exportações destes dois paises para os Estados Unidos e a Europa atingiam mais de 40 mil toneladas anuais.
Para o Equador, a exportação de Tagua foi ainda mais importante e os primeiros registros de exportação das sementes deste país datam de 1865. Em 1929 as exportações do Equador atingiram 25.791 toneladas, que representam, em valores atualizados, cerca de U$ 15 milhões.
A fabricação de botões a partir das sementes de Tagua e Jarina representava um dos setores industriais mais importantes no final do século 19 e início do século 20. Em 1920, 20% de todos os botões produzidos nos Estados Unidos eram feitos de Tagua. A maioria das indústrias estavam localizadas nas cercanias da cidade de Nova Iorque, então um importante polo de produção têxtil.
Invenção do baquelite e de polímeros plásticos encerrou o ciclo econômico
Da mesma forma que ocorreu com muitos corantes e fibras têxteis naturais, o marfim vegetal foi substituido por produtos sintéticos mais baratos. Por volta de 1930, os primeiros materiais plásticos rudimentares, conhecidos como baquelite, começaram a substituir a Tagua como matéria-prima para a produção de botões.
As exportações da Colômbia começaram a declinar nos anos 20 e cessaram por completo em meados de 1935. No Equador, a produção continuou, mas as exportações declinaram depois de 1941, por ocasião da entrada dos Estados Unidos na Guerra, e desapareceram da pauta de exportação daquele país por volta de 1945. A descoberta de polímeros plásticos na década de 50 pôs um fim na demanda para as sementes e provocou o completo desaparecimento da indústria americana de botões de Tagua alguns anos depois.
Entretanto, a produção de botões no Equador nunca cessou por completo. Ainda hoje podem ser encontradas pequenas indústrias produzindo discos não beneficiados que são exportados para o Japão, Alemanha e Itália para a fabricação de botões.
Atualmente a maior utilidade das sementes de Tagua e de Jarina é a confecção de objetos artesanais, especialmente pequenas esculturas, e biojóias.Crédito das imagens: W.P. Armstrong, disponíveis no site Wayne's Word
Sugestões de leitura:
- Armstrong, W.P. 1991. Vegetable Ivory: Saving Elephants & South American Rain Forests. Zoonooz 64(9): 17-19.
- Armstrong, W.P. 1991. Beautiful Botanicals: Seeds For Jewelry. Ornament 15: 66-69
- Barfod, A. 1989. The rise and fall of the vegetable ivory. Principes 33(4): 181-190.
- Barfod, A., H. B. Pedersen & B. Bergman. 1990. The vegetable ivory is still alive and doing fine in Ecuador. Econ. Bot. 44(3): 293-400
- Dalling, J.W., K.I. Harms, J.R. Eberhard, and I. Candanedo. 1996. Natural History and Uses of Tagua (Phytelephas seemannii) in Panama. Principes 40(1): 16-23.
6 Comments:
gostei muito do seu artigo sobre a Jarina (tagua). Gostaria de saber se vc viu algum argigo sobre a produção de tagua e o impacto nos pequenos produtores..eu acabei de voltar do Equador e vi (diga-se: pesquisa de campo) situaçoes curiosas, mas registros tem poucos (falo do interiorzão mesmo!) se tiver alguma outra informação, podemos entrar em contato? ogrigada de antemão :-) Elsa I.C.Romero
Visitei resentemente o Equador e a Colombia e me encantei com a semente de tagua. Como sua utilização e predominantemente para o artesanato e bijouterias, gostaria de saber como se processa a inclusão de cores tão variadas na semente de tagua.
Visitei resentemente o Equador e a Colombia e me encantei com a semente de tagua. Como sua utilização e predominantemente para o artesanato e bijouterias, gostaria de saber como se processa a inclusão de cores tão variadas na semente de tagua.
Geralmente se faz o tingimento colocando as sementes em uma panela com água+o corante que se pretende. Dai aquece por um tempo e a cor é fixada.
Olá.
Gostei muito dos seu artigo Sobre a jarina.
O senhor conheçe algúem que fsçs trabalhos de biojoias com essa planta?
olá.
Gostei muito do seu artigo.
me chamo Rayane,trabalho para empresa Amorim,gostaria de saber como faço para comprar sementes de jarina.
cel; 73 998017149 meu numero de contato , se poder entrar em contato , agradeço bastante.
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