MUDANÇAS CLIMÁTICAS E OS PAÍSES POBRES
Rafael Sampaio, da PrimaPagina,
PNUD Brasil, Boletim nº 472
Os habitantes de países pobres correm risco muito maior de ser vítimas de catástrofes climáticas do que os de países com renda elevada, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano 2007/2008 do PNUD, intitulado “Combater a mudança do clima: solidariedade humana em um mundo dividido”.
Com base em dados do Escritório de Ajuda a Desastres no Exterior, ligado ao governo norte-americano, o estudo conclui que o impacto nas nações pobres é 78 vezes maior: a cada 19 moradores de países em desenvolvimento, 1 foi vítima de tragédias como secas, tsunamis e furacões entre 2000 e 2004. Nos países desenvolvidos, o número é de 1 a cada 1.500.
"Em muitos países, a pobreza está intimamente ligada à contínua exposição aos riscos climáticos", diz o texto do PNUD. Pelo menos 108 milhões de pessoas já foram afetadas por inundações no leste e no sul da Ásia, e 10 milhões foram vítimas da secas na África Subsaariana. Em 2007, mais de 21 milhões de pessoas ficaram desabrigadas e mil morreram devido às tempestades ocorridas em Bangladesh e na Índia.
O relatório observa que o risco de desastres naturais afeta todos os países, mas os mais pobres são especialmente vulneráveis, devido às desigualdades internas, às economias frágeis e ao baixo desenvolvimento humano. “Dois bilhões de pessoas — 40% da população do mundo — vivem com menos de US$ 2 ao dia e estão intrinsecamente vulneráveis [aos desastres naturais], porque têm menos recursos para enfrentá-los”, afirma o estudo. A pobreza diminui as chances de recuperação depois de um desastre e potencializa a falta de infra-estrutura para proteção às mudanças climáticas.
“Elevados níveis de dependência econômica na agricultura, média de rendimentos mais baixa, condições ecológicas já frágeis e a localização em áreas tropicais que enfrentam padrões climáticos mais extremos são, todos eles, fatores de vulnerabilidade”, exemplifica o texto. “O Japão enfrenta uma maior exposição a riscos associados a ciclones e inundações do que as Filipinas. No entanto, entre 2000 e 2004, a média de fatalidades chegou a 711 nas Filipinas contra apenas 66 no Japão”, compara o RDH.
A desigualdade social também eleva a vulnerabilidade às alterações climáticas e faz com que os efeitos sejam maiores do que em sociedades mais homogêneas, segundo o relatório. A Guatemala, por exemplo, tem IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,689, maior do que o da Índia e da África do Sul. Entretanto, o país é marcado por grandes disparidades internas entre as populações nativas e os descendentes dos colonizadores. A subnutrição entre os indígenas é o dobro da registrada nos não-indígenas. “Quando o Furacão Stan atingiu as terras altas do oeste da Guatemala, em 2005, seu impacto foi maior nos indígenas, na maioria camponeses de subsistência ou agricultores. A perda de cereais básicos, o esgotamento das reservas alimentares e a queda das oportunidades de emprego ampliaram os graves níveis de pobreza, com as desigualdades criando uma barreira para a recuperação”, diz o estudo.
O documento do PNUD salienta também que mulheres correm mais riscos com os desastres climáticos. Segundo o RDH, as desvantagens históricas das mulheres – o seu acesso limitado a recursos, a restrição de direitos e a falta de voz na formulação de decisões – tornam-nas altamente vulneráveis às alterações climáticas.
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