ACRE: NA FALTA DA CACHAÇA COMUM, O JEITO É TOMAR UMA DOSE DE 'TAMPA AZUL'
O Acre é um dos únicos estados do Brasil que não produz cachaça. Por esta razão, muitos habitantes do interior que apreciam bebidas alcoólicas consomem de tudo, até álcool de farmácia
Alguns anos atrás, Alceu Ranzi, pesquisador da UFAC, já tinha feito a observação de que o 'nome de guerra' do álcool de farmácia, ingerido como bebida alcoólica no interior do Acre, era 'tampa azul'.
Ele lembrou que o Acre é um dos poucos estados brasileiros que não produz cachaça. Nem de forma artesanal. Sem querer fazer apologia para o consumo de bebida alcoólica, ele até sugeriu que o governo incentivasse a produção artesanal.
A idéia faz sentido. Quem sabe não haveria uma diminuição no consumo de 'tampa azul'?
Leia abaixo o artigo do Prof. Alceu, publicado originalmente na edição de 31/10 a 06/11/2004 do Jornal 'O Estado':
Cachaça
Por Alceu Ranzi
O Brasil tem séculos de tradição em produzir cachaça a partir da cana de açúcar. É um dos destilados mais consumidos no mundo
A cachaça foi designada bebida brasileira pelo Decreto nº 4.062, de 21 de dezembro de 2001, assinado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso. O nome “cachaça” está registrado internacionalmente como indicativo do produto de nosso país. “A cachaça é nossa!”. Cachaça é do Brasil! O mesmo se aplica ao champagne. Só pode receber o nome de champagne o “vinho espumante” produzido na região de Champagne, na França.
Em nosso país está em andamento o Programa de Melhoria da Qualidade da Cachaça, com a parceria do Sebrae. Visa incentivar os pequenos produtores a melhorarem o seu produto. O Programa “apóia a busca de financiamento, oferece assessoria técnica e tecnológica, incentiva à preservação ambiental e fomenta o turismo rural”.
A cachaça é produzida em quase todos os estados brasileiros - é a segunda bebida mais consumida no País, atrás apenas da cerveja. “Estima-se que existam mais de cinco mil marcas, incluídas as dos pequenos alambiques, fabricadas por cerca de 30 mil produtores”. Todos os anos são exportados milhões de litros. Além dos consumidores brasileiros, a cachaça é apreciada em vários países do mundo.
Cana de açúcar no Acre é sinônimo de caldo de cana. Tanto nas cidades, como ao longo das rodovias vemos placas de “caldo de cana”. Porém no Acre existe também a tradição de produção de rapadura, açúcar gramixó, alfinin e mel de cana. Isto revela a origem nordestina de nosso povo. Com um pouco de incentivo os produtores do Acre poderiam produzir cachaça branquinha da boa, pois no nordeste brasileiro, nos alambiques ou “engenhos de cana”, cachaça também é produzida no “sítio”.
Digo tudo isto para lembrar que talvez o Acre seja um dos poucos estados brasileiros que não produz cachaça. Embora uma tradição brasileira de mais de 300 anos, não tenho informação de que se produza cachaça no Acre. Quase toda a cachaça consumida no Acre, provém de destilarias de São Paulo. Não deixa de ser uma transferência de recursos para o estado mais rico da federação. Os mesmos recursos poderiam irrigar o sistema produtivo acreano.
E o pior, nos altos rios, no interiorzão do Acre, ao invés de cachaça consome-se o “tampa azul”. Uma tragédia.....um caso de saúde pública. Tampa azul é a denominação dada ao álcool industrial. As festas “no seringal” são movidas a “tampa azul” com leite condensado ou puro. Uma tristeza. Se os moradores de seringal apreciam “o tampa azul” é por uma questão de hábito, preço ou pela falta de uma boa cachaça artesanal de alambique.
O Governo do Acre, em parceria com outros órgãos, poderia aproveitar o momento do Programa Nacional de Melhoria da Qualidade da Cachaça, para incentivar a instalação de pequenas unidades produtoras de “caninha” no Acre. Seria mais uma forma de aumentar a renda dos nossos agricultores.
Não estou fazendo a apologia do consumo de álcool ou de cachaça. Nem sou um “expert” no assunto. Mas alguém sabe qual o consumo de cachaça no Acre? Esta mesma cachaça poderia ser produzida nos locais de consumo, gerando impostos, emprego, renda e evitando o custo de transporte desde o sul do País.
E qual o consumo de álcool no Acre? Nem todo o álcool vai para hospitais, casas de saúde ou para serviços de limpeza. Parte do álcool adquirido pelos atacadistas do Acre é revendido para consumo em substituição da cachaça.
Vai aí uma “branquinha” acreana? Ou ainda estamos na “cocal” ou uma “tampa azul”?
Alguns anos atrás, Alceu Ranzi, pesquisador da UFAC, já tinha feito a observação de que o 'nome de guerra' do álcool de farmácia, ingerido como bebida alcoólica no interior do Acre, era 'tampa azul'.
Ele lembrou que o Acre é um dos poucos estados brasileiros que não produz cachaça. Nem de forma artesanal. Sem querer fazer apologia para o consumo de bebida alcoólica, ele até sugeriu que o governo incentivasse a produção artesanal.
A idéia faz sentido. Quem sabe não haveria uma diminuição no consumo de 'tampa azul'?
Leia abaixo o artigo do Prof. Alceu, publicado originalmente na edição de 31/10 a 06/11/2004 do Jornal 'O Estado':
Cachaça
Por Alceu Ranzi
O Brasil tem séculos de tradição em produzir cachaça a partir da cana de açúcar. É um dos destilados mais consumidos no mundo
A cachaça foi designada bebida brasileira pelo Decreto nº 4.062, de 21 de dezembro de 2001, assinado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso. O nome “cachaça” está registrado internacionalmente como indicativo do produto de nosso país. “A cachaça é nossa!”. Cachaça é do Brasil! O mesmo se aplica ao champagne. Só pode receber o nome de champagne o “vinho espumante” produzido na região de Champagne, na França.
Em nosso país está em andamento o Programa de Melhoria da Qualidade da Cachaça, com a parceria do Sebrae. Visa incentivar os pequenos produtores a melhorarem o seu produto. O Programa “apóia a busca de financiamento, oferece assessoria técnica e tecnológica, incentiva à preservação ambiental e fomenta o turismo rural”.
A cachaça é produzida em quase todos os estados brasileiros - é a segunda bebida mais consumida no País, atrás apenas da cerveja. “Estima-se que existam mais de cinco mil marcas, incluídas as dos pequenos alambiques, fabricadas por cerca de 30 mil produtores”. Todos os anos são exportados milhões de litros. Além dos consumidores brasileiros, a cachaça é apreciada em vários países do mundo.
Cana de açúcar no Acre é sinônimo de caldo de cana. Tanto nas cidades, como ao longo das rodovias vemos placas de “caldo de cana”. Porém no Acre existe também a tradição de produção de rapadura, açúcar gramixó, alfinin e mel de cana. Isto revela a origem nordestina de nosso povo. Com um pouco de incentivo os produtores do Acre poderiam produzir cachaça branquinha da boa, pois no nordeste brasileiro, nos alambiques ou “engenhos de cana”, cachaça também é produzida no “sítio”.
Digo tudo isto para lembrar que talvez o Acre seja um dos poucos estados brasileiros que não produz cachaça. Embora uma tradição brasileira de mais de 300 anos, não tenho informação de que se produza cachaça no Acre. Quase toda a cachaça consumida no Acre, provém de destilarias de São Paulo. Não deixa de ser uma transferência de recursos para o estado mais rico da federação. Os mesmos recursos poderiam irrigar o sistema produtivo acreano.
E o pior, nos altos rios, no interiorzão do Acre, ao invés de cachaça consome-se o “tampa azul”. Uma tragédia.....um caso de saúde pública. Tampa azul é a denominação dada ao álcool industrial. As festas “no seringal” são movidas a “tampa azul” com leite condensado ou puro. Uma tristeza. Se os moradores de seringal apreciam “o tampa azul” é por uma questão de hábito, preço ou pela falta de uma boa cachaça artesanal de alambique.
O Governo do Acre, em parceria com outros órgãos, poderia aproveitar o momento do Programa Nacional de Melhoria da Qualidade da Cachaça, para incentivar a instalação de pequenas unidades produtoras de “caninha” no Acre. Seria mais uma forma de aumentar a renda dos nossos agricultores.
Não estou fazendo a apologia do consumo de álcool ou de cachaça. Nem sou um “expert” no assunto. Mas alguém sabe qual o consumo de cachaça no Acre? Esta mesma cachaça poderia ser produzida nos locais de consumo, gerando impostos, emprego, renda e evitando o custo de transporte desde o sul do País.
E qual o consumo de álcool no Acre? Nem todo o álcool vai para hospitais, casas de saúde ou para serviços de limpeza. Parte do álcool adquirido pelos atacadistas do Acre é revendido para consumo em substituição da cachaça.
Vai aí uma “branquinha” acreana? Ou ainda estamos na “cocal” ou uma “tampa azul”?
2 Comments:
Será que a cana produzida no solo acreano é viavel para a producao de cachaca
Sou o ligeirinho do acre e tenho um pequeno alambique de cachaca, e sinto na pele o descaso e falta de apoio para financiar o empreendimento, produzo cChaca boa que não dá ressaca, mas, são muitos os gargalos a enfrentar e não conto com apoio para o ramo da cachaca.
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