AGRICULTURA ITINERANTE E URBANIZAÇÃO NA AMAZÔNIA BRASILEIRA
Resiliência dos sistemas indígenas de agricultura itinerante em contexto de urbanização no noroeste da Amazônia brasileira
Revista Confins, Número 2, 1° semestre 2008
Ludivine Eloy, CIRAD UMR Tetis, Campus international de Baillarguet, 34398, Montpellier, France (ludivine.eloy@cirad.fr)
Este artigo identifica as bases agroeconômicas e as praticas territoriais que explicam a resiliência dos sistemas indígenas de agricultura itinerante em função das transformações ocorridas com a rápida urbanização da Amazônia, sobretudo com as mudanças das regras locais de apropriação dos recursos naturais.
Utilizando o exemplo da zona periurbana de uma pequena cidade da Amazônia ocidental do Brasil (São Gabriel da Cachoeira, veja figura ao lado), foram analisadas a diferenciação espaço-temporal dos três principais sistemas de cultivo após corte e queima, e comparamos seus resultados agroeconômicos.
Os dados foram obtidos a partir da análise espacial das dinâmicas de paisagem e de um conjunto de entrevistas entrevistas com famílias de agricultores selecionadas através de uma dupla amostragem.
Na região, encontramos três principais ecossistemas. As áreas de caatinga, formada em podzóis hidromórficos, assim como o igapó, sazonalmente inundado, não são cultivados. Na terra firme, os solos cultiváveis (oxisols e ultisols) são oligotróficos e ácidos (figura abaixo).
Conclusão
Nas regiões de florestas tropicais e, sobretudo na Amazônia, a oposição conceitual entre cidade e floresta remete geralmente a dois principais regimes de apropriação de recursos naturais e terras: a propriedade privada de um lado, e o usufruto coletivo do outro.
De fato, estas normas induzem transformações na composição e nas funções atribuídas às parcelas cultivadas e às capoeiras. No entanto, as famílias indígenas das regiões urbanizadas do alto Rio Negro apresentam sistemas de migração e territorialidades em rede, ou seja, articulam diferentes locais de vida e modalidades de apropriação dos recursos naturais, aproveitando os direitos fundiários adquiridos ao longo da trajetória migratória.
As estratégias familiares de diversificação atendem objetivos simultâneos: a segurança alimentar e a obtenção de mercadorias, mas também a capitalização fundiária ao redor de uma residência urbana relativamente fixa.
A mobilidade entre os diferentes sítios de produção permite manter a complementariedade espaço-temporal entre os sistemas de cultivo, o que contribui para a sustentabilidade ecológica e econômica da agricultura de corte e queima.
Considerando as taxas de urbanização na Amazônia, a multilocalidade dos domínios residenciais e produtivos pode-se orientar os planos de manejo integrado dos recursos naturais. Esta alternativa depende de uma vontade política de melhorar os transportes, de garantir a segurança fundiária para as áreas agrícolas periurbanas, e de tomar em consideração o papel das práticas indígenas de manejo agroflorestal no ordenamento territorial.
Além do mais, sabe-se que a conservação da biodiversidade em diferentes escalas espaciais, fator essencial do funcionamento do ecossistema florestal, depende da manutenção de tempos de pousio bastante longos, assim como da diversidade e da conectividade das unidades de paisagem cultivadas ou não (Finegan et Nasi, 2004; Jackson et al; 2007). Assim, pode-se supor que as inovações que levam à conservação da heterogenidade do mosaico de paisagem no espaço periurbano permitem limitar o processo de erosão da biodiversidade.
Para confirmar está hipótese, é preciso determinar as funções e os valores da agrobiodiversidade, no intuito de entender como conservá-la dentro de um mosaico de paisagem que resulta da coexistência de diversas formas de uso e apropriação dos recursos naturais.
Portanto, é preciso aprofundar nossos conhecimentos sobre as interações entre a evolução das práticas de gestão dos processos ecológicos, a repartição espacial da agrobiodiversidade, e as redes de circulação dos recursos fitogenéticos entre os espaços urbanos, periurbanos e florestais. Além da conservação dos recursos biológicos propriamente dita, o desafio é a melhor compreensão das dinâmicas dos sistemas locais de manejo dos ecosistemas amazônicos.
Clique aqui para ler o artigo na íntegra
Revista Confins, Número 2, 1° semestre 2008
Ludivine Eloy, CIRAD UMR Tetis, Campus international de Baillarguet, 34398, Montpellier, France (ludivine.eloy@cirad.fr)
Este artigo identifica as bases agroeconômicas e as praticas territoriais que explicam a resiliência dos sistemas indígenas de agricultura itinerante em função das transformações ocorridas com a rápida urbanização da Amazônia, sobretudo com as mudanças das regras locais de apropriação dos recursos naturais.
Utilizando o exemplo da zona periurbana de uma pequena cidade da Amazônia ocidental do Brasil (São Gabriel da Cachoeira, veja figura ao lado), foram analisadas a diferenciação espaço-temporal dos três principais sistemas de cultivo após corte e queima, e comparamos seus resultados agroeconômicos.
Os dados foram obtidos a partir da análise espacial das dinâmicas de paisagem e de um conjunto de entrevistas entrevistas com famílias de agricultores selecionadas através de uma dupla amostragem.
Na região, encontramos três principais ecossistemas. As áreas de caatinga, formada em podzóis hidromórficos, assim como o igapó, sazonalmente inundado, não são cultivados. Na terra firme, os solos cultiváveis (oxisols e ultisols) são oligotróficos e ácidos (figura abaixo).
Conclusão
Nas regiões de florestas tropicais e, sobretudo na Amazônia, a oposição conceitual entre cidade e floresta remete geralmente a dois principais regimes de apropriação de recursos naturais e terras: a propriedade privada de um lado, e o usufruto coletivo do outro.
De fato, estas normas induzem transformações na composição e nas funções atribuídas às parcelas cultivadas e às capoeiras. No entanto, as famílias indígenas das regiões urbanizadas do alto Rio Negro apresentam sistemas de migração e territorialidades em rede, ou seja, articulam diferentes locais de vida e modalidades de apropriação dos recursos naturais, aproveitando os direitos fundiários adquiridos ao longo da trajetória migratória.
As estratégias familiares de diversificação atendem objetivos simultâneos: a segurança alimentar e a obtenção de mercadorias, mas também a capitalização fundiária ao redor de uma residência urbana relativamente fixa.
A mobilidade entre os diferentes sítios de produção permite manter a complementariedade espaço-temporal entre os sistemas de cultivo, o que contribui para a sustentabilidade ecológica e econômica da agricultura de corte e queima.
Considerando as taxas de urbanização na Amazônia, a multilocalidade dos domínios residenciais e produtivos pode-se orientar os planos de manejo integrado dos recursos naturais. Esta alternativa depende de uma vontade política de melhorar os transportes, de garantir a segurança fundiária para as áreas agrícolas periurbanas, e de tomar em consideração o papel das práticas indígenas de manejo agroflorestal no ordenamento territorial.
Além do mais, sabe-se que a conservação da biodiversidade em diferentes escalas espaciais, fator essencial do funcionamento do ecossistema florestal, depende da manutenção de tempos de pousio bastante longos, assim como da diversidade e da conectividade das unidades de paisagem cultivadas ou não (Finegan et Nasi, 2004; Jackson et al; 2007). Assim, pode-se supor que as inovações que levam à conservação da heterogenidade do mosaico de paisagem no espaço periurbano permitem limitar o processo de erosão da biodiversidade.
Para confirmar está hipótese, é preciso determinar as funções e os valores da agrobiodiversidade, no intuito de entender como conservá-la dentro de um mosaico de paisagem que resulta da coexistência de diversas formas de uso e apropriação dos recursos naturais.
Portanto, é preciso aprofundar nossos conhecimentos sobre as interações entre a evolução das práticas de gestão dos processos ecológicos, a repartição espacial da agrobiodiversidade, e as redes de circulação dos recursos fitogenéticos entre os espaços urbanos, periurbanos e florestais. Além da conservação dos recursos biológicos propriamente dita, o desafio é a melhor compreensão das dinâmicas dos sistemas locais de manejo dos ecosistemas amazônicos.
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