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05 novembro 2007

E OS PARENTES MAIS PRÓXIMOS DOS MACACOS? QUEM SÃO?

Estudo finalmente pôs fim à polêmica e às especulações: os animais mais próximos dos primatas são os colugos (Cynocephalus variegatus), também conhecidos como lêmures-voadores. Apesar do nome, esses mamíferos arbóreos do sudeste asiático não são lêmures legítimos, nem voam.

Primo inusitado

05/11/2007

Agência FAPESP – Quem são os parentes mais próximos dos primatas? Até agora o debate científico sobre essa questão gerava mais polêmicas que respostas. Mas uma análise genômica feita por um grupo internacional de pesquisadores colocou fim às especulações: os animais mais próximos dos primatas são os colugos (Cynocephalus variegatus). O estudo foi publicado na edição desta sexta-feira (2/11) da revista Science.

Também conhecidos como lêmures-voadores, esses mamíferos arbóreos do sudeste asiático não são lêmures, nem voam. Mas o principal traço distintivo desses animais, cuja aparência lembra a de um grande esquilo, é a membrana que se estende entre seus membros, dando-lhes a capacidade de planar entre os galhos das árvores.

A equipe coordenada por Jan Janečka, do departamento de Biociências Veterinárias da Universidade A&M, do Texas (Estados Unidos), comparou o indel (tipo de variação de seqüências de DNA, onde uma unidade foi inserida ou apagada do genoma) dos três membros do ramo dos Euarcontes – primatas, colugos e musaranhos – com o de outras 30 espécies de mamíferos.

Os primatas e os colugos compartilham sete dessas raras mudanças genéticas, enquanto outras espécies de mamíferos compartilhavam no máximo um indel com os primatas. Um dos co-autores do estudo, William Murphy, qualifica essas mudanças como “assinaturas históricas de relacionamentos”.

No segundo estágio da pesquisa, os cientistas utilizaram programas de computador para comparar as semelhanças e diferenças entre 13 mil pares de bases de DNA de cinco ordens próximas – os membros do grupo dos Euarcontes (primatas, dermópteros e scandentia) e as ordens dos roedores e dos lagomorfos (que inclui coelhos e lebres).

Novamente, os dados computacionais revelaram que os colugos e os primatas eram os parentes mais próximos. Segundo a equipe, a descoberta indica que os colugos deveriam ser incluídos na lista de animais prioritários para um seqüenciamento genômico completo.

De acordo com os cientistas, desde 1999, os três grupos – primatas, scandentia e dermópteros – eram reconhecidos como uma só unidade taxonômica – um agrupamento de mamíferos conhecidos como Euarconta (etimologicamente, “verdadeiros ancestrais”).

As relações evolucionárias exatas entre os três grupos de Euarcontes eram inferidas por sua proximidade geral e pela existência de um certo número de características compartilhadas entre os grupos.

Para os pesquisadores, o estudo atual sugere a confirmação de uma das hipóteses levantadas a partir das conclusões de 1999: de que colugos e primatas seriam um só grupo: os primatomorfos, que se separaram durante a evolução de um ancestral comum com os musaranhos – animais também originários do sudeste asiático.

O primeiro passo para testar a hipótese, segundo os cientistas, foi provar, a partir de uma abordagem molecular – que os Euarcontes eram um grupo evolucionário válido, proveniente de uma única linhagem ancestral.

A equipe estudou mais de 197 mil éxons – áreas do genoma humano que codificam proteínas – procurando inserções ou eliminações (variações conhecidas como “indel”), que são mudanças genéticas raras. A equipe encontrou forte evidência para validação do agrupamento dos Euarcontes.

Em seguida, os pesquisadores analisaram as raras mudanças genéticas para ver como elas eram compartilhadas entre os três grupos. “Em resumo, podemos dizer que esses dados moleculares sugerem fortemente que os colugos são um grupo irmão dos primatas”, disse outro dos co-autores, Webb Miller, professor da Universidade Estadual Penn. “Primatomorfo é um termo válido e a hipótese foi bem sustentada pelos dados de indel”, declarou.

Com base nos dados, ele afirma que é provável que os Euarcontas tenham emergido como um grupo taxonômico distinto há 87,9 milhões de anos – durante o auge da era dos dinossauros, mais de 20 milhões de anos antes de sua extinção.

“Essa divergência fundamental foi seguida com relativa rapidez pela separação, há 86,2 milhões de anos, entre o grupo scandentia – que inclui os musaranhos e seus parentes – e o grupo dos primatomorfos – que inclui primatas e alguns mamíferos planadores (dermópteros)”, disse Miller.

No grupo dos primatomorfos, a divisão entre primatas e dermópteros aconteceu há 79,6 milhões de anos, segundo os cientistas. Essa rápida divergência evolucionária deixou períodos de tempo relativamente curtos para o acúmulo de diferenças genéticas – por isso a equipe de cientistas precisou utilizar duas abordagens diferentes.

O artigo Molecular and Genomic Data Identify the Closest Living Relative of Primates, de Jan Janečka e outros, pode ser lido por assinantes da em www.sciencexpress.org